Não, realmente o mundo do tempo cronometrado, dos compromissos, dos relógios, não é o mundo ideal.
Talvez, por essa razão, quando estamos em férias a vida se torna tão mais prazerosa e lenta.
Bem, isto para aqueles que conseguem se desconectar de suas excessivas responsabilidades.
O mundo cartesiano foi feito para aprisionar as pessoas nos seus devidos papéis, sempre dentro de um mínimo de tempo para pensar, tornando-as cada vez mais automatizadas.
Raramente paramos para um questionamento sobre como estamos usando o nosso tempo, nos agradando ou não.
Talvez, por isso mesmo, a noite seja um espaço tão fascinante.
É a hora em que podemos nos desvencilhar de todas as nossas máscaras, de nosso aprendizado de vida estruturada, dos compromissos com o estabelecido e mergulharmos no que verdadeiramente nos agrada.
É justo o momento em que o ócio criativo tem condição de se manifestar, acalentado pelo silêncio da madrugada.
Assusta-me ver pessoas que, mesmo em férias, não desgrudam um só momento de seus relógios, de seus Smartphones, como se as tarefas a serem cumpridas, mesmo inexistentes, permanecessem o foco de suas atenções, impedindo assim que o pleno exercício do lazer seja desfrutado.
Esquecem-se de que, a rigor, o tempo não existe, ele é apenas uma invenção do homem na ânsia de transformar a natureza.
Somos a única espécie animal dedicada a transformar a natureza. Os nossos outros amigos apenas a desfrutam.
O mundo cartesiano tomou conta de tudo e é negado aos jovens o que há de mais precioso para o ser humano, a criatividade, o prazer sem culpa, sem risco, sem hora marcada.
Na impossibilidade de ver estrelas, estamos nos habituando a pedir socorro uns aos outros através de redes sociais, clamando por um pouco de atenção que esse mundo tão estereotipado nos impede que aconteça.
Falta-nos tempo para o outro e, principalmente, para nós mesmos.
Apenas na velhice, assim mesmo somente para alguns privilegiados, se consegue valorizar a dádiva do não ter horários nem compromissos, podendo assim desfrutar da natureza em toda a sua plenitude. Para mim, o melhor da velhice é não ter horários.
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