Sobre governos e cultura

BENHUR BORTOLOTTO

Sobre governos...

Meu texto sobre o Conselho Municipal de Cultura suscitou expedientes curiosos. Não sabia que o assunto interessava a tantos, e tivesse, para alguns, tamanha importância; de modo que aproveito a efervescência para dar mais um pitaco na área.

    Jornais vendem leitores a empresários que querem mostrar seus produtos e suas marcas. Rádios vendem ouvintes (e - não posso deixar passar - eleitores!). Emissoras de televisão, espectadores. Público tem um grande valor de mercado. Se a Secretaria de Cultura trabalhasse em conjunto com a Secretaria de Educação, os eventos culturais da cidade teriam algo valioso a oferecer à iniciativa privada. Para isso, seria necessário que cultura fosse vista não como entretenimento, mas como parte fundamental da formação ética, estética e intelectual do indivíduo; que se reconhecesse a importância do cinema, da literatura, do teatro, das artes plásticas, da história da arte; que os professores tivessem incentivo para conhecer a cultura local e oferecê-la aos seus alunos, e, sobretudo, interesse. Um trabalho orquestrado destas duas secretarias reafirmaria a identidade cultural uruguaianense, prestigiaria o que de bom é feito aqui e tornaria o investimento em arte mais viável. O problema é que se isso chega a dar certo, os funcionários iam ter que trabalhar...

e cultura.

Nunca antes na história desse blog - pois é -, uma enquete teve tantos votos quanto a enquete da sucessão na prefeitura. A boa administração de Sanchotene Felice e a imensa capacidade de seu partido em arregimentar votantes não deixam dúvida de que, quem quer que ele indique para concorrer à prefeitura pelo PSDB, será eleito. O que me pergunto é: a não ser a primeira dama, D. Elizabeth, supostamente inelegível, em quem mais ele pode confiar para continuar dando as cartas?

    Talvez, indique um poste e governe por procuração. Isso não me surpreenderia tanto quanto, continuamente, me surpreende o comportamento social que torna certos absurdos cogitáveis. A arbitrariedade deste governo é um caso de surrealismo literário. Aliás, Ernesto Sabato, em Sobre heróis e tumbas, tem um trecho que convém transcrever: "Provincianos que riem do que não conseguem compreender e descrêem no que está fora de seu famoso círculo. (...) tendem a considerar lógico (outra palavra que adoram!) o que é simplesmente psicológico. Assim, o habitual se transforma em sensato, mecanismo pelo qual um lapão acha sensato oferecer sua mulher ao viajante de passagem, enquanto para um europeu isso parece uma loucura. Esses engraçadinhos rejeitaram sucessivamente a existência dos antípodas, da metralhadora, dos micróbios, das ondas hertzianas. Realistas que se singularizam por rejeitar (em geral às risadas, energicamente, até mesmo na cadeia e no manicômio) futuras realidades. Isso para não falar do outro aforismo supremo: 'as devidas proporções'. Como se na história da humanidade tivesse existido alguma coisa que não tenha sido exagerada, desde o Império Romano até Dostoiévski."

.

para ler mais resmungos, clique aqui.