Texto e foto de Valéria del Cueto
Cada mundo é uma esquina, ou cada esquina é um mundo? É o que me pergunto, enquanto espero alguém atrasado, numa delas.
Vejo a senhora gorda passeando vagarosamente com seu par apoiado numa bengala, o vendedor da loja de roupas masculinas jogando a guimba de cigarros no meio fio sem nenhum pudor ou vergonha, observado por uma criança que agarrada em sua mãe espera o sinal abrir e pergunta, inocentemente por que o homem suja seu próprio “entorno”.
Foi esse mesmo o termo usado pelo menino, de seus 9 anos. Ele deve ter guardado a palavra para usá-la no momento apropriado. A mãe arregala os olhos, pensando no que dizer para uma pergunta que só tem uma resposta: falta de educação.
Mas esta característica não é exclusiva do vendedor, que volta para o interior da loja pronto e revigorado para atender mais alguns possíveis clientes com suas mão cheirando a nicotina: o ônibus escolar dá seta para dobrar na avenida e segue em frente, quase pegando o ciclista entregador que, confiando na sinalização do veículo, cruza na frente dele, furando o sinal vermelho.
Na calçada a madame, com seu cachorrinho no colo, espera pacientemente sua hora de atravessar a rua movimentada. O cachorro usa sapatinhos coloridos para não sujar as patinhas e, posteriormente a casa de sua dona.
Em baixo da marquise, dorme um menino de rua, sujinho, sujinho, sem notar o rebuliço em volta, exausto por suas atividades noturnas, embaladas a cola, correria e pedidos de esmola. Está coberto por um lençol imundo e protegido por um papelão velho. É fácil conhecer sua história pelo "entorno", citado pelo menininho.
O sol aparece entre as nuvens, mudando o colorido local. Eu sigo esperando na esquina do mundo. Chegando de viagem e sem saber muito bem onde estou: Rio, Uruguaiana, Cuiabá? Só sei que não é nem Brasília, que não tem esquina, nem na Chapada dos Guimarães, onde as esquinas dormem o dia inteiro, menos as da praça central.
Não faz diferença. O mundo passa por mim e eu olho pra ele sempre interessada, sempre pronta para descobri-lo e, ao fazê-lo, me descobrir mais um pouco.
Quem me fazia esperar se aproxima, com um sorriso de desculpas pelo atraso iluminando o rosto. Digo que não me importo com o fato, por que aproveitei o tempo para observar o mundo daquela esquina. A pessoa me olha com estranheza. Não reajo, nem estico minhas explicações. Não é qualquer um que acha graça numa esquina.
Quando o mundo daquela esquina não pode ser visto, ela é apenas o que meu acompanhante vê. Uma esquina. E não um mundo...
Vejo a senhora gorda passeando vagarosamente com seu par apoiado numa bengala, o vendedor da loja de roupas masculinas jogando a guimba de cigarros no meio fio sem nenhum pudor ou vergonha, observado por uma criança que agarrada em sua mãe espera o sinal abrir e pergunta, inocentemente por que o homem suja seu próprio “entorno”.
Foi esse mesmo o termo usado pelo menino, de seus 9 anos. Ele deve ter guardado a palavra para usá-la no momento apropriado. A mãe arregala os olhos, pensando no que dizer para uma pergunta que só tem uma resposta: falta de educação.
Mas esta característica não é exclusiva do vendedor, que volta para o interior da loja pronto e revigorado para atender mais alguns possíveis clientes com suas mão cheirando a nicotina: o ônibus escolar dá seta para dobrar na avenida e segue em frente, quase pegando o ciclista entregador que, confiando na sinalização do veículo, cruza na frente dele, furando o sinal vermelho.
Na calçada a madame, com seu cachorrinho no colo, espera pacientemente sua hora de atravessar a rua movimentada. O cachorro usa sapatinhos coloridos para não sujar as patinhas e, posteriormente a casa de sua dona.
Em baixo da marquise, dorme um menino de rua, sujinho, sujinho, sem notar o rebuliço em volta, exausto por suas atividades noturnas, embaladas a cola, correria e pedidos de esmola. Está coberto por um lençol imundo e protegido por um papelão velho. É fácil conhecer sua história pelo "entorno", citado pelo menininho.
O sol aparece entre as nuvens, mudando o colorido local. Eu sigo esperando na esquina do mundo. Chegando de viagem e sem saber muito bem onde estou: Rio, Uruguaiana, Cuiabá? Só sei que não é nem Brasília, que não tem esquina, nem na Chapada dos Guimarães, onde as esquinas dormem o dia inteiro, menos as da praça central.
Não faz diferença. O mundo passa por mim e eu olho pra ele sempre interessada, sempre pronta para descobri-lo e, ao fazê-lo, me descobrir mais um pouco.
Quem me fazia esperar se aproxima, com um sorriso de desculpas pelo atraso iluminando o rosto. Digo que não me importo com o fato, por que aproveitei o tempo para observar o mundo daquela esquina. A pessoa me olha com estranheza. Não reajo, nem estico minhas explicações. Não é qualquer um que acha graça numa esquina.
Quando o mundo daquela esquina não pode ser visto, ela é apenas o que meu acompanhante vê. Uma esquina. E não um mundo...
Valéria del Cueto, para série Ponta do Leme, do SEM FIM...
Linda esquina esta da foto Valéria. Sem sinaleiras, sem luzes, sem acidentes, sem asfalto...
ResponderExcluirParabens pela postagem
Valeu, e-leitor! Volte sempre à minha esquina. Esse mundo é nosso!
ResponderExcluirParabens, muito lindo!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirValéria, Brasília não tem esquinas porque foi uma cidade muito bem planejada.Oscar tentou evitar que à noite os políticos ganhassem o hábito de espreitarem atrás das esquinas para assaltos e pungas a pedestres.Como eles não encontraram esquinas, resolveram curtir o hábito na casa das duas torres, e não só de noite.Ficou pior, mas Brasília continua uma cidade segura.
ResponderExcluirParabéns, pelo escrito e sensiilidade de ver gente, mundo e esquinas por estes rincões de Deus.
ResponderExcluirGostei Valeria,Acho que fumantes e gente que masca chiclete consideram o mundo como uma gigante lata de lixo pessoal.
ResponderExcluirE quem esta errado e voce quando voce raclama.
E a estes eu junto os motoristas de veiculos motorizados que neste modelo economico que precisa ser alimentado constantemente pela venda de novos automoveis, e anulam a humanidade com a sua necessidade de mais espasso.
Flavio Lago.
É na esquina da vida
ResponderExcluirQue assisto à descida
De quem subiu...
(Noel Rosa e Francisco de Queirós)
cumprimentos pelo belo trabalho!!!
Hoje abri o tribuna para ler as noticias da semana e os comentarios. Normalmente nao faço comentarios, leio-os. Até boas risadas tenho dado, muito obrigado!!!
ResponderExcluirHoje quero deixar aqui os meus votos de que esta equipe tenha muita glória e sucesso...Parabéns