![]() |
Ainda os créditos
Texto e foto
Valéria del Cueto
Só acaba quando termina. Para que, depois, seja
possível à produção fechar os
créditos finais. Aqueles que mencionei no último texto. Os dos filmes e,
também, de quem participou do julgamento do ex-presidente e mais outros 6
integrantes do Núcleo 1, no STF.
Tenha a quase certeza de que após a finalização da
lista na pós-produção haverá a possibilidade de faltar algum nome na relação de
colaboradores.
Seja por esquecimento involuntário ou até mesmo
proposital. Afinal, nada é perfeito no mundo, nem a relação dos participantes
de um trabalho coletivo. Ela pode ser quase generativa, interminável.
Não dá para medir esforços na busca de informações
e reconhecimento para a posteridade de todos os técnicos, atores e
colaboradores, sejam pessoas físicas ou jurídicas que participam da realização
de uma obra idealizada por alguns e construída por muitos, no caso de obras
artísticas. Já em outros casos, pode ser o inverso. Sonhada por muitos, mas concretizada por poucos.
A não ser que...
O poder de contar a história esteja nas mãos de um
único componente, cabendo a ele todos os papéis da iniciativa.
O povo, na sua sabedoria popular, diz que esse tipo
de empreendedor é um autêntico representante do “bloco do eu sozinho”.
Foi o que o mundo assistiu na abertura da Assembleia
Geral da ONU, em New York, horas antes do raiar da primavera, na tarde do dia
22 de setembro.
Primeiro, se manifestou o autor de uma obra
coletiva. O presidente Lula, em sua fala ao abrir os trabalhos do encontro de
quase duzentos países, defendeu a multiplicidade de ideias, no esforço coletivo.
Em relações baseadas no diálogo e objetivos comuns à maioria dos membros.
Sublinhou as ações urgentes no que diz respeito ao
fim dos conflitos mundiais e a preservação do planeta, alertando às graves
consequências das mudanças climáticas.
Seu pronunciamento foi feito no tempo aproximado de
15 minutos solicitado pelos organizadores do encontro dos líderes mundiais.
Em vários momentos foi aplaudido pelos
participantes, como no apelo pelo fim da guerra genocida em Gaza, no pedido do
fim do embargo a Cuba, no alerta sobre as agressões ao planeta, a crise do
clima e ao conclamar os países a fortalecerem a própria ONU.
Em seus créditos pessoais fez questão de lembrar de
José Mujica, ex-presidente uruguaio e o Papa Francisco, ambos defensores da paz
e promotores da igualdade entre os povos.
Que contraste com o orador que o seguiu na tribuna,
autêntico representante do bloco do eu sozinho. Incapaz de ter a generosidade
de delegar a terceiros a autoria de suas “realizações”, falou mal da
organização do evento e da própria ONU já na abertura de seu discurso.
Nele, trouxe para si todos os “méritos” que considera
relevantes nos feitos que agitam o conturbado cenário mundial, quase em colapso
turbinado por sua atuação.
Como se, além de proprietário do campinho fosse,
também, o dono da bola.
Respeito, que é bom, nem pelo tempo estipulado de
fala.
Foi quase uma hora de uso do microfone,
desconsiderando o protocolo estabelecido e os discretos alertas sobre o
andamento da programação prevista.
Finalizou decretando que, no tempo de um anúncio de
televisão, trinta e muitos segundos, algumas palavras e um abraço, concluiu que
o presidente Lula é um “very nice man”, informando que haverá um encontro entre
eles na próxima semana.
Mais uma vez, os créditos finais desse evento terão
que ser reescritos. Dessa vez para incluir nos agradecimentos o nome do
operador de teleprompter, o equipamento que o representante dos EUA reclamou
ter falhado e provocou, inclusive, um pedido de formal de investigação à ONU assim
como, também, a engasgada da escada rolante da sede da organização em sua
gloriosa chegada.
Ah, o novo registro será de um integrante do entourage
do próprio Donald Trump. A ONU esclareceu que o sistema era operado por um
membro de sua selecionada equipe...
No mais, que venha a primavera e o aguardado
encontro entre os presidentes.
*Valéria del Cueto é jornalista e
fotógrafa. Da série “Não sei onde enquadrar” do SEM FIM...
delcueto.wordpress.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário