Paz na terra
Texto e foto
Valéria del Cueto
Querida cronista. Estou
há dias alinhavando as últimas novidades para atualizá-la nos acontecimentos
aqui de fora. Está difícil!
Tenho parte da
responsabilidade no atraso e não nego. Porém, outros fatores aumentam a
dificuldade de resumir tantos eventos nas poucas palavras que consigo enviar
pelo raio de luar que ilumina sua cela.
Esse seu exílio
voluntário do outro lado do túnel, cá para nós, torna nossa comunicação mais
difícil e complicada que a ausência de um simples whatsapp, o meio de
comunicação que, diz a lenda, mudou a maneira dos terráqueos se comunicarem.
Agora é costume usarem
as redes sociais para tudo, inclusive comunicados oficiais, bate-bocas e DRs
entre os governantes! Aí começa minha dificuldade plucplacteana de
extraterrestre interplanetário ainda preso nesse mundão por problemas
propulsores na minha nave viajante.
Pelo tempo de seu
exílio sinto lhe informar que invertemos nossos papéis. Você, que me ensinou de
um tudo quando caí sem paraquedas cultural aqui na Terra, me nutrindo de
conhecimento popular e informações que permitiram minha sobrevivência no
planeta de maneira menos traumática, se resolvesse abandonar seu refúgio
voluntário, precisaria de aulas intensivas para se readequar ao cotidiano do
lado de cá!
São essas instruções
que gostaria de deixar em nossa intermitente correspondência. Não dá!
Precisaria de muitas luas, dezenas ou até centenas de raios do luar que banham
sua cela para prepará-la para sobreviver minimamente por aqui. E isso não seria
tudo. Conhecimento é vida, mas a necessidade de um intenso preparo psicológico
para segurar sua onda seria essencial!
Quase nada no pedaço é
como antes e isso, certamente, mexerá profundamente com seu emocional. Aquele
que você tenta valentemente preservar neste isolamento.
Para ajudar nesse
sentido, tenho trocado algumas impressões com suas sobrinhas. A Luisa, no
quesito psicológico, e a Natália, na parte de equilíbrio mental e corporal.
Caso não tenha
registrado, as meninas viraram mulheres. Luluca é psicóloga e Nat
acupunturista. Vai se formar em fisioterapia após largar de mão, depois de
terminar, o curso de línguas estrangeiras para relações exteriores. Dos idiomas
persiste no estudo do mandarim. Tudo a ver com a medicina chinesa a que se
dedica.
Você vai precisar
desses apoios para manter sua mente e seu corpo sãos. Pode ter certeza!
Já sei o que vai dizer.
Que essa cartinha está com cara de abandono. Talvez sim. Mas garanto que não
será voluntário, como seu exílio. Acontece que a maré não está para peixe, nem
o céu é mais do condor.
O presidente dos EUA
que se dedica a uma perseguição implacável aos imigrantes em seu território
(como os nazistas caçavam os judeus e outras minorias nos tempos da segunda
guerra) expandiu suas atividades bélicas aos mares internacionais. Bombardeia
navios e barcos de pescadores. Sem direito a defesa! Alega, sem provas nem
julgamento legal, o transporte de drogas para seu país.
Na Europa, drones
interferem nas operações de aeroportos de vários países enquanto ataques da
Rússia contra a Ucrânia prosseguem sem perspectivas de paz apesar do encontro,
com direito a tapete vermelho no Alaska, dos que se acham donos do mundo. O
resultado do rapapé foi nulo. A guerra continua...
Sim, amiga cronista, no
meio desses tiroteios corro sérios riscos no céu, na terra e no mar. Por isso
procuro uma rede de proteção para sua sobrevivência e sanidade. Sei lá, não sei
do meu, antes quase tranquilo, futuro de viajante errante.
Não quero terminar essa
missiva pra baixo. Trago a notícia de uma trégua na Palestina. Mais uma vez
estão na primeira etapa da tentativa de uma paz negociada depois de Netanyahu
arrasar e devastar a Faixa de Gaza. Mas não se anime!
No momento estão
trocando reféns e prisioneiros. Para variar, os primeiros têm nomes, sobrenomes
e histórias. Já os palestinos são apenas números despejados na terra destruída,
sem direito sequer a entrada massiva de alimentos e apoio médico para a
população atingida pela barbárie incontrolável.
A ação foi na medida
para alimentar a pretensão do “King in América” a almejar o Prêmio Nobel,
indicado pelo algoz do Oriente Médio. Só que... o pleito delirante não colou.
A laureada foi María
Corina Machado “pelo seu incansável trabalho em promover os direitos
democráticos pelas pessoas da Venezuela e pela sua luta para atingir uma
transição justa e PACÍFICA de uma ditadura para a democracia”.
María Corina dedicou o
prêmio a quem? Ao povo de seu país e ao presidente Trump, o que tem enviado
navios militares à costa venezuelana e adota a estratégia de explodir barcos
que os EUA “considerem” levar drogas ao território americano.
O primeiro Nobel
sul-americano foi para quem incentiva ações belicosas, cronista. E, justamente,
o Nobel da Paz!
Desconfio que o criador
da honraria deva estar se revirando no seu túmulo sueco em Estocolmo...
*Valéria del Cueto é
jornalista e fotógrafa. Da série “Fábulas
Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

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