Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Coluna de Soares Tubino

28 de abr. de 2009

Coluna de Soares Tubino

Coluna Atos & Fatos
Soares Tubino – Cronista e poeta – Membro da AUL (25.04.2009)

OUTONO

Hoje pela manhã, em abrindo a janela do meu quarto, para o pátio de casa, foi que recebi a visita do outono, com a presença de um pássaro cantor, que construiu seu ninho por ali. Sacudindo a rica plumagem, que a natureza fê-la em diversas cores, trazia no bico um ramo seco das árvores que ornam o quintal.
Olhou-me atentamente, antes de levantar voo para o infinito azul, deixando cair do próprio bico, aquele raminho sem folhas, como que me convidando a contemplar a paisagem vegetal, daquele sítio, onde a maior parte das árvores, já se encontram quase que totalmente desnudas, caules faltando a cobertura natural, em sinal de que estamos no outono, a estação melancólica e romântica, intermediária entre o adusto verão e o inverno, com suas geadas e neves, em alguns lugares.
Depois daquela cena, para mim muito importante, por que se tratava de uma mensagem de reavivamento ao meu senso de bom observador que, desta vez, ainda pensava que estávamos no verão, com uma certa irregularidade na temperatura, ora fria pela manhã, ora mais elevada ao entardecer.
Qual nada, desde 20 de março, mesmo com chuvas escassas “fechando o verão”, o outono já dera a sua presença, encurtando os dias e tornando as noites enluaradas, maiores, com mais tempo para o romance das almas ainda sensíveis, neste século de tanto materialismo.
Debruçado ao parapeito daquela janela, após a visita daquele habitante das alturas, amante da flora selvagem, um raio de sol, infiltrando-se por entre os ramos, brilhou no meu rosto e foi aí, que cultor de poesia, e admirador sincero de nossos grandes poetas, lembrei de nosso “poeta maior”, do passado, Alceu Wamosy, autor de páginas que se eternizaram em nossa literatura e até hoje são lidas e declamadas nas escolas, como “Duas Almas”, uma das mais belas e importantes páginas de amor da poesia brasileira, constando em todas as antologias do país, inclusive incluído nos cem mais belos sonetos, na escola de Alberto de Oliveira, membro da Academia Brasileira de Letras, que formava com Olavo Bilac, a dupla perfeita do Parnasianismo brasileiro.
Wamosy, poderia ser classificado, entre outros títulos como o “poeta do outono”. No conjunto de suas três obras em verso, há diversas referências ao seu amor a esta estação do ano. Vejamos, por exemplo, alguns versos deste expressivo poema intitulado “Eu e o Outono”, de seu livro final “Coroa de Sonhos”: “Quando a primeira vez, eu encontrei outono, num fim de tarde triste, em um parque fanado, o céu resplandecia em ouro como um trono”. Nesta composição, desse famoso alexandrino, ele descreveu com pormenores seu amor à natureza. Na última página, escrita de acordo com depoimento de seus biógrafos, entre eles o historiador uruguaianense, recentemente falecido, Enedy Rodrigues Till, num campo de batalha, “idealizando a morte”, Wamosy ainda lembrou do outono dizendo, entre outras coisas: “Morrer por uma tarde, assim como esta tarde, fim de dia outonal, tristonho e doloroso”...
Estamos dentro do outono, eu já sabia, mas não me dava conta. Somente, recebi sua presença, no fundo da alma esta manhã, quando aquele estranho visitante, habitante de nossos ares, esteve em minha janela, deixando-me como recordação aquele ramo seco de uma árvore de nosso pátio, como um prenúncio do inverno próximo.

Uruguaiana, abril de 2009.

Um comentário:

ESCRITORA VERA SALBEGO disse...

Linda Crônica amigo Tubino.Como sempre profundas em tua analise de vida.Que Deus te proteja sempre.Abraços.Vera Salbego