Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Coluna Atos & Fatos, Soares Tubino, cronista e poeta.

25 de mai. de 2009

Coluna Atos & Fatos, Soares Tubino, cronista e poeta.

Coluna Atos & Fatos
Soares Tubino – Cronista e poeta – Membro da AUL (Especial jornal TRIBUNA)

Rio das Aves

Há poucos dias, passando rapidamente, em um passeio improvisado, à beira do nosso formoso Uruguai, verifiquei os danos que as estiagens freqüentes que têm nos castigado, diminuiu grandemente o volume de suas águas.
Caminhando um pouco mais, olhando de perto, pude enxergar quase que o seu fundo, tão vazio se encontra atualmente, raso, que dá bem, não exagerando a comparação para a gente atravessá-lo, a pé, até a vizinha cidade de Paso de los Libres.
Sei, outrossim, que não há nenhuma novidade nisso aí, recordando às vezes em que as secas prolongadas, têm produzido essa evasão de suas águas.
Nas minhas épocas de criança, quando pela mão de meu pai, aproveitando a minha folga do colégio e também o dia em que ele cessava suas tarefas, de alfaiate, na Casa Fittipaldi, onde trabalhou na sua profissão, por mais de quarenta anos, a gente ia pescar, de caniço às margens de nosso rio.
Eu não gostava nenhum pouco, quando chegava com meus complementos de pescar, caniço feito à mão, por ele, lata cheia de terra, com muita minhoca viva, pronta para as iscas e chegando à beira, o rio estava como agora, pobre de água e as margens repletas de pedras agudas, que nos impediam de chegar bem, na beirinha, para tentar fisgar algum lambari, “blanquita” ou mesmo “pintado”.
Meu pai, ia nas tardes de domingo, com um sentido de dar um passeio diferente, respirar um ar puro, apanhar sol, ele que trabalhava sempre numa oficina de pouca luz solar, menos para tirar peixes. Mas, eu, levava a sério tudo e sabia antes de experimentar, jogando a linha do caniço na água, que talvez a pescaria fosse sem sucesso.
E isso, quase sempre acontecia. Ao regressar, à tardinha, às vezes com dois ou três peixinhos, pendurados num ramo de espinilho, que meu pai cortava das árvores, eu mostrava na fisionomia minha tristeza. Ele buscava consolar-me dizendo que esperássemos o rio crescer mais, depois das chuvas da primavera, e aí teríamos sucesso. Dizia aquilo, e como eu nada respondia, passava suas mãos carinhosas, nos meus cabelos, em abundância nessa época.
Depois dessa temporada em que “eu era feliz e não sabia”, como diz a letra de uma antiga melodia de Ataulfo Alves, já adulto, com minha família na ausência de meu pai, que já havia falecido, infelizmente, eu ia pescar em companhia de meus filhos. Mas, tinha uma preocupação, somente realizava esses passeios, após verificar que o rio Uruguai, estava, no seu leito, transbordando de cheio.
Mas, não era a mesma coisa. Aquela inocência da criança que eu fui, criado em casa, até a adolescência, junto com meus pais, sonhando com um mundo diferente deste que vimos e sentimos hoje, havia terminado naquela época.
Olhando agora o nosso “Rio dos Pássaros”, na conceituação do saudoso poeta uruguaianense Hugo Ramírez, só me cabe recordar a letra de Sílvio Rocha, no início de nosso bonito hino:

“Uruguaiana, feliz tu nasceste,
À beira de um rio sorrindo ao luar...”

Uruguaiana, maio de 2009.

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