Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Escrever, por Gabriel Novis Neves

26 de out. de 2015

Escrever, por Gabriel Novis Neves


Escrever 

Nos bancos escolares do ensino básico somos obrigados a escrever as tarefas de casa. Na Faculdade de Medicina aprendemos a escrever anamneses, que são a história dos pacientes.  
A queixa principal sempre é o título do artigo. A investigação científica dos sinais e sintomas compõe o conteúdo da matéria, no caso, as informações para o diagnóstico da doença, causa da vinda dos pacientes ao consultório. 
Sempre desconfiei que todo médico, por ofício, é um escritor em potencial. 
Pelos anos de exercício de profissão, esses textos vão sendo aprimorados e cada um desenvolve a sua técnica de passar suas perguntas técnicas ao papel. 
Esses escritos são confidenciais e só por ordem judicial podem ser revelados. 
Publicar anamneses em revistas e jornais, nem pensar! 
Pois bem, alguns psiquiatras especialistas em análise recomendam, para auxiliar na cura da autoestima perdida, a publicação de textos livres escritos pelos seus clientes, uma espécie de catarse dos seus sofrimentos. 
É um remédio amargo expor seus conceitos e opiniões ao domínio público para quem não é profissional em comunicação. 
Como é para recuperar a saúde perdida, com muito esforço alguns “heróis” aceitam essa terapêutica. 
Os primeiros artigos publicados causam um constrangimento pior que a autoestima perdida. 
Adquirido o hábito de escrever e publicar os textos e metabolizar o julgamento dos leitores, o “paciente” torna-se outra pessoa. 
Sente-se útil servindo de ponte entre semelhantes, e o ato de escrever passa a ser uma necessidade. 
Quem escreve modifica a sua própria vida e, às vezes, a de outros. 
Aprendi com a jornalista Valéria del Cueto a colocar no papel, sem nenhuma lógica, tudo que vem à cabeça. 
Nessa fase quanto menos se pensar melhor - diz a minha professora da “Ponta do Leme”. 
A fase seguinte é tentar ordenar aquele lixo em texto final. 
Sempre foi assim, sendo que a única coisa no mundo moderno que mudou foi a velocidade da informação. 
O ato de escrever, porém, produz uma coisa maior na nossa alma, que é a paz.

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