Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: 2022

30 de dez. de 2022

Quase lá, réveillon, corre que o carnaval vem aí no Rio de Janeiro!



Quase lá, réveillon, corre que o carnaval vem aí!

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Depois da Copa do Mundo de Futebol vem o quê? Natal, réveillon e... é quase carnaval!

Que ano estranho. O fôlego do sambista teve que ser amplificado e fortalecido com a redução do tempo de preparação dos trabalhos que, normalmente, acontecem num ciclo anual. O último desfile foi quase ontem, em abril de 2022, lembra? Ali, um pouco antes do épico e prolongado período eleitoral.

O calendário carnavalesco todo foi encurtado. Da criação, desenvolvimento à gigantesca e meticulosa produção do evento. O carro chefe do turismo carioca acontecerá em 2023, novamente, na sua data correta, dias 17 e 18 de fevereiro. Natal, réveillon, janeiro... O tempo é curto.

Em dezembro, Mini Desfiles e pré réveillons

No meio das emoções da Copa do Mundo de Futebol e antes do réveillon que abre o verão no Rio de Janeiro, a cidade já teve um gostinho da folia durante o 2 Mini Desfile do Grupo Especial na Cidade do Samba, promoção Rio Carnaval, braço de marketing da Liesa. 

O evento abriu o último mês do ano emendado no final de semana de comemoração do Dia Nacional do Samba, 2 de dezembro. O espaço lotou nos dois dias, sábado e domingo, em que as escolas de samba se apresentaram na pista do espaço da Zona Portuária, onde são produzidos carros e fantasias do carnaval do grupo de elite do Rio de Janeiro. 

Os principais segmentos das agremiações do Especial desfilaram na mesma ordem em que passarão na Marquês da Sapucaí em fevereiro, no carnaval 2023.  O formato também foi utilizado, na semana seguinte, no lançamento do CD do Grupo de Acesso, a Série Ouro.

A folia já vinha embalada nos ensaios de rua e nas quadras. Será nelas que fecharão o final de dezembro. Dia 30, várias escolas de samba fazem festas. Na Mangueira o já tradicional pré réveillon é a “Noite do Branco”, com a participação do Cordão do Bola Preta. A Portela festeja com o Cacique de Ramos. O Salgueiro faz a “Roda do Sal”, com Arlindinho e Pretinho da Serrinha, entre outros bambas. É só escolher!

O carnaval da virada

O pensamento no bem-estar das gerações futuras é a mensagem carioca no retorno do maior réveillon do mundo, o da praia de Copacabana. Baseado na tecnologia e na sustentabilidade a festa terá, novamente, carbono neutro. Repete os cuidados do ano anterior em que o evento ganhou o selo Sustentabilidade Tesouro Verde, um atestado de ética ambiental.

Também na virada, a programação da Prefeitura do Rio de Janeiro traz o samba e o carnaval para os palcos espalhados pela cidade.  Em Copacabana serão dois.

No principal, na altura do Copacabana Palace, a festa é com Zeca Pagodinho (enredo da Grande Rio em 2023), Iza, Alexandre Pires e a bateria da campeã do carnaval.

A escola de Duque de Caxias, homenageando Exú, orixá que abre os caminhos, chegou ao primeiro título de sua história em 2022. Boas vibrações pra virada. Caminhos abertos, repletos de esperanças para o novo ano que, dizem os guias, será regido por ele, o orixá da comunicação, e Oxum, a dos rios.

O segundo palco, o Carioca, na Santa Clara, tem Mart´nália, Preta Gil, Gilsons, Bala Desejo e os ritmistas da Beija-Flor.

Momento emblemático da noite, os fogos da passagem do ano, “piromusicados” (palavra nova), terão 12 minutos e, como em todos as edições, a tecnologia acrescenta novidades ao espetáculo dirigido há 14 anos por Abel Gomes. Controlados por GPS, os fogos serão lançados por 10 balsas em frente a Princesinha do Mar.

A novidade é que a íntegra da festa do palco Copacabana será transmitida em tempo real pelo canal do Youtube da Riotur, http://youtube.com/@Rioturoficial

Acabou? Não, está só começando...

O verão carioca se consolida com muita praia e os finais de semana cheios de programas para os foliões por toda a cidade. Pelas ruas, quadras, blocos e festas. Sem esquecer os aguardados ensaios técnicos das escolas de samba do Grupo Especial na Marquês de Sapucaí, passagens obrigatórias para os amantes da folia, entre 15 de janeiro e 12 de fevereiro.

Depois? É carnaval...    

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Texto da série “É Carnaval” do SEM FIM... @delcueto.studio na Colab55
 

24 de nov. de 2022

Sem arco-íris no céu, o sonho do asfalto - Fábula Fabulosa de Valéria del Cueto

Sem arco-íris no céu, o sonho do asfalto

Texto e foto de Valéria del Cueto

Pausa no corre da COP27 à Copa do Mundo e, depois, Natal nesse mundo de seu Deus. Porque meu, ele não é. Se fosse, tinha deixado a casta extraterrestre fora dessa mixórdia que grassa por aqui.

Já devia ter mencionado, mas faltou espaço na mensagem anterior. Sabemos que ele é limitado para não causar cortes na transmissão pelo raio de luar que passa pela janela invade sua cela. É o preço de sua reclusão voluntária do outro lado do túnel, cronista.

O tempo de contato está cada vez mais curto para a quantidade de informações. Foi por isso que omiti na última missiva os objetos avistados durante vários dias nas rotas aéreas do Sudeste para Porto Alegre. Tem tanta coisa (ainda) acontecendo…

Coisas terrenas nada espaciais. Uma delas, inclusive, captada graças ao nosso contato osmótico. Quantas informações ele agregou ao banco intergaláctico de dados da nave mãe. Como definir “Perdeu, mané”? De New York, onde o Ministro Barroso, do Supremo Tribunal Federal, lascou a expressão respondendo a assediadores na entrada de um compromisso, às quebradas coloquiais! Confesso que passei por Florianópolis, onde “manezinhos” são os locais. Barroso se referia aos manés que se recusam a entender que depois de jogo feito e a pedra vencedora cantada o que resta é esperar a próxima rodada.

É nessa levada alucinada que a sintonia foi mudando. De Vandré e “Pra não dizer que não falei das flores”, numa utilização equivocada da canção da esquerda (eles dizem esquerdista, lado oposto de direitista) passaram a arranhar o disco das paradas militares nos acampamentos nos QGs. Hinos Nacional, à Bandeira, da Independência, Exército, Marinha, Aeronáutica e até o hino da FEB, que foi à Itália lutar contra o nazismo e o fascismo!

