Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: A genialidade de Jorge Luís Borges -

22 de jun. de 2011

A genialidade de Jorge Luís Borges -

As Causas
Os crepúsculos e as gerações.
Os dias e nenhum foi o primeiro.
A frescura da água na garganta de Adão.
O ordenado Paraíso.
O olho decifrante na penumbra.
Os amores dos lobos na alvorada.
A palavra. O hexâmetro. O espelho.
A Torre de Babel e a soberba.
A lua que miravam os caldeus.
As areias inúmeras do Ganges.
Chuang-Tzu e a borboleta que o sonhara.
E nas ilhas, de ouro, as macieiras.
Os passos do errante labirinto.
O infinito tecido de Penélope.
O tempo circular para os estóicos.
A moeda na boca de quem morre.
O peso de uma espada na balança.
Cada gota de água na clepsidra.
As águias, os fatos, as legiões.
César na madrugada de Farsália.
A sombra de umas cruzes pela espada.
A bússola incessante. O mar aberto.
O eco do relógio na memória.
O rei por uma daga justiçado.
O incalculável pó que foi exércitos.
A voz do rouxinol na Dinamarca.
A escrupulosa linha do calígrafo.
O rosto do suicida que se espelha.
O naipe do taful. O ávido ouro.
As formas de uma nuvem no deserto.
Cada arabesco do caleidoscópio.
Cada remordimento e cada lágrima.
De todas essas coisas foi preciso
Para que as nossas mãos se encontrassem.
Poema incluído em História de La Noche (1977) – Tradução de Jorge Schwartz.
* Uns 500 anos antes da Era Cristã, alguém escreveu: “ Chuang-Tzu sonhou que era uma borboleta e não sabia ao despertar se era um homem que tinha sonhado ser uma borboleta e agora sonhava ser um homem”.

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bonito. Mas está incompleto.

Monica C C Sampaio disse...

Talvez por isso ele conseguiu ser quem ele foi, justamente pela incerteza de quem ele era.

Anônimo disse...

Raul Seixas escreveu sobre esse tal sábio chinês...