É você!
Texto e foto de Valéria del
Cueto
Há vários anos,
verifico aqui nos dados compilados, que eu, Pluct Plact, o extraterreste,
pipoco pelo planeta trazendo as notícias pelo raio de luar dançarino que atravessa
a janela de sua cela. É a fresta. Hoje, afirmo com tristeza ser cada vez mais
difícil manter seu interesse nessa conexão interplanetária com o mundo
exterior.
Dessa vez
esperei o fim do trânsito de mercúrio retrógrado (a gente tem que apelar pra
tudo aprendi, a duras penas, por aqui) para ver se as tensões aliviavam com a
abertura dos caminhos astrológicos. Não sei não... Só sei que não dava para deixar
passar o período que você mais gosta, a pré-folia, com sua imaginação correndo
solta e projetando o que seria o carnaval que, lamento informar, está aí, mas
de um jeito diferente.
Carnaval de
rua? Não vai ter. Ensaios técnicos na Sapucaí? Também não. Desfiles das escolas
de samba? Nem pensar. É a pandemia da ignorância e do descaso com a maior festa
popular do planeta e seus integrantes. 2022 é o ano do arremedo. Não pode a
festa do povo, a não ser que seja paga.
Sorte de
quem não teve que explicar o atraso nas obras da Sapucaí. Não está pronta. Como
não esteve para os ensaios técnicos, de casais de mestre-sala e porta bandeira,
comissões técnicas, alas coreografadas e baterias nos meses que antecederiam a
folia. Ensaios de rua também foram suspensos a pedido. Mas quadras lotadas e
festas estiveram liberadas em janeiro.
O carnaval
foi transferido por decreto para abril (já sei, vai dizer que é sacrilégio, não
é?). Primeiro a quaresma, depois a páscoa e aí vem a folia. Mais um cavalo para
a festa de São Jorge. Difícil assimilar? Então segura essa: para o lançamento de
uma novidade, a marca Rio Carnaval, haverá na Cidade do Samba um evento com
todas as escolas do grupo especial.
Dois dias
de apresentações no palco com os sambas, pavilhões, baianas, baterias e... um mini
desfile na pista interna do complexo carnavalesco. 50 minutos por escola.
Parece piloto para o nirvana das transmissões da TV. Pra que 4.000 componentes
se o quadro fica cheio com 150 foliões? Tipo o antigo Maraca e o novo.
Não
estranhe, cronista, a nova marca. Depois da pesquisa indicar que os ícones referências
da festa são os pavilhões das agremiações, sabe o que se faz? Pasteuriza e
resume o peso simbólico das bandeiras em tiras ambulantes coloridas. Não tente
entender cronista, a não ser depois que assistir a explicação.
Feche os
olhos e se deixe levar pela águia, o beija-flor, o surdo, as coroas e o
imagético que está em seu coração e mente de foliã. Mas não faça como a
freirinha carmelita. Nos dias de folia não pule o muro! A realidade está muito
diferente aqui fora.
O espaço
está acabando. Só dá tempo de uma rápida pincelada em assuntos, digamos,
secundários. Canadá, EUA, França, entre outros países europeus, enfrentam uma
onda ultradireita negacionista antivacinas que rasga o mapa no inverno do hemisfério
norte e chega a Austrália no do sul. Caminhoneiros na fita. Ainda não chegou ao Brasil que pode ter tido
seu pré-teste em setembro, lembra?
Como se não
bastasse, há a eminência de guerra na Ucrânia envolvendo as maiores nações mundiais.
Tudo junto e misturado com a turnê do mandatário brasileiro à Rússia. Todos recomendam
não ir, o que para ele é um sim.
Dizem que o
poço até aqui de frustrações e violência ainda não transbordou por causa dos
Jogos de Inverno em Beijing. Ele reúne esportistas de todas as nações
envolvidas. Aguardaremos o rumo dos acontecimentos após os sempre espetaculares
fogos de artifícios com expertise chinesa que encerrarão o evento mundial.
É muita
insanidade, cronista? Depois, dizem que a louca é você...
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Das séries “É carnaval” e “Fábulas Fabulosas”
do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
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