A movimentação persiste e fica violenta nos bloqueios e interdições nas estradas. Isso mesmo, nas federais. Amiga, que crueldade! Atrapalharam os alunos que estavam indo fazer o ENEM. Mascarados queimaram ambulância e depredaram a base da Rota do Oeste. Sinto muito informar que Mato Grosso desponta no ranking do terrorismo, junto com Santa Catarina.

O agro e cia, realmente, são pops. Vários “organizadores” estão com suas contas bloqueadas.  E tem reação.  Sabe o véio que se veste de periquito? Acaba de anunciar o término de todos os contratos esportivos. O maior dele com o Flamengo.

Sei que a notícia a deixa feliz. Já posso pensar em providenciar uma nova camisa do time do seu coração? Lembro que quando sugeri o presente, a resposta foi: “Com essa logo não se dê ao trabalho. Não troco a minha Lubrax/Petrobrás por uma marca qualquer”.

Bom, já que estamos no quesito esportivo, pluctplacteio direto para Qatar e a Copa do Mundo de Futebol. Sem cerveja, poucas mulheres e onde o arco-íris não existe (talvez porque não chova?). Ele não pôde tremular nem na bandeira de Pernambuco, arrancada das mãos de um jornalista de Recife.

Loucura, cronista, logo no início da competição. Uma delas. Outra, veio com o resultado da primeira rodada do torneio onde a Argentina, de Messi, estreou perdendo de virada para a Arábia Saudita. O sheik até declarou feriado no país. Parece miragem do deserto, truque da imaginação?

Ou fake News como a do delírio coletivo de Porto Alegre onde um grupo vestido de verde a amarelo formou uma roda e, colocando celulares na cabeça fazia as lanternas piscarem. Diz que era uma gravação com um drone. Teve quem dissesse que estavam tentando um contato imediato para pedir ajuda contra a “ameaça comunista” do presidente legitimamente eleito aos generais intergalácticos.

A cena rodou o mundo, mas não sensibilizou as esferas superiores. Sem “pescarem” a desinformação, veio a resposta do céu baseada no livro de Deus (o seu): “A verdade vos libertará, mas depois do hexa do país do futebol”.

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com


Studio na Colab55

8 de nov. de 2022

A Porta da Esperança, Fabula Fabulosa de Valéria del Cueto


A Porta da Esperança

Texto e foto de Valéria del Cueto

Querida cronista. Finalmente o céu clareou permitindo que o raio de luar encarregado de transportar nossas mensagens pela janela iluminasse o interior de sua cela do outro lado do túnel. Temporal, ó temporais, chuva fina, chuva grossa e até neve, fato sem registro anterior para o início de novembro.

Melhor assim, diante dos incríveis acontecimentos que venho contar. Antes de mais nada, deixo claro que aqui não há um único desvario ou delírio. Afinal, quem está voluntariamente nessa cela não sou eu, é você.

Fica o registro juramentado, por meus poderes intergalácticos de extraterrestre, que reportarei apenas a verdade e que não tomei água oferecida nos bloqueios e manifestações que percorri, o que parece ter provocado alterações significativas no comportamento dos revoltosos que, em nome da liberdade, pediam (juro que é verdade) intervenção militar no governo do presidente. Aquele que fizeram o (im)possível para ver reeleito.

Leia de novo o último parágrafo, por favor, estimada amiga. E vamos ao início do capítulo que, depois de tantas peripécias poderia até se tornar um tomo completo. Um livro inteiro em episódios burlescos, com um enredo rocambolesco coroado por um final cheio de falsas premissas decepcionantes para seus aloprados protagonistas.

Pode me elogiar, cara cronista, pela erudição e a falsa modéstia. Nasceram das sementes que você plantou quando me acolheu na minha chegada ao planeta Terra. Um extraterrestre de passagem, preso na atmosfera poluída e, consequentemente, sem propulsão para ultrapassar a camada de ozônio pluctplacteando ao léu mundo a fora. Lição número um: esse planeta não é para amadores! O Brasil então...

Já aticei sua curiosidade? Nada do que imaginar chegará próximo dos acontecimentos ocorridos e fartamente registrados. Começando pelo dia da votação do segundo turno.

Tudo normal até o registro da passagem de uma eleitora, cujo voto não indaguei por ser secreto, pela moldura da imagem que ilustra essa mensagem. Como uma porta da esperança, sabe? Uma previsão como tantas outras. Essa, do que está por vir.

Com uma fluidez que não se verificou no primeiro turno e sem atropelos a votação transcorreu na calmaria. O resultado apertado de 50,9 a 49,1 para Lula foi anunciado e rapidamente confirmado pelas autoridades constituídas. Menos... pelo presidente da República. Que emudeceu.

Seu silêncio serviu de fermento no bolo que se formou na garganta de seus seguidores derrotados. Foram às ruas e estradas e nelas amanheceram segunda-feira bloqueando rodovias em surto coletivo. Marcharam, oraram e brigaram enquanto a Policia Rodoviária Federal fazia a egípcia nas vias de abastecimento de todo o país. Foram mais de 1.050 bloqueios.

Quem conseguiu começar a liberar os gargalos, acredite, foram as torcidas organizadas. Abriram os caminhos ao se locomoverem para as partidas de futebol fora de casa no feriado de finados.

Mesmo com o fim da afonia presidencial os manifestantes verde e amarelos bandeira não arrefeceram o pedido de intervenção militar. Também, com tantas notícias falsas disseminadas pela rede de informações dos insurgentes, como acreditar num combalido capitão, vestido de Zelenskyy, pedindo os desbloqueios? Depois de anunciada e muito comemorada, entre outras coisas, a prisão de Xandão, o presidente do TSE, demorou um tempo para uma troca de estratégia.

Agora, fazem manifestações exigindo a quebra da constitucionalidade nos portões dos QGs militares. Repito: pedem intervenção militar! O que pressupõe o fim do governo que votaram para continuar. E perderam.

Tudo isso com os deuses da meteorologia despejando muita água e frio país a fora. Uma loucura coletiva onde, entre rezas, penitências e saudações nazistas, cantaram o Hino Nacional fazendo continência a um... pneu!

