Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: O mundo nas coisata, por Gabriel Novis Neves

31 de mai. de 2015

O mundo nas coisata, por Gabriel Novis Neves


O mundo nas costas 

Há indivíduos que padecem de um terrível mal - o de ser receptível à transferência de sofrimentos alheios. 
Diante da observação de um grande aborrecimento em pessoas do seu núcleo emocional, ou fora dele, muitas vezes aqueles indivíduos assumem a responsabilidade do fato, mesmo não tendo a mínima participação no ocorrido. 
Chegam a sofrer mais que a vítima dos acidentes que a vida nos reserva. 
Isso costuma ocorrer em pessoas que desde criança foram condicionadas a um excesso de responsabilidade, tornando-as culpadas de todo o ocorrido à sua volta. 
Tenho procurado através dos estudos, encontrar métodos terapêuticos para evitar esse transtorno de absorção de sofrimentos, que é uma disfunção da personalidade. 
Diferente da solidariedade, que é o sentido moral de vínculo e ajuda mútua. 
Geralmente atinge pessoas tidas como de bom caráter que gostariam que o mundo fosse igual para todos, sem maldades e tristezas. 
O choro incontido diante de um mundo hostil, ainda que próximo, é o extravasamento de alguém que pretensamente leva o mundo nas costas. 
É comum que esses pacientes apresentem simultaneamente um quadro de dores nos ombros em função desse enorme peso que supõem carregar. 
Agregue-se a isso a formação familiar muito rígida, geralmente acompanhada de culpas religiosas.
Mesmo conhecendo o seu mecanismo, que é neurótico, esse é um processo de difícil tratamento pelos métodos psicoterápicos vigentes no mundo ocidental. 
Esta doença vai se infiltrando em nosso ser a partir do nascimento e age como defesa, agredida por errôneos processos educacionais. 
Em condições ambientais favoráveis ela fica latente, dando a impressão de cura. 
Bastou um tropeço de percurso nesta estrada da vida para o vitimado, por mais resistente que seja, desabe num sofrimento intenso não justificável, mesmo em se tratando de pessoas especiais e muito queridas. 
A medicina evoluiu muito tecnologicamente, mas continua como nos primórdios da civilização quando o assunto é a emoção. 
Apenas a reflexologia, prática psiquiátrica não muito comum entre nós, consegue bons resultados, fazendo o descondicionamento desses reflexos patológicos. 
A transferência de sofrimento é bastante frequente e afeta milhões de pessoas no cotidiano. 
O cérebro humano, essa caixa preta que vem sendo desvendada muito vagarosamente, com as suas bilhões de conexões nervosas, liberação de substâncias conhecidas, e outras nem tanto, e com seus neurotransmissores, ainda trará muitas surpresas nesse campo. 
Confio na ciência e em seus estudiosos pesquisadores, e creio que estamos próximos da compreensão funcional cerebral, que irá possibilitar a paz entre os homens. 

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