Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Viúvo, por Gabriel Novis Neves

7 de abr. de 2015

Viúvo, por Gabriel Novis Neves

Viúvo 
Há alguns anos me encontro neste estado civil. A viuvez para quem fica acarreta sentimentos de insegurança e desamparo. 
Apesar de terem se passados alguns anos da minha perda, não consegui assimilar muito bem meu luto. Encontro-me ainda em período de ajustamento em muitos aspectos da minha vida. 

O pior deles, sem dúvida alguma, é a solidão. Creio mesmo que ela irá me acompanhar para todo o sempre. 
Com o tempo fui forçado a aprender a lidar com as solicitações que a realidade, no funcionamento cotidiano, me apresentava. Inclusive, e principalmente, com a estrutura doméstica. 
No nosso antigo sistema de organização social, o marido geralmente era o provedor e a mulher a executiva dos trabalhos domésticos. 
Nos tempos atuais a mulher está cada vez mais presente no mercado de trabalho. As tarefas domésticas, então, são muitas vezes compartilhadas com o esposo. 
No entanto, sou da época antiga e fui traído pela ausência prematura da minha mulher. 
Quanta coisa eu tive de aprender! Com grandes dificuldades fui me adaptando ao meu novo e assustador estilo de vida. 
Isso me fez valorizar ainda mais o papel feminino na vida da família e os trabalhos domésticos. 
Não é fácil administrar uma casa! Não possuía nenhuma noção de tão complexa é essa tarefa. 
São tantos detalhes no gerenciamento de um lar, que só o destino - professor de causas impossíveis - foi capaz de me ajudar. 
Após nove anos de muitas tentativas de acertos, motivadas pela inexperiência e solidão, parece que estou começando a aprender a difícil arte das lides domésticas. 
Sem falar, é claro, que tive de aprender a tomar conta de mim mesmo, tomar minhas decisões e superar as dificuldades. 
Sabia ser o trabalho caseiro de grande valia na vida de uma família, mas, não tinha ideia da dimensão da sua complexidade. 
O tempo é o melhor aferidor sobre tudo que realizamos. 
Com erros e acertos caminhamos, e agora, quase no final da linha exercemos - não com a mesma eficiência - o trabalho outrora exclusivo da grande ausente. 
Viúvo é aquele que fica na face da Terra na solidão da multidão, sujeito aos embates não agradáveis do nosso cotidiano, sem a parceria no momento das decisões do dia a dia.  
A presença da ausência é o único legado para quem fica

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