O raio de luar está por um fio, mas preciso de um espaço extra para registrar dois fatos que marcaram o período. Carla Zambelli, a parlamentar, correndo com uma arma pelas ruas de São Paulo atrás de um eleitor que declarou na véspera do pleito a ela “Te amo, espanhola”, é um deles. O outro “evento” é um caminhão com um abilolado de amarelo colado no gradil frontal em alta velocidade. O motorista querendo passar e o empresário Júnior Cesar Peixoto “grudou” no veículo. O caminhoneiro, louco para ver os filhos, tocou em frente. Verdade ou não, dizem os memes que o parvo foi visto até em Marte.

Posso garantir que não desembarcou na Lua. O dragão de São Jorge negou guarida soltando fogo pelas ventas simbolicamente enrolado no manto vermelho do santo. Lá, Lula ganhou com 2 votos. Deu 100% na urna lunar, a dos poetas, seresteiros e namorados!

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

11 de out. de 2022

Horizonte - crônica de Valéria del Cueto


Horizonte

Texto e foto de Valéria del Cueto

Se não for no tranco é barranco. Não estava nos planos uma carta na manga no meio do caminho que era para ter terminado ali atrás. Não sei aí, querida cronista, mas por aqui é hora de sair da inércia.

Há muito em jogo! No momento, na mão de poucos. Isso, se compararmos com o total impactado pela decisão das urnas no Brasil. Falo dos que agora escolherão seu presidente migrando de outras opções, dos candidatos derrotados, votos nulos, brancos, abstenções. E, quer saber? Amiga isolada do outro lado do túnel, introjetei o espírito desse eleitor e já tenho lado.

O que não faz do seu amigo Pluct Plact, esse extraterrestre extraviado, um ser incapaz de ouvir os opositores. Ouvir, tentar entender e, confesso, não compreender como tantos se revelam (e como o fazem) diante das opções disponíveis. Que os incautos caiam na ladainha da família ameaçada, da liberrrrdade sem reciprocidade, da fé sendo testada nas colinhas obrigatórias, até entendo.  Mas tenho visto coisas que até Deus duvida quando o assunto é respeito e sensibilidade social.

Transformar a religião em arma de guerra é pecado. Quanta iniquidade é violentar a fé, armar o credo. Tirar de Jesus o manto do amor, da bondade, o estender as mãos aos desvalidos, senão vira... comunista! Como sabe quem, querida amiga? O pop Papa Francisco.

Os próximos dias serão de provação nessa terra, que ironia, abençoada por Deus. Enquanto alguns jejuam por um deus impiedoso da guerra, outros o fazem por necessidade, falta de opção. Não há trégua no avanço do obscurantismo, falsamente intitulado de conservadorismo, dessa extrema-direita com embalagem Nutella.

Eu, graças a vasta experiência no tempo sideral e espaço interplanetário, não coaduno com quem quer calar os oponentes, transformar os que discordam em inimigos. O que não deu certo em outras galáxias, também vai dar ruim aqui, lamento informá-la.

Isso não é política. É a semente maléfica da ditadura, daquele mesmo mal que volta e meia ameaça a evolução. Esse modelo nefasto de governo que você já viu quando era criança e sei, não quer ver nunca mais.

Entendo porque não faz parte do seu perfil ser a favor da tortura, do desrespeito os poderes constituídos. Justo você. Raiz, tronco, galho, folha, flor, fruto e semente da Constituição de 1988.

Os próximos dias, como tantos em outras eleições em que você participou, como me contou, serão de convencimento, conversa e disputa por cada voto a ser depositado nas urnas.

Em nossos encontros pelo raio de luar que invade a cela onde voluntariamente você está recolhida do mundo, convivi com seus sonhos. Ouvi desejos de paz, do equilíbrio e da harmonia por um país em que todos tenham oportunidades iguais e um governo que provenha e acolha a população. As vibrações que recebo, dessa massa de centenas de milhões de pessoas por onde me embrenho, traz o mesmo desejo de educação, saúde, segurança e uma vida digna.

Não é hora de esmorecer, nem se deixar vencer pelo cansaço de lidar com tantos ataques mentirosos, fake news calcadas em sandices histéricas. Que as diferenças sejam respeitadas, as religiões livres em seus direitos de manifestação. Todas!

Não acho que essas eleições sejam uma cruzada do bem contra o mal, nem que um lado deva aniquilar o oponente, como tentam maldosa e criminosamente insuflar. Sem uma ponte para o diálogo não há política. Prática que, para ser salutar, tem que ser plural.

Se você cronista, (como eu, Pluct Plact, imagino), está entre os votos que decidirão as eleições, pense, antes de tudo, em quem lhe dará o sagrado direito de discordar.

Prepare-se! Saia da toca e se jogue na cabine eleitoral, lugar de todos os brasileiros que (ainda) têm o direito de optar pelo que acham melhor para o país. Você tem duas semanas para se decidir. O horizonte lhe aguarda, pronto para ser vislumbrado.

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

21 de set. de 2022

Em construção - crônica de Valéria del Cueto

Texto, vídeo e fotos de Valéria del Cueto

Querida cronista. Trago notícias de setembro! Mês da primavera adorada. A que, dizem, tudo renova. Eu, Plact Pluct, o extraterrestre, aproveito o raio de luar que invade sua cela do outro lado do túnel para informá-la que, setenta anos depois do último evento do tipo, o mundo in-tei-ro acaba de acompanhar o enterro da soberana britânica ao vivo e a cores. Sim, Elizabeth II partiu e, com ela, se encerra uma era. Não vou descrever o evento. Impossível nessa cartinha.

Use sua imaginação. Todinha ela! Acabou? Pois saiba que nem sua loucura voluntária é capaz de projetar o “mico Brazil” composto de pronunciamento na sacada da sede diplomática brasileira de Londres, “pitis” com a imprensa do mandatário brazuca e desatinos histéricos de seus asseclas. Enquanto o mundo mimava os corgis, os doguinhos da rainha morta, a matilha raivosa ladrava na porta da embaixada. Não tenho informações, sobre outras altercações (tirando um súdito que se projetou em direção ao caixão durante o velório), na capital do reino silencioso e enlutado durante os funerais reais. Mitamos na baixaria.

Se a intenção era “desenhar” um roteiro de estadista para o presidente brucutu, faltou talento e companhias que pudessem colaborar com a pantomima. Não houve religioso ou herdeiro candidato a embaixador que lhe ensinasse a não tocar no rei, por exemplo. Gargalhar pra fotografia diante do filho enlutado, então...

