Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Já é Carnaval!

19 de fev. de 2009

Já é Carnaval!

Quando chega o carnaval o clima que se instala, me traz à memória os tempos de adolescência na pequena cidade do interior de Minas.
O sábado, rigorosamente a primeira noite de folia, já amanhecia diferente. Expectativa no ar que vibrava aguardando os sons estranhos que invadiam a rua Direita, a principal da cidade, sobre a qual se debruçava o alpendre da casa de minha mãe.
Como se fosse hora marcada, às sete horas da noite, começava, oficialmente, o carnaval. O primeiro daqueles sons estranhos a invadir a rua era um apito tocado há anos pelo Zé leiteiro, anunciando informalmente, a instalação da Corte de Momo, para seu breve reinado. Devo acrescentar que o Zé leiteiro, nos outros 361 dias do ano, só era visto na cidade, tocando o cavalo que puxava a charrete com o latão de leite, distribuído nas casas. Homem sério e trabalhador.
A partir daí, vivia particularmente duas emoções: a chegada à cidade de Nicinha, uma carioquinha que teimava em me namorar naqueles dias, depois sumia. A outra era a emoção natural de participar de uma festa instituída, da qual era difícil não entrar no ritmo.
A terça-feira gorda era o dia crucial, vencido pelo cansaço, acabado de ressaca, era preciso reunir forças, buscar animação sabe-se lá de onde, pois chegavam ao fim os dias de total alheamento da realidade, quando tudo, ou quase tudo, era permitido.
A cinco pra meia noite tocava, para desespero de todos, a marchinha do Zé Pereira, aquela do: Viva o Zé Pereira! Viva o Zé Pereira e viva o carnaval! A meia noite em ponto, silêncio. Um ou outro grupo desafiava a diocese, cantando à capela a marchinha que ficara agarrada nos ouvidos.
Quarta-feira de cinzas. Culpa. Cruz na testa, silêncio. Uma angústia premendo o peito ao repetir a frase do dia: só daqui a um ano.
As ruas aos poucos voltavam ao normal. A charrete do Zé marcava o novo ritmo, e Nicinha já não estava, pra repetir, com um sorriso que revelava suas covinhas maliciosas, os versos eternos que diziam: A estrela Dalva, no céu desponta. E a lua anda tonta, com tamanho esplendor...
Dois dias depois, me dava conta de que existe sim, vida inteligente e diversão, entre um carnaval e outro.
E, de repente, assim como se o tempo nos pegasse de surpresa, ouvíamos, aqui e ali: cara, já é carnaval.

É um prazer estar aqui. Um bom carnaval a todos.

Isso é tudo pessoal...

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