Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Aniversário da barata voadora, por Gabriel Novis Neves

14 de out. de 2015

Aniversário da barata voadora, por Gabriel Novis Neves

Aniversário da barata voadora 
Se viva estivesse estaria completando no dia 31 de julho cinquenta e um anos.
Infelizmente partiu deste Planeta muito precocemente, sem ao menos saber do papel que o seu sacrifício desempenhou na minha vida. 
Vítima de politraumatismo ao se chocar violentamente contra o guarda roupa do meu dormitório, não resistiu ao sofrimento.
Foi ela a responsável pela minha permanência definitiva na cidade natal – Cuiabá. 
Aqui nasceram meus três filhos e seis netos. Aqui também descansa minha mulher, há nove anos, no Cemitério da Piedade. 
As oportunidades e desafios que me foram ofertadas, e jamais rejeitadas, por questão até de sobrevivência, tentei da melhor maneira possível aproveitá-las, trabalhando em benefício da sociedade. 
O sacrifício da minha barata voadora fez com que desaparecesse de Cuiabá o preconceituoso e desumano “Hospital Colônia de Alienados do Coxipó da Ponte”, surgindo em seu lugar o Hospital Adauto Botelho, modelo na época. 
A partir do “hospital dos loucos” cheguei à Secretaria de Educação do Estado, quando inseminei as sementes das duas futuras universidades federais (Cuiabá e Campo Grande). 
O ensino fundamental e médio passou por grandes transformações, com a qualificação dos professores e a criação e funcionamento dos “Ginásios Orientados para o Trabalho”. 
Depois, foram onze anos implantando no cerrado do Coxipó o orgulho de uma geração e a admiração e gratidão de todos - “A Cidade Universitária”, com seus professores e servidores valorizados, cursos voltados ao desenvolvimento regional e guardiã da nossa cultura e tradições. 
Outras tarefas desempenhei por seis secretarias de Estado, sempre trazendo inovações tecnológicas. 
A implantação do primeiro curso de Medicina em universidade privada no Estado, com Hospital Universitário próprio e Residência Médica, foram complementadas pela fundação e pela honra de ser o primeiro Presidente da Academia de Medicina de Mato Grosso. 
No mês da barata voadora a Academia Nacional de Escritores Médicos me convidou para ocupar a Cadeira nº 28 como Acadêmico Titular. Convite aceito. 
A indicação foi feita a minha revelia, por colegas de turma de medicina de 1960 da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha (hoje UFRJ). 
Para quem não conhece o porquê da minha homenagem à barata voadora, recomendo a leitura de um antigo artigo que escrevi há alguns anos – “A Barata Voadora”, facilmente encontrado no Google. 
Nele conto que, se não fosse a firme decisão da minha mulher tomada no dia do nosso retorno à Cuiabá para início das minhas atividades profissionais como médico generalista, este artigo hoje não estaria sendo escrito, e nada do relatado teria tido a minha participação. 
Foi a decisão de permanecer nesta cidade, mesmo diante do pavor impensável do choque do corpo da barata no guarda roupa, com o tremendo ruído produzido na escuridão e o silêncio da madrugada, o responsável pelo resgate deste ponto luminoso. 
O outro lado fica o sempre mistério do “se”.  “Se” eu tivesse voltado para o Rio de Janeiro diante do pânico da minha companheira, o que teria acontecido em minha vida? 
Não há como se esquecer desta data - 31/07/1964! 
Obrigado, minha barata voadora!

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