Por que estou contando isso, cronista? Para fazer um mea culpa e reconhecer a veracidade do que você me apresentou no período em que convivemos. Ainda não ligou os fatos a série de TV? Já, não é? Vejo o lampejo de um sorriso sucupiriano no brilho do seu olhar de quase Dirceu Borboleta! Pois foi quando assisti, sob sua curadoria, “O Bem Amado” que, pela primeira vez, duvidei de sua “bibliografia” para me explicar o Brasil.

Achei que os fatos ali narrados, surreais demais, não passassem de imaginação fértil e fantasia deslavada do autor genial da novela que virou série. Tiro o chapéu à capacidade de serem inconvenientes de alguns que se acham (para não citar nomes). Que papel!

Feita a introdução, lembrando que as eleições são logo ali, destaco fatos. O primeiro é que 70% dos eleitores ainda não escolheram seus representantes aos parlamentos. Irão para o lugar em que monstros esfomeados se lambuzam nos orçamentos secretos que aprisionam valores exorbitantes. Valores que deveriam ser usados em políticas públicas definidas de forma articulada com a sociedade.

O segundo é o esforço coletivo, por assim dizer, para que a eleição a presidente se encerre no primeiro turno. O candidato a reeleição é categórico em afirmar que se não ganhar de cara (o que não deve acontecer, já que está em segundo lugar nas pesquisas) é porque houve fraude! Enquanto isso, o preço da gasolina cai a cada ponto que leva o ex-presidente à vitória.

Acho que na próxima lua saberemos o fim, pelo menos desse capítulo, da saga bolsonariana. Após os próximos blocos do episódio em curso em que o cenário é New York, a Assembleia da ONU.


https://youtube.com/shorts/JbmPsbtQSGg

Para fechar essa missiva, já que falei lá em cima em curadoria, dei um rasante na ArtRio 2022. Ela levou à deslumbrante Marina da Glória, 60 galerias e 15 instituições artísticas depois da pausa da pandemia.  50 mil pessoas circularam pelo espaço.

Uma das rodas de conversa foi sobre um tema que, sei, lhe é caro. “Exú nos museus e na Avenida”, abrindo caminhos ao reconhecimento dos incríveis e numerosos artistas que fazem a festa popular e precisam ser nomeados e reconhecidos como tais no mundo das artes.

"Conversa Exu nos museus e na Avenida " - Alayde Alves, Gabriel Haddad, Leonardo Antan, Leonardo Bora, Marcelo Campos

Flanando pelos corredores também reconheci, graças a sua paixão pelas artes plásticas de Mato Grosso, um peitinho de Adir Sodré, já vendido em benefício da Casa Nem, e uma cabeça de bugre da Conceição. Gervane de Paula tinha à ufa!

Ao imaginar o brilho do sorriso bailando novamente no seu olhar, arrisco a pegar uma encruzilhada desse nosso contato pra fazer um convite.

Em nome de seus amores: as artes, a cultura, o carnaval e a vida, se desentoque no dia 2 de outubro. Venha exercer seu sagrado direito ao voto. Digite, na urna eletrônica, os números capazes de fazerem com que Sucupira volte a ser o que deveria. Apenas uma obra de ficção genial de Dias Gomes!

Laroiê...

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

30 de ago. de 2022

Faça não - crônica de Valéria del Cueto



Texto e foto de Valéria del Cueto

Não, não é momento de pensar pra trás. Especialmente porque não dá pra voltar no tempo.

A ciência contemporânea especula que existem tempos paralelos. É a esse conceito que devemos no apegar. Que bem aqui do lado tem alguém, inclusive nós mesmos, fazendo diferente.

Compliquei sua já confusa cabeça, cronista enclausurada? Seu correspondente Pluct Plact, esse extraterreste expatriado, acha que não...

Sei que de confuso seu raciocínio não tem nada. Mesmo reclusa voluntariamente do outro lado do túnel, basta lembra-la que estamos as vésperas de mais uma eleição brasileira para que os parágrafos de abertura dessa cartinha passem a fazer todo sentido.

São as várias camadas paralelas de Brasis que se apresentam. Usadas como munição das metralhadoras giratórias pelos pretendentes ao poder.

Para uns, não falta pão. Outros desejam trazer de volta a fartura. O povo? Claro, sente falta dos tempos de churrasco e cervejada. Tem um Brasil em que a prosperidade está logo ali, outro que luta pela sobrevivência a cada bico. Tem aquele dos “empreendedores” e o da falta de empregos. Tem o dos 100 anos de sigilo e o que exige transparência. Muitos, de comum acordo, batem palmas e lutam por um lugar ao sol dos privilégios das emendas secretas. Uns por quatro, outros por oito anos. Quem é contra tudo isso é ouvido, pouco compreendido e quase nada levado a sério.

Como disse, cronista amiga, são vários tempos paralelos, com personagens que se repetem, mas não têm o mesmo comportamento dentro de cada dimensão.

Um exemplo? Ulstra. “Herói” para uns, torturador segundo os registros históricos. Paulo Freire pode ser um educador genial ou um desagregador de famílias. Ah, as famílias... com ou sem diversidade?  

Todas essas informações contraditórias bombardeiam a cabeça dos eleitores que, em seus processos mentais individuais ou coletivos, tentam depurar tantas ideias e conceitos divergentes.

Querida amiga, agora é guerra aberta e declarada. Direta e subliminar. E eu aqui, tentando explicar esses eventos nas esferas interplanetárias. Uma complicação. Em alguns momentos, inclusive, chegam a duvidar de meus informes.

Apesar do termo ser desconhecido por lá, acham que é impossível esse nível de volatilidade das informações que envio e armazeno em nossos bancos de dados intergalácticos. O que fiz? O mesmo que estão fazendo aqui. Sugeri um sistema de checagem. Pode ser que entendam a força e o alcance maléfico das fakenews.

Antes me despedir quero pedir desculpas, parceira enclausurada, por ocupar nossa comunicação pelo raio de luar que invade a sua cela com tão poucas e específicas notícias do lado de cá. Tenho um objetivo. Começar a prepara-la para o que já é.

Setembro está aqui. Em todas as dimensões de tempo e espaço. Com os 200 anos da Independência e o coração (partido) de Dom Pedro I já circulando. Sendo exibido pelo Brasil. Não, não estou delirando. E tenho uma confissão a fazer. Ouço o que ele murmura em seu percurso involuntário.

