![]() |
Foto: Valéria del Cueto. Imagem protegida pela lei 9610/1998 |
Os créditos finais
Texto e foto
Valéria del Cueto
Um dia, e sinto que será em breve, essa história vai
virar filme. Daqueles de suspense, com toques psicológicos e referências hitchcockianas
dirigido por alguém com o estilo, por exemplo, de Bruno Bini, cineasta mato-grossense
que arrebentou o Festival de Gramado ganhando quatro Kikitos!
O roteiro da futura película cheio de meandros e
detalhes nos obrigará a manter os olhos grudados na tela. A atenção ficará voltada
aos diálogos e às sequências de onde, certamente, surgirão pistas que levarão ao
clímax da obra com a elucidação do caso antes, se possível (o que nem sempre
acontece), do take derradeiro e o começo dos créditos.
Estes, os créditos finais, não serão breves
enquanto durarem. Virão longos, repletos de nomes conhecidos não apenas pelos
técnicos e a chamada turma do cinema, a que costuma ficar na sala escura para saudar
e aplaudir com o reconhecimento no olhar os ocupantes de cada função na
execução do projeto cinematográfico.
Para quem não sabe (porque só vê aquele monte de
letrinhas subindo velozes num cantinho das telas das TVs dos streamings) por ali
passa por seus olhos a ficha técnica do filme. Nela, aquela correria
desenfreada, aparecem informações que revelam ao público por quem, como, quando
e onde foi realizada a obra que assistimos.
Se a informação é democrática no conteúdo, o mesmo
não se aplica a forma. Existem nomes que aparecem em cartelas únicas. Isso é
definido, inclusive, em contratos entre profissionais, empresas e os
responsáveis por levar o produto audiovisual às telas. Patrocinadores
produtores, diretores e os cargos mais importantes da equipe técnica merecem
mais destaque. Assim como os atores principais. Para o restante do elenco pode
ser usada uma lista em ordem alfabética ou de aparição.
Na sequência vem a equipe técnica engatada, talvez,
num carrossel em que os nomes vão desfilando pela tela divididos por setores e
funções. Da criação à finalização, passando pelo desenvolvimento do projeto, a
produção, execução, pós produção, distribuição...
Quem participou do filme tem seu nome ali registrado.
Do mais importante figurão ao mais humilde trabalhador e as empresas que
prestaram serviços. É pouco? Não. Ainda faltam os agradecimentos a todos os que,
de uma maneira ou de outra, colaboraram, apoiaram e de alguma forma, incentivaram
sua realização.
No cinema, sou daquelas que fica até o fim dos
créditos. Espero as luzes acenderem e a tela apagar. Sei que ali estão informações
importantes e surpresas que aumentam ainda mais o prazer que a obra
cinematográfica me proporciona.
Sempre foi assim. Pensa, por exemplo, no prazer de
procurar o nome do meu pai em filmes como “Janete” de Chico Botelho; “Avaeté
semente da vingança”, de Zelito Viana; “Memórias do Cárcere” e “Estrada da Vida”,
de Nelson Pereira dos Santos... Cito apenas obras do início de sua carreira
quando o coronel foi para a reserva do Exército e pode, finalmente, cair dentro
do mundo das artes oficialmente. Sei que ele vai dizer que não foi bem desse
jeito, mas é como me lembro de criança.
Na memória cinematográfica familiar adolescente também
surge o filme de Geraldo Miranda “Um brasileiro chamado Rosaflor”, com Joana Fomm
e Stepan Nercessian, em que Lucia, minha mãe, fez a cenografia, e passa por uma
incrível viagem de prospecção sobre a Retirada da Laguna, com Nelson Pereira
dos Santos e uma equipe cinematográfica, por Mato Grosso (ainda uno) e pelo
Paraguai.
Esses créditos não vi nos filmes, porque o projeto
da Guerra do Paraguai nunca foi em frente e não se tem notícias do filme de
Geraldo. Se existe uma cópia nem desconfio qual é o seu paradeiro. Achei a
informação da equipe técnica na Cinemateca Brasileira.
Se hoje fazer cinema é um sonho realizável de
muitos, na época, década de 1970, era maluquice quixotesca de poucos. Cresci no
meio dessas viagens cinematográficas. Por isso, os créditos, para mim, são um
filme dentro do filme. Nele me reconheço por afinidade.
E é por ela, a afinidade, que nos vejo na imensa
lista de nomes que finalizará o filme do julgamento que paralisa o Brasil agora
em setembro. Não é preciso ser vidente, nem estatístico de instituto de pesquisa,
para afirmar que sua audiência será maior do que a dos capítulos da morte de
Odete Roitman da novela Vale Tudo, a original.
Nesse futuro sucesso do cinema nacional, seja como
personagem, técnico cinematográfico, ou nos agradecimentos deveriam constar, nas
cartelas de encerramento, os nomes de cada brasileiro que participam ativamente da
vida em sociedade de nossa nação.
Uma sugestão pra você, leitor que me segue no rumo
do Sem Fim: espere os créditos finais e os acompanhe atentamente para, então,
aplaudir de pé o filme “Brasil 2025, o julgamento”.
Ele começou a ser produzido há alguns anos e todos
fazemos parte dessa equipe. Afinal, certamente, somos peças atuantes no
tabuleiro do jogo registrado nessa aventura desde que depositamos os votos, deixando
nossas escolhas registradas, nas urnas espalhadas por todo o país nas eleições presidenciais
de 2022...
*Valéria del Cueto é jornalista e
fotógrafa. Da série “Não
sei onde enquadrar” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário