As Causas
Os crepúsculos e as gerações.
Os dias e nenhum foi o primeiro.
A frescura da água na garganta de Adão.
O ordenado Paraíso.
O olho decifrante na penumbra.
Os amores dos lobos na alvorada.
A palavra. O hexâmetro. O espelho.
A Torre de Babel e a soberba.
A lua que miravam os caldeus.
As areias inúmeras do Ganges.
Chuang-Tzu e a borboleta que o sonhara.
E nas ilhas, de ouro, as macieiras.
Os passos do errante labirinto.
O infinito tecido de Penélope.
O tempo circular para os estóicos.
A moeda na boca de quem morre.
O peso de uma espada na balança.
Cada gota de água na clepsidra.
As águias, os fatos, as legiões.
César na madrugada de Farsália.
A sombra de umas cruzes pela espada.
A bússola incessante. O mar aberto.
O eco do relógio na memória.
O rei por uma daga justiçado.
O incalculável pó que foi exércitos.
A voz do rouxinol na Dinamarca.
A escrupulosa linha do calígrafo.
O rosto do suicida que se espelha.
O naipe do taful. O ávido ouro.
As formas de uma nuvem no deserto.
Cada arabesco do caleidoscópio.
Cada remordimento e cada lágrima.
De todas essas coisas foi preciso
Para que as nossas mãos se encontrassem.
Poema incluído em História de La Noche (1977) – Tradução de Jorge Schwartz.
* Uns 500 anos antes da Era Cristã, alguém escreveu: “ Chuang-Tzu sonhou que era uma borboleta e não sabia ao despertar se era um homem que tinha sonhado ser uma borboleta e agora sonhava ser um homem”.
3 comentários:
Muito bonito. Mas está incompleto.
Talvez por isso ele conseguiu ser quem ele foi, justamente pela incerteza de quem ele era.
Raul Seixas escreveu sobre esse tal sábio chinês...
Postar um comentário