Dele, vem um solfejo. Demorei a reconhecer a canção que, um dia, você me apresentou. É de Chico Buarque e diz assim: “Deixa em paz meu coração/Que ele é um pote até aqui de mágoa/ E qualquer desatenção/ Faça não/ Pode ser a gota d’água.../   

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com


Studio na Colab55

17 de ago. de 2022

Se não por mim, crônica de Valéria del Cueto

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Subi a rua desenhando a crônica e mapeando as orquídeas penduradas nas árvores que começam a florir.

Esses sinais multicores iniciaram o movimento de renascimento da fênix. “Se elas podem, por que eu não?” Parece fácil falar, mas daí a execução da tarefa há um longo caminho a ser percorrido.

Tomei uma invertida no meio do ano e desabei. Minha redoma protetora ficou mais estilhaçada que as paredes de vidros metralhados da torre do Nakatomi Plaza no filme Duro de Matar. Como o John McClane, de Bruce Willis, não conseguia me mover sem sangrar. No meu caso, não os pés, mas o coração.

Sem a redoma, fiquei sincera. O que é péssimo esses tempos em que a arte de ser falsa fingida está em alta. Para não espanar geral me recolhi e auto dediquei à minha persona a acuidade da sinceridade intrínseca.

O universo resolveu colaborar com a desconstrução desconfigurando o hub do Sem Fim de forma, até o momento, irreversível. Está tudo lá, mas nem a busca funciona. Um retrato cruel da própria autora. No caso, euzinha.  Não sucumbi às adversidades. Já tentei vários restarts. Cortei os cabelos, mudei o percurso…

Mas é a vida que manda e foi ela que me derrubou, por exemplo, no dia do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Festa linda na Cidade das Artes que assisti pelo Canal Brasil. Na véspera fui pega no contrapé de uma gripe alérgica turbinada pelas obras do sétimo e do quarto andares.  

Ensanduichada pela falta de civilidade das empresas contratadas para botarem abaixo os dois imóveis, o que me resta é apelar para quem não está nem aí diante dos problemas dos outros. Barulho, makita, poeira, sujeira, etc.

O que, como já disse, também não é suficiente para mover a inabalável vontade que sinto de virar esse jogo. A reação tem que acontecer, respeitados os sinais.

Pois foi assim, ainda me recuperando, que cheguei na praia em Copacabana para registrar a ressaca que chupou a areia da ponta o Forte de Copacabana.

Estava sentada num banco gravando o mar entre Drummond e Dorival Caymmi quando a meus pés a PM cercou quatro “elementos” e começa a revista-los. Um monte de gente vazou de perto. Não me movi. Não era o caso. Os rapazes tinham apenas duas bolsas pequenas, essas que estão na moda. Fiquei ali com a câmera na mão.

O que me fez sair da inércia foi ver o quadriciclo em que dois policiais vieram pela água se movendo com a força das ondas na subida da maré. Achei por bem avisar a um deles e cair fora. Dura a gente vê a toda hora, só não queria testemunhar a navegada do veículo militar. Saí batida e cortei pra Ponta chegando na bateria final do Arpoador Classic 2022.

Aí, a maré virou a meu favor. Na água, disputando com Leandro Bastos, o locutor anunciou Pikachu. Cria do Pavão/Pavãozinho/Cantagalo, o PPG, o surfista é um dos fenômenos da geração Arpoador.  Há alguns anos fiz umas fotos de um garoto voando no pedaço. É o mesmo!

Já contei numa crônica do Sem Fim que fotografar ondas e surfistas é um ótimo treino de meio de ano. Afina o foco e a mira para os desfiles da Sapucaí, né? Desprezei a poderosa para brincar com o zoom da câmera compacta.

Foi dela que saíram poucos registros do Arpoador Classic 2022, onde a janela da minha alma se abriu pra mostrar o talento de Anderson Pikachu e me juntar, como posso, a torcida do vizinho que, aos 22 anos, busca seu espaço entre os feras do surf profissional brasileiro.  

Quando fui marcar o perfil @pikachu_anderson97 no Instagram estava lá a campanha em busca de apoiadores e de um patrocinador master. Quer saber, leitor? Foi por isso que essa crônica nasceu. Pra juntar esforços na busca de recursos pro surfista. Que não levou essa, mas levará muitas com seu talento.

A vida é assim, se não por mim, por quem tenta fazer da sua própria história, um SEM FIM…

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Arpoador” do SEM FIM… delcueto.wordpress.com

Ipanema 220813 080  Surf Legends Arpoador 2022 final surfista prancha Pikachu
Studio na Colab55

22 de jul. de 2022

De cabeça pra baixo - crônica de Valéria del Cueto


De cabeça pra baixo

Texto e foto de Valéria del Cueto

É agora ou nunca. Ou desenrolo essa crônica ou teremos mais uma semana desse silêncio maior que o buraco negro que devora gulosamente parte do universo. Não é uma ausência de ruído por falta de barulho. Talvez seja por excesso.

Os fatos (atenção, eu disse fatos e não notícias), atropelam o já conturbado e pouco prazeroso cotidiano.

Subindo a rua um toco de cigarro acesso sendo arremessado por um armário barbudo em direção ao meio fio atravessa o caminho natural de quem transita na via pela calçada.

Na sequência uma motocicleta, das grandes, desce na banguela evitando a contramão. O piloto e o carona deslizam velozes impávidos pelo calçamento de pedras portuguesas, desviando e fazendo cara feia pros pedestres que circulam indo ou vindo do metrô.

Na esquina o vermelho da sinaleira não intimida o motorista do buzão. Nenhum sinal de uma simples intenção de reduzir a velocidade, nem mesmo ao passar pela faixa de segurança do cruzamento movimentado.

Esses eventos ocorreram num curtíssimo espaço de tempo. Menor que uma performance tiktokeana, quiçá no espaço de uns 5 stories instagrâmicos.

Diante dos alertas deu pra sentir que era melhor seguir pelas sombras das amendoeiras coloridas pelo outono por ruas menos movimentadas em direção a um lugar em que pudesse sacar o caderninho.

Não vou dizer onde para não dar margem ao argumento de que este é um texto “localizado”. Nem pensar! Como eu e meu celular essa escrevinhação desligou (não, desativou como é correto definir) o modo localização.

O que me interessa é o sol. Esse, que brilha em qualquer lugar e, ultimamente, cospe fogo e ondas magnéticas em direção a nosso já tão combalido planeta. E nem pense em jogar a responsabilidade dos calorões, incêndios, enchentes, chuvaradas, nevascas e afins no astro rei. Os protagonistas dessa tragicomédia somos nós, estúpidos, inconsequentes e prepotentes seres humanos.

