De cabeça pra baixo
Texto e foto de Valéria del
Cueto
Os fatos (atenção,
eu disse fatos e não notícias), atropelam o já conturbado e pouco prazeroso
cotidiano.
Subindo a
rua um toco de cigarro acesso sendo arremessado por um armário barbudo em
direção ao meio fio atravessa o caminho natural de quem transita na via pela
calçada.
Na sequência
uma motocicleta, das grandes, desce na banguela evitando a contramão. O piloto
e o carona deslizam velozes impávidos pelo calçamento de pedras portuguesas,
desviando e fazendo cara feia pros pedestres que circulam indo ou vindo do
metrô.
Na esquina
o vermelho da sinaleira não intimida o motorista do buzão. Nenhum sinal de uma
simples intenção de reduzir a velocidade, nem mesmo ao passar pela faixa de
segurança do cruzamento movimentado.
Esses eventos
ocorreram num curtíssimo espaço de tempo. Menor que uma performance tiktokeana,
quiçá no espaço de uns 5 stories instagrâmicos.
Diante dos
alertas deu pra sentir que era melhor seguir pelas sombras das amendoeiras coloridas
pelo outono por ruas menos movimentadas em direção a um lugar em que pudesse
sacar o caderninho.
Não vou
dizer onde para não dar margem ao argumento de que este é um texto “localizado”.
Nem pensar! Como eu e meu celular essa escrevinhação desligou (não, desativou
como é correto definir) o modo localização.
O que me
interessa é o sol. Esse, que brilha em qualquer lugar e, ultimamente, cospe
fogo e ondas magnéticas em direção a nosso já tão combalido planeta. E nem
pense em jogar a responsabilidade dos calorões, incêndios, enchentes,
chuvaradas, nevascas e afins no astro rei. Os protagonistas dessa tragicomédia
somos nós, estúpidos, inconsequentes e prepotentes seres humanos.
Qual um
dominó gigante chutamos, não apenas a pedra original das mudanças climáticas,
como ainda jogamos as peças para servir de lenha na fogueira do desastre quase
irreversível.
Tá vendo
porque tenho evitado manifestações croniquescas?
Não é que
não queira dar o recado. É que sei que, para a maioria, ele entra por um ouvido
e sai pelo outro sem nenhum grau de assimilação. Não há argumentos que se
sobreponham aos fatos e nem a esses estão dando a mínima bola.
Por isso, o
que (ainda) me faz escrever é deixar para o futuro algumas observações desse
momento único da história contemporânea. Aquele em que o ser humano parece ter
ligado, com o perdão da palavra, o phoda-se!
Para o
golpe anunciado que se aproxima. À entrega da Amazônia a bandidos e redes
internacionais, (sob os quepes dos militares que deveriam defender o
território, mas ocupam cargos burocráticos em gabinetes e estão mais
preocupados com suas candidaturas a políticos profissionais, onde o butim é
maior e não deixa rastros). Para mais um passo da agonia do Pantanal, carimbada
com o arcabouço legal ardilosamente tramado pelos deputados da Assembleia Legislativa
de Mato Grosso.
A aprovação
do PL 561/22 libera a pecuária extensiva em áreas de preservação
e capricha nas alterações de pontos chaves para a manutenção do bioma. Sabe o
que falta para virar lei? A assinatura de Mauro Mendes, o garimpeiro cria de
Blairo Maggi, agraciado com título de “Motosserra de Ouro” que, em breve,
voltará a pontificar nas paradas de sucesso.
As
barbaridades explodem como os humores do sol magnético. E, sim, deixarão
sequelas permanentes.
Cá entre
nós, queria muito ficar em silêncio e me “localizar” em minhas visões,
normalmente tão poéticas e otimistas...
Mas, quer
saber? Não dá. Pelo menos enquanto houver uma única chance de não nos entregarmos
aos dementadores que circulam livremente para tirar nossas esperanças de dias
melhores.
É hora de
pecar por excesso, não por omissão!
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Parador Cuyabano” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
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