Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Muro de Berlin, por Gabriel Novis Neves

28 de jan. de 2015

Muro de Berlin, por Gabriel Novis Neves

Em novembro de 1989, a Alemanha, e o mundo inteiro, comemorava, finalmente, a queda do Muro de Berlim, símbolo vergonhoso que separava a Berlim Ocidental (capitalista) da Berlim Oriental (comunista). 
Conversando com amigos que lá estiveram nessa época sombria, pude constatar o enorme abismo que separava os dois países. 
O contraste era de tal intensidade que os turistas, em geral sediados na parte Ocidental, ficavam perplexos ao cruzar a fronteira. 
Aliás, isso era permitido apenas para visitantes (raros) quantas vezes quisessem, e para parentes ou amigos alemães apenas uma vez por ano. 
Era uma situação angustiante e, segundo os relatos que ouvi, os olhos lacrimejantes na pequena estação de trem aguardando a visita de um ente querido, apenas anual, era fato geral. 
Ao desembarcar no lado oriental, segundo meu amigo, o cenário era bem diferente do que estávamos acostumados a ver nas grandes cidades do mundo capitalista. 
Ruas desertas, pouquíssimos automóveis, hotéis sóbrios, com pouca ou nenhuma mordomia, rostos austeros. 
Ausência de camareiras e, carregadores de bagagem, nem pensar. Turistas eram convidados a subir alguns lances de escada levando suas próprias malas. 
Entretanto, lá estavam fábricas importantes, teatros, salas de música e o maior museu de arte grega da Europa. 
Ao que consta, durante a segunda guerra mundial, foram “levadas” para Berlim as mais importantes peças do acervo grego. 
Profissionais liberais aguardavam filas de oito a dez anos para compra de um carro. 
Dado o pouco movimento, as ruas tinham aspecto fantasmagórico, principalmente ao anoitecer. Isso não impedia que alguns poucos restaurantes funcionassem das 17: 00h às 20: 00h, alguns até com música ao vivo para dançar. 
Quando percebiam a presença de algum brasileiro no local, imediatamente mandavam tocar o “Tico Tico no Fubá” e faziam um gentil brinde ao visitante. 
Segundo informações, a população, apropriadamente vestida para o clima, era extremamente solícita. Alguns, mais jovens, usavam jeans e óculos Ray Ban - sonho de consumo da garotada. 
Claro, chegavam revistas trazidas por amigos as quais escancaravam, não só o glamour do mundo capitalista, como as inúmeras possibilidades proporcionadas pelo direito de ir e vir. 
Isso fazia com que algumas pessoas quisessem morar o mais próximo possível da fronteira, visando a possibilidade de liberdade que um dia chegaria. 
Não foi diferente o que aconteceu e, em pouco tempo, após a queda do Muro de Berlim, uma multidão se acotovelava rumo à integração e à emoção do reencontro com amigos e entes queridos. 
Aliás, ali, naquele momento histórico, a humanidade chegou a sonhar com a possibilidade de paz mundial. 
Logicamente, foram apenas sonhos. Logo em seguida surgiu a guerra que matou milhões de pessoas na antiga Iugoslávia, a Primavera em Praga e inúmeros outros conflitos pelo mundo afora. 
Atualmente, o estado caótico em que se encontra o mundo, as perspectivas de paz são cada vez mais remotas. 
O número de mortes e conflitos que se espalham pelo mundo, movidos pela ganância e pelo cinismo dos que detêm o poder, é uma realidade que ratifica a quase inexistente possibilidade de uma paz mundial. 
A deusa das guerras, a indústria armamentista, não pode parar, apesar do clamor de alguns poucos líderes mundiais mais lúcidos. 
Caiu o Muro de Berlim, porém, não caíram a imbecilidade e a mediocridade, que insistem em impedir que a humanidade cumpra a sua trajetória tranquila e feliz aqui na Terra. 

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