HELIODORA
O gaúcho Eugênio Giovennardi deixou o Rio Grande do Sul, o sacerdócio e a profissão de filósofo e sociólogo. Mas não os abandonou completamente. A infância, a religião e a carreira intelectual permeiam sua incansável produção literária.
151 páginas | Editora Paulo Francis | R$ 26,00
“Conheci Brasília em 67 e me apaixonei pelo silêncio do cerrado e pelos horizontes largos do Planalto Central”, conta o escritor, que prometeu a si mesmo que Brasília seria seu lugar. Foi para lá na última viagem de trem de São Paulo a Brasília. Havia feito pós-graduação na Universidade de Paris e na Universidade Tecnológica de Loughboro, na Inglaterra, sobre desenvolvimento de cooperativas e associações rurais e terminou sendo convidado pela Organização Internacional do Trabalho para projetos de combate à pobreza na Colômbia e países andinos.
Mas o Rio Grande do Sul não ficou esquecido. De sua infância e juventude, em Casca, quando aprendeu a ler ao redor do fogão a lenha, guarda alguns hábitos importantes, como o de tomar chimarrão para escrever, e o de ter um diário, onde registra de tudo. “É meu primeiro ato matinal.”
Em 2009, quando a Editora Movimento publicou a segunda edição de O homem proibido (1997), obra autobiográfica em que conta sua trajetória de seminarista e sacerdote (o livro tem publicadas traduções em espanhol e finlandês), Giovennardi veio autografá-lo em Porto Alegre. O segundo romance, Em nome do sangue, venceu o Prêmio Açorianos de Literatura. Em 2009, junto com a segunda edição de O homem proibido, foi publicado As pedras de Roma, um romance histórico sobre o papa agnóstico Giovanni de Medici.
Em 2010, surge Heliodora, escrito em apenas 4 meses. Sobre ele, o crítico literário Carlos Appel escreveu: “Heliodora e Arcemiro, com a penca de filhos desnutridos e analfabetos lembrando um célebre quadro de retirantes de Portinari, são os novos expulsos do sertão nordestino. Desta vez, vão mais longe e chegam às margens de Brasília. Serão os calangos. Ali conseguem ver de perto, como é o caso de Heliodora, aqueles que, com o seu mísero trabalho, eles ajudam a enriquecer. São seres que vivem à espreita, agonistas da História. Isso, quanto ao tema. O que, no entanto, importa muito em Heliodora, é o distanciamento crítico das questões éticas e sociais, e o nível de linguagem que sustenta e dá vigor à narrativa. Heliodora é um sopro de vida na atual literatura brasileira.”
Ambientalista engajado, Giovennardi não deixa de fora temas ambientais em seu novo romance, e dispara: Heliodora e Alcemiro viviam numa propriedade castigada pela seca. Vivemos num país de grandes chuvas mesmo em áreas de longas secas, capazes de alagar e destruir cidades. A água cai e se perde. Não sabemos cuidar das nascentes, dos rios e dos lagos. Em vez de revitalizar com inteligência o Rio São Francisco, o dessangramos com a transposição. Tira-se sem repor. Reflorestar nosso país é uma das mensagens de Heliodora.
Giovennardi é coolaborador do Tribuna desde maio de 2010.
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