João Gonçalves Vianna Filho, advogado e poeta uruguaianense
(03/10/1890 – 11/04/1934)
Na voz do vento geme a voz de uma saudade...
Quando escuto essa voz, imensamente triste,
Doce recordação meu coração invade
De algum amado ser, que há muito não existe.
E ponho-me a lembrar... Evoco o meu passado
E, recordando o tempo alado que lá vai,
Ao meu paterno lar me sinto transportado,
E vejo minha Mãe ao lado de meu Pai.
E me vejo criança a rir entre as crianças,
Naquela quadra azul dos meus primeiros anos,
Quando era esta minha alma um ninho de esperanças
E eu tinha um coração alheio aos desenganos...
Sempre o vento a falar: que triste é a voz do vento!
Outra lembrança mais... Como isto foi, nem sei...
Vento, não fales mais! Meu doido pensamento
Vai da terra até Deus, que há tanto abandonei.
Eu conheço esta voz, já quanta vez a ouvi!
Será de minha Mãe? Há tanto que ela é morta!
É a voz das ilusões, quem sabe? que eu perdi,
E agora vêm, bater, de novo, a minha porta.
“Longe o espírito vai”... Vai longe o pensamento...
Sinto dentro do peito uma opressão insana,
E, em sonhos, me transporto, em rápido momento,
À terra onde nasci, a minha Uruguaiana.
De lá me vem, talvez, e oculta-se em minha alma,
Nestas horas de paz, tão suaves e divinas,
Esta tristeza boa, esta saudade calma,
Como aquela que têm as suas casuarinas.
São bocas a falar que há muito emudeceram
Num mistério sem par, por toda a eternidade.
Ouço na voz do vento a voz dos que morreram
Na voz do vento geme a voz de uma saudade!
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Quando escuto essa voz, imensamente triste,
Doce recordação meu coração invade
De algum amado ser, que há muito não existe.
E ponho-me a lembrar... Evoco o meu passado
E, recordando o tempo alado que lá vai,
Ao meu paterno lar me sinto transportado,
E vejo minha Mãe ao lado de meu Pai.
E me vejo criança a rir entre as crianças,
Naquela quadra azul dos meus primeiros anos,
Quando era esta minha alma um ninho de esperanças
E eu tinha um coração alheio aos desenganos...
Sempre o vento a falar: que triste é a voz do vento!
Outra lembrança mais... Como isto foi, nem sei...
Vento, não fales mais! Meu doido pensamento
Vai da terra até Deus, que há tanto abandonei.
Eu conheço esta voz, já quanta vez a ouvi!
Será de minha Mãe? Há tanto que ela é morta!
É a voz das ilusões, quem sabe? que eu perdi,
E agora vêm, bater, de novo, a minha porta.
“Longe o espírito vai”... Vai longe o pensamento...
Sinto dentro do peito uma opressão insana,
E, em sonhos, me transporto, em rápido momento,
À terra onde nasci, a minha Uruguaiana.
De lá me vem, talvez, e oculta-se em minha alma,
Nestas horas de paz, tão suaves e divinas,
Esta tristeza boa, esta saudade calma,
Como aquela que têm as suas casuarinas.
São bocas a falar que há muito emudeceram
Num mistério sem par, por toda a eternidade.
Ouço na voz do vento a voz dos que morreram
Na voz do vento geme a voz de uma saudade!
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