Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Espera, por Gabriel Novis Neves

30 de set. de 2014

Espera, por Gabriel Novis Neves


Os profissionais da “espera” são muitos. Dentre eles: pescadores, caçadores, médicos parteiros. 
O médico parteiro, no entanto, tem um grande e divino diferencial: espera pacienciosamente para receber e aparar uma nova vida. 
A chegada de um novo ser é o maior espetáculo da natureza do qual o homem pode participar.  Lindo e incomparável, excita nossas emoções e propicia uma ampla reflexão sobre o futuro, se isso fosse possível. 
Quantos produtos de solitárias e longas horas de espera foram transformados em verdadeiros benfeitores da humanidade? 
O trabalho de espera é para poucos neste mundo atual da velocidade e de resultados instantâneos. 
Por isso, esses “esperadores” estão desaparecendo no competitivo mercado de trabalho da velocidade e, no caso da obstetrícia, cedendo lugar aos “fazedores” de cesariana com data marcada. 
Entretanto, não nos esqueçamos de que existem outras formas de espera. 
Como nos versos de Camões. Jacó esperou sete anos fazendo trabalhos forçados de pastor para Labão, pai de Raquel, serrana bela que pretendia para se casar. Assim que terminaram esses intermináveis anos de espera, não cumprindo com a sua palavra, Labão pediu a Jacó mais sete anos de serviços para lhe entregar sua filha Raquel. Jacó aceitou, pois estava disposto a ser servil a vida toda para um dia possuir a sua Raquel. 
Assim é a vida para os “esperadores”. 
Observando grupos  de jogadores de cassino entendemos o prazer oferecido aos que se utilizam das máquinas de brinquedo dos salões de diversão. 
Relatam que duas ou três horas na frente da máquina das ilusões, faz que as misérias deste mundo sejam esquecidas. Eu creio que a liberação de serotonina é intensa nesses usuários, que estão ali apenas pelo prazer lúdico do desligamento da vida real. 
As perdas, para eles, são como compras de uma fantasia desejada. Ninguém se aborrece com os pequenos desfalques materiais para a aquisição de momentos de grandes prazeres. 
A razão não elimina o prazer, mesmo com perda material após longa espera. 
A sensibilidade responsável entende que a paz tem de ser procurada, mesmo em uma espera – dentre as muitas que nos são oferecidas. 

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