Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Síndrome de Procusto

28 de ago. de 2010

Síndrome de Procusto

ou Ainda somos crianças
de Gustavo Cambraia do Canto para o Tribuna
- edição de 300710

Nunca foi tão difícil mudar um hábito. Nossa espécie desafia os darwinistas mais ferrenhos e convictos de que uma população prolifera-se à medida que se adapta ao meio. Vivenciamos o inverso: o meio converge às nossas vontades e, com mais gravidade, esperamos que os outros o façam também. Por isso, o homem na sua plenitude – condicionada pelas sucessivas revoluções nas esferas tecnocientíficas – tem a esperança de que o universo orbite em torno do seu mundo, das suas leis.

Acima do código jurídico há uma pragmática individual que dirige as nossas vidas. Dessa forma, relativizamos problemas universais (como a fome, a guerra e a miséria) em prol dos nossos problemas que, todos sabem, são os maiores do mundo. A nossa miserabilidade, a despeito da fome absoluta que abate comunidades inteiras distantes à nossa realidade, é por emagrecer. Como resultado, relacionamo-nos com a barriga encolhida em nome da perfeição. E pior, esperamos que os outros façam o mesmo por nós e se enquadrem na nossa concepção de ideal, do contrário, a validade da relação é questionada. Assim vivemos em busca de uma harmonia agregada a uma relação – na qual sacrifício é moeda de troca – que alimente as nossas expectativas e em que o outro acredite na nossa perfeição. Nossas superficiais relações têm a curta validade de um conflito no qual ficam explícitas as frustrações diante a onda de expectativas e a prática da obsessão por controle e segurança conforme o código limitado ao nosso pequeno universo.

Por certo, a premissa de que todo homem é igual é fruto desse raciocínio egocêntrico. Ora, todo o homem é mais ou menos parecido; no entanto, a semelhança está na intolerância com a diferença, da qual não apenas os homens, mas todas as mulheres, assim como todas as gerações modernas padecem. Abrimos mão da subjetividade das relações e escanteamos o nosso parceiro quando a incompatibilidade deste com o nosso estereótipo de ideal fica inviável. Senão, adequamos-nos às nossas possibilidades e nos iludimos com o nosso casamento perfeito, com a nossa família perfeita. Se esperarmos que os nossos parceiros, o padre e o mundo se dobrem à nossa versão de felicidade, o universo seria muito limitado, e nós, intransigentes e infelizes, uma vez que tais concepções são individuais e, portanto, nossas expectativas impossíveis.

É muito vantajoso que não atinjamos a perfeição, haja vista que de outra forma não haveria evolução, e, assim, permaneceríamos estacionados na busca por alguém que concorde com as nossas intransigências. Parafraseando José Saramago, ter é a pior maneira de gostar, e gostar, a melhor maneira de ter. Quem sabe se abrirmos mão de tanta exigência ganhemos espaço para sermos nós mesmos, permitindo-se um relacionamento que dure mais do que uma verdade pouco conveniente e que, principalmente, desmistifique essa perspectiva de que o universo está conspirando por nossas vontades. Senão permaneceremos crianças, crentes no hábito de que alguém vai nos alimentar emocionalmente a confirmar a nossa superioridade.

Gustavo Cambraia do Canto

3 comentários:

Anônimo disse...

Por favor dem o enderêço do Dr. Roney para o Cambraia.

Anônimo disse...

Recordo que minha mãe comprava cambraia nas Casas Pernambucanas. Que evolução.

Anônimo disse...

Não só cambraia, mas as senhoras desta cidade ad quiriam todos os tecidos da Marca Olho, como tules, tafetás, sedas, cetins, brocados e organdis.Logo após, iam até uma casa de aviamentos, no caso, a Casa Pandolfo, onde adquiriam linhas, botões, etc.Aí, dirigiam-se até as modistas, que com mãos prodigiosas de fada e dedicação de amor ao ofício, confeccionavam saias e vestidos godês,plissados,etc.Que bons tempos aqueles.Por isso que após vencermos, desenvolverei um grande projeto que denominei-Uruguaiana Retrô, a Cidade que Venceu o Tempo-.Com ele, possibilitarei que esta cidade volte a viver literalmente, os bons costumes e todos os aspectos dos anos 40 e dos anos dourados.Seremos pois felizes e ficaremos famosos no mundo todo, como a cidade que venceu o tempo.