No dia 19 de outubro passado, Paulo César de Campos Velho, mais conhecido como Paulo Cesar Peréio, consagrado ator gaúcho nascido no Alegrete, completou setenta anos – diga-se de passagem – muito bem vividos.
Nossa amizade vem desde os tempos áureos das noitadas na Fiorentina, restaurante no Leme, aqui Rio de Janeiro que nos anos dourados reunia a fina flor da boemia carioca. E foi lá que ouvi, contado pelo aniversariante, o seguinte causo, segundo ele, passado na sua cidade.
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Lá pelos anos cinqüenta na delegacia do Alegrete o titular averigua uma ocorrência passada no interior do município.
O Delegado pergunta ao depoente:
- O senhor foi intimado para depor sobre a violenta briga acontecida ontem no seu armazém lá no interior da cidade. Cinco mortos, oito feridos, uma barbaridade. ..
- No meu bolicho, seu delegado. Quem sou eu para ter armazém? Armazém é do turco Salim, que foi mascate. Por sinal que...
- Não desvie do assunto. Como e porque começou a briga?
- Bueno, pos então, historiemo a coisa ... Domingo, como o senhor sabe, o meu bolicho fica de gente que nem corvo em carniça de vaca atolada. O doutor entende: Peonada no más, loucos por um trago, por uma charla sobre china. A minha canha é da pura, não batizo com água de poço como o turco Salim. Que por sinal...
- Continue, continue, deixe o turco em paz.
- Pos então bamo reto que nem goela de joão-grande. Tavam uns trinta home tomando umas que outras, uns mascando salame pra enganar o bucho, quando chegou o Taio Feio.. O senhor sabe, o índio é mais metido que dedo em nariz de piá, deu um planchaço de adaga no balcão e perguntou se havia home no bolicho. Todo mundo coçou as bolas. Home tem bola, o senhor sabe. O Lautério - que não é flor de cheirar com pouca venta - disse que era com ele mesmo, deu de mão numa tranca e rachou a cabeça do Taio Feio. Um contraparente do Taio Feio não gostou do brinquedo e sentou a argola do mango no Lautério. Pegou no olho - lá nele - e o Lautério saiu ganiçando como cusco que levou água fervendo pelo lombo. Um amigo do Lautério se botou no contraparente do Taio - que já tava batendo a perninha - e enfiou palmo e meio de ferro branco no sovaco do cujo, que lhe chamam Pé de Sarna. Um irmão do Sarna, chateado com aquilo, pegou um peso de cinco quilos da balança e achatou a cabeça do homem que faqueou o Sarna. Os óio saltaram, seu doutor. E eu só olhando, achando tudo aquilo um tempo perdido. Um primo do homem do ferro branco rebuscou um machado no galpão e golpeou o irmão do Sarna. Errou a cabeça, só conseguiu atorar o braço do vivente. Aí eu fui ficando nervoso, puxei meu berro pro mole da barriga, pronto pra um quero. Meu bolicho é casa de respeito, seu delegado, e a brincadeira já tava ficando pesada. Mas bueno, foi entonces que o Miguelão se alevantou do banco, palmeou uma carneadeira, chegou por trás do homem do machado, pé que te pé, grudou ele pelas melena e degolou o vivente num talho, a coisa mais linda. O sangue jorrou longe como mijada de cuiúdo. Aí eu e mais uns outros - tudo home de respeito - se arrevoltemo com aquilo. Brinquedo tem hora, o senhor não acha? -Pergunta ao Delegado:
- Acho, sim. Mas e aí?
- Pois, como lhe disse, nós se arrevoltemo com aquilo por ter sido as traição. Saquemo os talher... E foi aí que começou a briga...
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