Nem sempre
ganhando...
Texto e foto
Valéria del Cueto
Hora de parar o mundo para dizer a que vem aí. Mais
uma crônica! Só assim tenho o estímulo necessário à escrevinhação, como sempre,
no caderninho. Tenho prazo, espaço e vontade de exercitar o direito de dizer. Falar
de quase nada no meio de muito tudo não é fácil.
Me desligar de tanta informação eu até sei. Mas nem
para você, leitor, nem para mim - que do meio do mundo vejo o dito cujo se
exaurindo em conflitos, dores e muito, muito desamor-, a tarefa é simples.
Sei que existem os que, como eu, perplexos diante de tanta brutalidade, ainda procuram formas de, mesmo que indiretamente, interferir no rolo compressor que parece incontrolável, movido pela maldade humana. Atualmente, pra piorar, turbinado pela força motriz generativa da
inteligência artificial que se multiplica a nossa imagem e semelhança. E que
imagem, que semelhança!
Por isso acho que, como no caso dos que procuram
estímulos para mudar essa vibração, também preciso de ajuda para sair, por
exemplo, das águas turvas da flotilha que tenta chegar a Gaza com alimentos e a
ajuda médica para aliviar o sofrimento dos palestinos, reféns involuntários do
governo de Israel, sob as ordens de Netanyahu.
Quando se trata de genocídio, volto à leitura de
“Mila 18”, de Leon Uris. A história se passa no gueto de Varsóvia, sob o
domínio alemão. Descreve o terrível cotidiano dos judeus na capital da Polônia
ocupada.
Agora, os algozes são aqueles que foram vítimas no
século passado, durante a Segunda Guerra Mundial. A diferença são os métodos,
ainda mais cruéis, de extermínio.
Pra escrever preciso sair desse turbilhão de
horrores que se multiplicam, sem tanta exposição e mídia, em outras partes do
globo.
No meu pedaço o céu é o limite! Olhando pra ele sem
nenhuma nuvem, me inspiro nas florezinhas amarelas na ponta do ipê meio raquítico,
sem nenhuma folha, oscilando preguiçosas ao vento nesse início de primavera, suavemente
lânguidas, animadas pelo balanço dos galhos. Sigo o movimento de uma das flores
bailando solta, caindo na direção do rio. Não foi a brisa que a derrubou.
Consigo ver um passarinho, inho,inhozinho brincando na galharia.
Aqui embaixo o som das águas do rio, meio seco
devido a falta de chuvas, vem do resmungo preguicento do fluxo deslizando entre
as pedras em seu leito. O sol não está mais a pino. Mesmo assim seu calor
espanta a passarinhada que prefere descansar a sombra e só recomeçar a
movimentação mais tarde.
Por uma questão de justiça climática esclareço que
por mais abafado que seja o clima no meio do mundo não é nada comparável as
temperaturas de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, (quente desde sempre no verão),
e de Cuiabá, onde o que já era insalubre está ficando cada vez pior com a
valiosa e insuperável colaboração, por exemplo, dos responsáveis pelas obras
intermináveis do VLT/BRT.
Aí, mesmo sem querer cair novamente no redemoinho dos
acontecimentos, me lembro do filme de Spike Lee, “Faça a coisa certa”, que
narra os acontecimentos de um dia de calor insuportável no Harlem, em New
York....
Mais um movimento no entorno! Graças a Deus, ele desvia
o rumo da prosa antes que ela caia no buraco negro dos desastres climáticos. Aqueles
que serão temas da COP 30. Claro que nela, o principal será as buscas por
caminhos e soluções para mitigar a crise. O que se faz apontando e alertando
sobre os problemas crescentes que exaurem o planeta.
Voltando às miudezas, essa nem tão miúda assim, o
que me distrai é um dos vizinhos da Mata Atlântica. O lagarto teiú cruza a
estrada de terra que liga o nada ao lugar nenhum aqui no meio do mundo. Ele me
ignora solenemente passando pro terreno e se desviando do tapete de pitangas
perpitolas que caíram da pitangueira com a ventania da manhã.
Elas estão merecendo uma varrida que só acontecerá
quando os passarinhos e borboletas, animados pelo ciciar das cigarras, avisarem
que a temperatura vai dar um refresco no cair do sol atrás do morro do outro
lado do rio.
Terei pouco tempo para varrer o pitangal salpicado
no deck e jogar uma água nas plantas. Das miudezas, que envolve uma conversinha
com as plantinhas preferidas, parto para uma missão quase universal: torcer
pelo meu Flamengo, que ocupa o primeiro lugar na tabela do brasileirão.
Enfim, apesar dos pesares, esse domingo ainda pode
ser quase perfeito. Mas isso, como outros fatores da vida, não depende só de
mim...
PS: Deu ruim. Depois de duas expulsões, o Mengão
perdeu só de 1X0 para o Bahia. Agora, somos vice-líderes do campeonato. Sorte
que ainda faltam 11 rodadas para o final do torneio!
*Valéria del Cueto é jornalista e
fotógrafa. Da série “Não sei onde enquadrar” do SEM FIM...
delcueto.wordpress.com
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