Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Ainda os créditos - crônica de Valéria del Cueto

26 de set. de 2025

Ainda os créditos - crônica de Valéria del Cueto

Ainda os créditos

Texto e foto  Valéria del Cueto

Só acaba quando termina. Para que, depois, seja possível à produção fechar os créditos finais. Aqueles que mencionei no último texto. Os dos filmes e, também, de quem participou do julgamento do ex-presidente e mais outros 6 integrantes do Núcleo 1, no STF.  

Tenha a quase certeza de que após a finalização da lista na pós-produção haverá a possibilidade de faltar algum nome na relação de colaboradores.

Seja por esquecimento involuntário ou até mesmo proposital. Afinal, nada é perfeito no mundo, nem a relação dos participantes de um trabalho coletivo. Ela pode ser quase generativa, interminável.

Não dá para medir esforços na busca de informações e reconhecimento para a posteridade de todos os técnicos, atores e colaboradores, sejam pessoas físicas ou jurídicas que participam da realização de uma obra idealizada por alguns e construída por muitos, no caso de obras artísticas. Já em outros casos, pode ser o inverso.  Sonhada por muitos, mas concretizada por poucos.

A não ser que...

O poder de contar a história esteja nas mãos de um único componente, cabendo a ele todos os papéis da iniciativa.

O povo, na sua sabedoria popular, diz que esse tipo de empreendedor é um autêntico representante do “bloco do eu sozinho”.

Foi o que o mundo assistiu na abertura da Assembleia Geral da ONU, em New York, horas antes do raiar da primavera, na tarde do dia 22 de setembro.

Primeiro, se manifestou o autor de uma obra coletiva. O presidente Lula, em sua fala ao abrir os trabalhos do encontro de quase duzentos países, defendeu a multiplicidade de ideias, no esforço coletivo. Em relações baseadas no diálogo e objetivos comuns à maioria dos membros.

Sublinhou as ações urgentes no que diz respeito ao fim dos conflitos mundiais e a preservação do planeta, alertando às graves consequências das mudanças climáticas.

Seu pronunciamento foi feito no tempo aproximado de 15 minutos solicitado pelos organizadores do encontro dos líderes mundiais.

Em vários momentos foi aplaudido pelos participantes, como no apelo pelo fim da guerra genocida em Gaza, no pedido do fim do embargo a Cuba, no alerta sobre as agressões ao planeta, a crise do clima e ao conclamar os países a fortalecerem a própria ONU.

Em seus créditos pessoais fez questão de lembrar de José Mujica, ex-presidente uruguaio e o Papa Francisco, ambos defensores da paz e promotores da igualdade entre os povos.

Que contraste com o orador que o seguiu na tribuna, autêntico representante do bloco do eu sozinho. Incapaz de ter a generosidade de delegar a terceiros a autoria de suas “realizações”, falou mal da organização do evento e da própria ONU já na abertura de seu discurso.

Nele, trouxe para si todos os “méritos” que considera relevantes nos feitos que agitam o conturbado cenário mundial, quase em colapso turbinado por sua atuação.

Como se, além de proprietário do campinho fosse, também, o dono da bola.

Respeito, que é bom, nem pelo tempo estipulado de fala.

Foi quase uma hora de uso do microfone, desconsiderando o protocolo estabelecido e os discretos alertas sobre o andamento da programação prevista.

Finalizou decretando que, no tempo de um anúncio de televisão, trinta e muitos segundos, algumas palavras e um abraço, concluiu que o presidente Lula é um “very nice man”, informando que haverá um encontro entre eles na próxima semana.

Mais uma vez, os créditos finais desse evento terão que ser reescritos. Dessa vez para incluir nos agradecimentos o nome do operador de teleprompter, o equipamento que o representante dos EUA reclamou ter falhado e provocou, inclusive, um pedido de formal de investigação à ONU assim como, também, a engasgada da escada rolante da sede da organização em sua gloriosa chegada.

Ah, o novo registro será de um integrante do entourage do próprio Donald Trump. A ONU esclareceu que o sistema era operado por um membro de sua selecionada equipe...

No mais, que venha a primavera e o aguardado encontro entre os presidentes.

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Não sei onde enquadrar” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com


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