Qual um dominó gigante chutamos, não apenas a pedra original das mudanças climáticas, como ainda jogamos as peças para servir de lenha na fogueira do desastre quase irreversível.

Tá vendo porque tenho evitado manifestações croniquescas?

Não é que não queira dar o recado. É que sei que, para a maioria, ele entra por um ouvido e sai pelo outro sem nenhum grau de assimilação. Não há argumentos que se sobreponham aos fatos e nem a esses estão dando a mínima bola.

Por isso, o que (ainda) me faz escrever é deixar para o futuro algumas observações desse momento único da história contemporânea. Aquele em que o ser humano parece ter ligado, com o perdão da palavra, o phoda-se!

Para o golpe anunciado que se aproxima. À entrega da Amazônia a bandidos e redes internacionais, (sob os quepes dos militares que deveriam defender o território, mas ocupam cargos burocráticos em gabinetes e estão mais preocupados com suas candidaturas a políticos profissionais, onde o butim é maior e não deixa rastros). Para mais um passo da agonia do Pantanal, carimbada com o arcabouço legal ardilosamente tramado pelos deputados da Assembleia Legislativa de Mato Grosso.

A aprovação do PL 561/22   libera a pecuária extensiva em áreas de preservação e capricha nas alterações de pontos chaves para a manutenção do bioma. Sabe o que falta para virar lei? A assinatura de Mauro Mendes, o garimpeiro cria de Blairo Maggi, agraciado com título de “Motosserra de Ouro” que, em breve, voltará a pontificar nas paradas de sucesso.

As barbaridades explodem como os humores do sol magnético. E, sim, deixarão sequelas permanentes.

Cá entre nós, queria muito ficar em silêncio e me “localizar” em minhas visões, normalmente tão poéticas e otimistas...

Mas, quer saber? Não dá. Pelo menos enquanto houver uma única chance de não nos entregarmos aos dementadores que circulam livremente para tirar nossas esperanças de dias melhores.

É hora de pecar por excesso, não por omissão!    

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Parador Cuyabano” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

17 de jun. de 2022

Chega de Saudades - Fábula Fabulosa de Valéria del Cueto


É uma proteção afetiva imaginá-los, não saindo daqui, chegando por lá. Aplaca a tristeza projetá-los num lugar melhor, com pessoas que amam. 

Não admito reduzir vidas repletas de realizações a currículos protocolares em que só os cargos contam. 

Com a crônica chuleio pedaços de histórias, costuro sonhos e esperanças vividas, ou não. É assim que tatuo saudades no Sem Fim... Solidificando sentimentos em palavras.

V.

Chega de Saudade

Texto e foto (acervo) de Valéria del Cueto

Querida amiga.

Cartinhas sinceras andam em alta por aí. Então, é por meio desta que dou notícias para lhe dar algum conforto e, se possível, deixá-la um pouquinho feliz.

Consegui essa autorização porque é véspera do seu aniversário e, depois de muito argumentar aqui nas camadas celestiais, venceu meu argumento de que se Mato Grosso não deveria perder Luiz Soares, você, menos ainda, merece carregar essa tristeza. Justamente agora. Foram dois anos de pandemia. O que impediu, inclusive, uma comemoração digna da virada dos seus sessenta anos...

Resumindo: aqui é Fátima Sonoda trazendo com exclusividade (como você gosta) notícias da chegada do Cabeção nas bandas do Além. Pensa que foi suave na nave?

A demanda começou quando avisaram que ele era a bola da vez. A mai-or disputa para definir que iria recebe-lo. Fila, Valéria. Foi no voto que escolheram o portador da novidade para um espantado Luizinho, com trilha musical e tudo! Imagina quando ele deu de cara com Tancredo Neves dando as boas-vindas.

Foi o eleito ao jogar na mesa o fato de que Luizinho era o secretário geral do diretório do MDB de Mato Grosso. O que fez a indicação do seu nome para concorrer nas eleições indiretas de 1984 depois da derrota da emenda das Diretas Já. Dante de Oliveira tentou entrar na disputa, mas Ulisses Guimarães e Dona Mora pesaram da escolha.

Na discussão aproveitei para lembrar da ida a Brasília para acompanhar a votação da Emenda das Diretas quando foi detido nas barreiras rodoviárias! Luizinho apresentava sua carteira de deputado estadual e todos olhavam para aquele garoto de 24 anos, sem acreditar que era um parlamentar! Na época, o mais novo do país.

Sabe quem coordenava a comissão do “senadinho” para recepção aqui do outro lado? A escolha ficou entre referências políticas de Luiz Soares como Mário Covas, Franco Montoro e Sérgio Motta... Guaraci Almeida e Paulo Ronan nas articulações.

Não sobrou pra ninguém. Deu Jorge Bastos Moreno na cabeça. Também, ele apelou para Durval, do dormitório de Santo Antônio de Leverger. Aquele pacú recheado com farofa de couve... a cocada de sobremesa. Feitos na lenha, que aqui não falta no andar de baixo. O primeiro a votar foi Ulisses Guimarães, que adora as iguarias.

Moreno, amigo de infância de Luizinho, nem precisou apelar a todos os seus infinitos argumentos, checados e confirmados com as fontes mais quentes do céu, purgatório e, por que não, do inferno...

Olha, Valéria, claro que houve o susto que todos sentem na passagem. Mas é só até chegar à conclusão de que, tirando as exceções previstas, o ditado “partir dessa para melhor” é mais que uma simples expressão.  Trata-se uma constatação científica que alguma alma rebelde, porém bem intencionada, enviou numa mensagem para ser disseminada no plano terrestre.

Luizinho, por exemplo, já chegou com sua estrutura montada. D. Sueli cuidando do gabinete, Nélson Ribeiro na assessoria de imprensa, Guaraci articulando vibrações para parques nacionais, mananciais e povos indígenas. Não precisa dizer que aí tem minha sabedoria oriental para conduzir esse processo fazendo a ponte com o gordo...

Amiga, pensa em Dindinha e Vó Mita tecendo um manto de amor. Sem mencionar a família. Começando com Dona Filhinha e seo Oscar Soares. Ele, enviando fachos energéticos de orgulhosa aprovação pelo filho que Luiz sempre foi. Trocava recuerdos celestiais com Lindberg Nunes Rocha sobre Poxoréo e Alto Garças.

