Burucracia e lentidão: aliadas dos inimigos da vida.

Doador morre, não realiza desejo pessoal e muitos são prejudicados pela ineficiência

O jovem Arlon Dalmann de Oliveira, 29 anos, no dia 05 de abril, às 21h48min, foi atropelado, no trevo de acesso a Uruguaiana, quando se dirigia para casa, no bairro periférico do Aeroporto. O veículo fugiu e a vitima foi socorrida pela Policia Rodoviária Federal.

Arlon resistiu aos graves ferimentos durante uma semana, na UTI da Santa Casa de Caridade, até que no último domingo (12/04) teve atestada a sua morte cerebral. A administração do Hospital tomou as providências necessárias para cumprir o desejo do rapaz, que segundo familiares (seus dois irmãos são policiais militares e a mãe,
Cilda Dalmann,vendedora de algodão-doce), havia por diversas vezes manifestado a vontade de ser doador de órgãos.

A Central de Captação, em Porto Alegre foi imediatamente comunicada. A Comissão de Transplantes do HSCC foi atendida na Central, entre outros, por Martina e Felipe – nas mais de 25 ligações originadas de Uruguaiana.

Por aqui, a equipe médica local, coordenada pela médica intensivista Claudia Alvarez, mantinha estabilizado o quadro do doador (múltiplo): pulmões, coração, fígado, pâncreas, córneas e rins, enquanto as formalidades legais eram cumpridas uma a uma.

Na capital a informação era de que a espera seria inevitável em razão de haver outras quatro possibilidades de transplantes e cada caso deveria ser avaliado. E, assim foi.

Não houve resposta domingo, nem durante o dia, segunda-feira, sob alegações diversas, como a dificuldade de pouso noturno no aeroporto de Uruguaiana e a distância do município. No final da noite a Central informou que nesta terça-feira o avião partiria de Porto Alegre às 6h15min para buscar os órgãos.

Era tarde. Arlon morreu na madrugada de terça, às 2h02min. Levou junto com ele a esperança de outros tantos que, sob risco de vida, perderam a chance de serem salvos pelo tempo irrecuperável, provocado por falta de agilidade.