Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Beija-flor campeã, Tuiuti vice “O quilombo da favela é sentinela da Libertação!”

17 de fev. de 2018

Beija-flor campeã, Tuiuti vice “O quilombo da favela é sentinela da Libertação!”

CARNAVAL DO RIO: Estética realista, críticas ácidas, sambas de arrancarem lágrimas dos olhos. O título é de Nilópolis. Paraíso do Tuiuti surpreende.

Beija-flor campeã, Tuiuti vice

“O quilombo da favela é sentinela da Libertação!”

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Dessa vez minha bola de cristal não vai errar. Informa que a TV Brasil atingirá, na noite desse sábado, a partir das 21:15h, sua maior audiência do ano, quiçá da década! Sintonize a emissora estatal para assistir ao espetacular Desfile das Campeãs do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro de 2018.

Na Sapucaí, começará o ano eleitoral. Ao vivo e a cores para quem quiser acompanhar. Vem por aí tiro, porrada e bomba pelos os usurpados, ou ainda não, “direitos constituídos”. Depois de apanhar durante todo o ano de 2017 o povo do carnaval dá o recado em seu campo de jogo. No templo do carnaval, a Passarela do Samba, da síntese dos anseios populares, vem a catarse.

A primeira escola a desfilar será a Mocidade Independente de Padre Miguel. Ela veio ali, na ponta da apuração, até que as notas de fantasias deram a rasteira que a levou à sexta posição. Sua passagem, com seu samba num andamento um pouco lento para os especialistas, embalou a passagem da Santíssima Trindade, Nehru, Dom Hélder, Chico Xavier pelo Sambódromo e gerou belas imagens sob um dramático amanhecer carioca.


Com a verde e rosa aconteceu o contrário. Fotografando a bateria testemunhei os esforços dos meninos da Mangueira para darem conta do recado. Fantasias de bate-bola incluem máscaras tradicionais. Elas dificultavam a comunicação visual entre ritmistas, diretores e os Mestres Rodrigo Explosão e Vitor Art. E aí, foi superação. Do calor da indumentária à falta de elementos essenciais para a direção musical: o olhar e expressão para incentivar os componentes.


O carnavalesco Leandro Vieira ao interpretar a personagem não considerou a “persona” do ritmista. Gabaritou em fantasia, mas em bateria e comissão de frente perdeu. Teremos, certamente, uma ótima apresentação! A crítica carnavalizada e irreverente ao prefeito Crivella acertou em cheio. Se torna mais relevante no desfile de hoje depois dos temporais e outros problemas que colapsaram o Rio nos últimos dias. Ser o Judas do desfile é pouco, de acordo com os cariocas, diante da atuação do alcaide que está em viagem ao exterior.


A quarta colocada foi a Portela. A saga dos judeus que vieram para Pernambuco e, expulsos, fundaram New York, remete à crise dos refugiados pelo mundo e conta histórias de superação e pirataria. A carnavalesca Rosa Magalhães perdeu pontos em alegoria e fantasia. A comissão de frente e o samba também...

O Salgueiro bateu na trave com as “Senhoras do Ventre do Mundo”. É aqui que Mato Grosso entra no carnaval 2018. O quilombo do Quariterê é citado no enredo e no samba. É um dos lugares onde ecoam saberes representados por Teresa de Benguela, uma das heroínas quilombolas. Foi justo nesse último quesito que perdeu um décimo e botou o campeonato nas mãos da Beija-flor. A belíssima alegoria da Pietá Negra marcou o desfile.


A surpresa do ano foi, sem dúvida, a volta por cima do Paraíso do Tuiuti. De vilã do ano passado, graças a um dos acidentes que marcaram o carnaval de 2017, à unanimidade foi um longo caminho. Que passou pelo samba encomendado ao compositor Moacyr Luz e parceiros. Ele garantiu, no desempate, o inesperado vice-campeonato. A crítica contundente, a abertura impactante de sua comissão de frente e a - cereja do bolo -  o vampiro Temer tirando os direitos dos trabalhadores, atingiram em cheio o imaginário popular, sintetizando a insatisfação coletiva.


Embalada por um belo samba, o mais acessado nas mídias sociais, a Beija-flor, mais uma vez, arriscou uma mudança estética. Teatralizou, de forma realista e explícita as mazelas brasileiras. Descarnavalizou sua leitura. Não eram foliões, ou componentes de escola desfilando. Era eu, ou qualquer outra pessoa, ali. Vivendo a realidade. Nua e crua. Poderia ser você em qualquer das situações retratadas. Assim mesmo, sem fantasia...


 Para encerrar, um registro do passado dançou na bola de cristal de madame Valéria. Imaginem se Luciano Hulk tivesse virado enredo como chegou a ser cogitado lá pelo meio do ano? Ui...

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “É carnaval”, do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com

Transmissão: TV Brasil, 21:15h 
Ordem dos desfiles:
Mocidade Independente
Mangueira
Portela
Salgueiro
Paraíso do Tuiuti
Beija-flor.


Edição Enock Cavalcanti
Diagramação Luiz Márcio – Gênio

Studio na Colab55

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