Lembraram da primeira lei de acessibilidade de Mato Grosso, da primeira CPI proposta contra um governador no Brasil, da relatoria da Constituinte que, com um substitutivo integral, seria uma das mais modernas Constituições Estaduais do país.

Todos o receberam muito bem se dividindo para criar vibrações positivas para sua passagem. Dei alguns palpites. Você me conhece, né? Um em especial. A trilha sonora de sua chegada. Ninguém entendeu nada. João Gilberto, seu ídolo, sem ninguém pedir já sentado no banquinho aqui em cima afinava o violão esperando o silêncio absoluto pós Nina Hagen que abriu o percurso. A gente sabe a diversidade do gosto musical que ilumina aquela alma eclética...

Na literatura, aqui tem de tudo. Um mundo para ele. Mas tive que procurar no fundo da biblioteca a coleção de Tex Willer, verificando se não eram os exemplares que Lorenzo Falcão, pra implicar quando ele estava acidentado na adolescência, arrancava as últimas páginas e deixava sem final.

O ritual de passagem não poderia estar completo sem nossos abraços apertados. Os de João Canrobert, Chico Amorim e o meu! Ciceroneamos Luizinho até a parte esportiva do complexo. O deixamos nas mãos de João Batista Jaudy prometendo voltar assim que sua forma estivesse adaptada a essas novas paragens. O que esperamos, seja em breve. Temos muitas descobertas para apresentar a ele.

Vou terminar por aqui que o papel de carta é limitado. Deixo lembranças, meu apelo e incentivo para que você, e tantos outros que têm em Luizinho um exemplo, não desistam das lutas que travam por aí. Especialmente pela saúde e o SUS, meio ambiente (ela é bióloga!) e a democracia.

Vocês perderam um guerreiro. Ainda têm um exemplo a ser seguido, admirado e sempre lembrado. Uma inspiração nesses momentos tão difíceis.

Um sopro de beijo e um cheiro de terra molhada do cerrado no ar pra você e Lorenzo.

PS: Esqueci do recado. Avisar à Lídia que Charles está bem... 

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

1 de jun. de 2022

A marola e a borboleta, crônica de Valéria del Cueto


A marola e a borboleta

Texto e foto de Valéria del Cueto

Ah, cronista enclausurada. Aqui fala aquele extraterreste, Pluct Plact, cada vez mais possuído pelos (maus) hábitos humanos, nessa corrida louca para ver quem chega primeiro (e ultrapassa) a perfeição tão imperfeita da humanidade.

Um desses maus hábitos, mas não o pior, é deixar sem notícias a amiga que tanto me preveniu sobre o, digamos, desapego suicida dos ocupantes desse planeta.

Registro aqui que estou perdendo para a tal I.A., a Inteligência Artificial. Ela, agora, fala pelos mortos! Assimila as características e responde aos vivos como se fosse do além! E eu que duvidei de sua análise, a mesma que a levou ao isolamento voluntário nessa cela. Fiz questão de ganhar o mundo em busca de argumentos e informações sobre o desenvolvimento planetário. Hoje, trago notícias. Não as que gostaria de dar, mas as que dispomos.

Para começar de forma amena, finalmente deixamos de ser lendas e passamos a existir! Tudo registrado numa audiência no Congresso dos EUA sobre... OVNIS. Já se fala, inclusive, na existência de alienígenas em Júpiter. Acharam algo parecido com um umbral na paisagem de Marte. Isso é bom? Seria se o assunto não fosse tratado como um caso de defesa. O que os demais ocupantes do universo como... atacantes!

O que esperar de líderes que, do nosso último contato para cá, não satisfeitos em atravessarmos a epidemia da Covid-19, ainda começaram o que pode ser a terceira guerra mundial?

Só esse fato, o ataque da Rússia a Ucrânia, já dá uma ideia de quanto tempo faz que não chego a sua cela levado pelo raio de luar que entra pela fresta da janela. A guerra já dura três meses. Por causa dela o deslocamento de civis da Ucrânia já ultrapassou a casa os 6 de milhões de pessoas. A Rússia foi cancelada pelos países da OTAN e a maioria da União Europeia. O bagulho anda tão doido que a Finlândia e a Suécia deixaram de lado a neutralidade e pediram para entrar na OTAN. A Turquia está vetando o acesso. Putin retalia cortando o fornecimento de gás e energia para, entre outros países, a Alemanha. O Mac Donald vendeu suas 800 lojas na Rússia!

O castelo de cartas da economia mundial está desabando. A inflação galopa, o abastecimento rateia. De combustível, alimentos e outros produtos. Instabilidade é a sensação geral, cronista.

Estou querendo parar por aqui essa missiva porque as novidades só vão piorar. É em meio a pandemia, ilusoriamente quase controlada, que ressurge uma nova ameaça, a varíola dos macacos (que dos símios só leva o nome) e se espalha por vários continentes para disputar com as cepas da Covid-19. Essas que conseguiram romper as barreiras e atingir a população da Coreia do Norte, onde hão há cobertura vacinal contra o vírus. A China? Até lockdown em Xangai!

Se lá está assim, no Brasil as coisas não andam muito melhores. As eleições se aproximam e quem chega antes é o terror. Depois do Jacarezinho, a nova chacina do Rio de Janeiro para chamar de sua é a da Vila Cruzeiro, com 23 mortos. Dias antes de policiais rodoviários federais de Sergipe transformarem a caçamba de seu veículo em câmara de gás e matarem um motociclista “detido” por falta de capacete. Não há limite para a barbárie, amiguinha.

Estou citando casos pontuais registrados no banco de dados da minha nave. Todos enviados para as bases interplanetárias quem monitoram o planeta!

Eu, Pluct Plact, pergunto: como argumentar contra as possíveis medidas de “defesa” que os humanos pretendem tomar em relação aos demais habitantes do Universo? Dialogar com quem, em que termos?

Nem a natureza aguenta mais tantas agressões. Iakecan, o ciclone, as chuvas torrenciais no Nordeste, o frio fora de hora...

Por isso, é bom manter seu o isolamento, depois daquela fuga quase secreta carnavalesca. É melhor não fazer marola nesse momento. Sabe lá o efeito borboleta que ela pode causar?

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55

28 de abr. de 2022

Enfim, o título da Grande Rio. Fala, Majeté! - por Valéria del Cueto

Foi na encruza de Duque de Caxias que a esperança acendeu e firmou o ponto no carnaval 2022.
Enfim, o título da Grande Rio. Fala, Majeté!

“Fala Majeté! Sete Chaves de Exú” mostrou que o caminho para o título tão almejado nunca foi o do luxo e dos famosos que fazi am a fama da Grande Rio.

O pote de ouro no final do arco-íris estava bem ali, nas ruas, nas feiras, no carnaval, nas encruzilhadas, na história de Estamira, a catadora de lixo com problemas mentais, retratada no documentário de Marcos Prado, no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, que conversava com o orixá pelo telefone.

Confeccionado com restos de material do barracão, o carro da Grande Rio é uma obra de arte.

A façanha inédita era o objeto de desejo da comunidade de Duque de Caxias, município da região metropolitana do Rio de Janeiro, desde que a Grande Rio ancorou definitivamente no Grupo Especial, em 1993.

Seu desfile seduziu o público presente no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Ficará na memória como um dos mais empolgantes do… século!

A forte mensagem do Salgueiro: Resistência!

Não foi exatamente um carnaval tranquilo. A começar pelos problemas de estrutura, o que é de se estranhar depois do período conturbado de Marcelo Crivella na Prefeitura do Rio. Quem pensou que Eduardo Paes pegaria o trem na estação onde desembarcou no final de seus 8 anos de prefeitura perdeu feio a aposta.

Do credenciamento conturbado, passando pela falta de segurança no entorno e a precariedade do sistema de transporte, até chegar a estapafúrdia novidade, a iluminação milionária da pista, o que se viu foi uma sequência de erros e equívocos inaceitáveis para quem não era marinheiro de primeira viagem.

Mesmo assim, Dudu Boa Praça fez a fama e se sentiu à vontade pontificando em cada escola mostrando sua  intimidade com o povo do samba.

A nova iluminação da pista cantada em verso e prosa é, para dizer o mínimo, um desconforto para o público nos intervalos entre as apresentações. Ninguém via ninguém entre as idas e vindas erráticas dos fachos de luzes e a troca das cores performáticas do equipamento composto por 144 moving lights, 144 projetores de led, duas mesas de controle DMX, rede de controle, 24 quilômetros de fibra, etc, ao custo aproximado 16 milhões de reais.

Nos desfiles a luz fixa, mas irregular, dificultou os registros de vídeos e fotos e, com desenho luminoso antes e depois das escolas, se perdia a profundidade das imagens. Prejuízo geral. Especialmente para quem pagará a extravagância desnecessária gerada por meio de uma Parceria Público Privada: o povo carioca.   

No quesito sonorização, em vez de excesso, houve ausência de qualquer melhoria no sistema. Esse, sim, um gargalo que a organização do carnaval não consegue solucionar, apesar de ser elemento essencial ao desempenho das agremiações e solicitação recorrente.

As deficiências foram minimizadas pelas saudades sentidas por milhares de componentes e o público, ávidos por sentirem, novamente, brotar a energia do amor incondicional que o Desfile das Escolas de Samba desperta em cada folião.

DESFILE DAS CAMPEÃS

A forte mensagem do Salgueiro: Resistência!

Foi por um décimo que o Salgueiro ficou entre as 6 escolas do desfile das campeãs. Desbancou a Mangueira, com o mesmo número de pontos da Mocidade, mas uma posição acima pelo critério de desempate. “Resistência”, o enredo de Alex de Souza, é um libelo à força da raça, à luta do povo negro e suas conquistas.

Lucinha Nobre e Marlon Lamar, o casal da Portela.

Resistência segue na fita da segunda escola a se apresentar, agora em sua forma orgânica, o Baobá. “Igi Osè Baobá”, enredo da Portela, fala do pilar que une o céu a terra, a árvore da vida, da… resistência. A porta-bandeira Lucinha Nobre, vencedora do Prêmio Estandarte de Ouro, desfalcará a escola de Madureira. Indo dar um beijo em seu irmão durante a passagem da escola que fechou a disputa do Grupo Especial, no sábado, Lucinha quebrou o pé.
Iaiá do Cais Dourado, do samba enredo de Martinho, representada pelas baianas da Vila.

Esse irmão é Dudu Nobre um dos autores do samba sobre Martinho da Vila que deu o quarto lugar à Vila Isabel num desfile pra lá de animado. Saudar a vida e a carreira do compositor só poderia ser dessa maneira. Uma festa familiar e popular na avenida.  
Eita família animada! Dandara Ventapane, porta-bandeira do Paraíso do Tuiuti, se diverte na homenagem a seu pai, Martinho da Vila.

Essa animação vai continuar com a Viradouro, a terceira colocada. Talvez, sem estar numa disputa, o delicioso samba da “carta sincera” possa ser levado em um andamento um pouco menos acelerado, o que tornará a passagem da escola de Niterói mais leve e solta.
Ludicidade na concepção visual da história de amor do Pierrô da Viradouro.

O quilombo nilopolitano ocupará a Sapucaí ao som inconfundível da voz de Neguinho da Beija-Flor impondo, mais uma vez, a força da comunidade que quase levou mais um título com o enredo de Alexandre Louzada “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor”.
Recado do Quilombo Beija-Flor sobre racismo e democracia.

Conhecida como a escola dos globais e do glamour, foi com a chegada de dois carnavalescos que estreavam no grupo Especial, Leonardo Bora e Gabriel Haddad, que a Grande Rio deu uma guinada na temática de seus enredos. Se voltou para o próprio universo, foi vice no último carnaval. Bateu, mais uma vez, na trave com o enredo sobre o famoso babalorixá Joãozinho da Goméia. O samba dizia: “Eu respeito seu amém, você respeita minha fé”.

Não por acaso o tema deste carnaval foi lançado no dia 13 de junho, dia do orixá Exu. A divindade é o senhor dos caminhos, a energia do movimento que a igreja sincretizou em demônio, em ser do mal. Desmistificar essa visão era um dos objetivos do enredo caxiense que levantou a Sapucaí. Levou o campeonato, o primeiro da Grande Rio.
Oxum é destaque na criação de Alexandre Louzada, carnavalesco da Beija-Flor.

O desfile das Campeãs do RJ será transmitido no sábado, pelo Multishow, a partir das 21:15h, horário de Brasília.

Ordem dos desfiles: Salgueiro, Portela, Vila Isabel, Viradouro, Beija-Flor e Grande Rio.

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “É carnaval”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

A pomba-gira e a sedução do povo de rua

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