Marques Acunha
Marques Acunha partiu como chegou. Sem medos ou
receios. Sem dramas ou ressentimentos. Sem queixas ou reclamações. Foi ao
encontro do Criador quem tanto por Ele falou. Era o pai dos pobres. Era – como
dizia minha mãe- a quem o pobrerio recorria. Sua voz acalentava corações nas
manhãs desta terra. Como ninguém conseguia tirar leite de pedra. Numa hora
estava contando uma piada. Daí a pouco contava um drama. Quem se socorria do
“microfone da solidariedade” geralmente eram mães em busca de remédios e
alimentos ou roupas para os pequenos. Às vezes eram desempregados em busca de
trabalho. Nunca vi ninguém sair sem nada.
Quem não lembra do projeto Anjos da Guarda. Projeto
totalmente voluntário, sem nenhum tipo de apoio oficial, quando ainda nem se falava
em bolsa família, liderado pelo Marques que buscava produtos descartados em
supermercados, ele mesmo cozinhava e ele mesmo ia as vilas distribuir sopão aos
pobres, que por algum motivo, doença às vezes, não podiam irem apanhar o
alimento.
Esse era o Marques Acunha. Um Anjo da Guarda. E Anjos
não morrem.
Marques fez da sua vida algo maior que a própria vida:
A solidariedade. O corpo se foi. Seus ensinamentos e o que aqui deixou não
passarão jamais. Em nome dos desamparados abriu mão de cuidar da sua saúde.
Desistiu impoluto do luxo e do conforto. Na catarse que vivia com o povo seus
pequenos prazeres se resumiram a um cigarrinho, vicio que lhe acompanhou até o
final, e uma cervejinha eventualmente.
Alem de futebol, colorado fanático que era, daqueles de se jogar no chão
no meio da rua quando o Inter ganhava tinha mais um hobbie. Colecionava rádios
velhos.
Marques Acunha era briguento. Com a coragem dos fortes
e a bravura dos heróis travou muitas batalhas. Venceu algumas. Perdeu outras.
Mas sempre foi honesto. Sempre lutou o bom combate.
Assim era o Marques. Era um homem simples mas não era
um homem comum.
Enfim Marques silenciou. Entregou-se aos braços da
história. Isso sim. Mas só isso. Porque ele podia não ter nada material, nenhum
bem de alto valor. Mas sua voz e sua
conduta nortearam o caminho de muitos outros homens de bem que o conheceram.
Mesmo que com ele não simpatizasse, até porque santo ele não era, era
impossível desconhecer sua ligação umbilical com os menos favorecidos. Sim seu
corpo partiu. Mas só o corpo. Sua voz, sua risada ainda podem ser ouvidas. As
marcas que aqui deixou são indeléveis em mentes e corações.
Seu particular e peculiar jeito de comunicar é difícil
de ser encontrado. Algumas pessoas falam e algumas ouvem. Com Marques era
diferente. Ele falava e todos ouviam. Suas manifestações eram motivos para
outras discussões.
Me faltam palavras para definir como Marques se
comunicava. Mas sinto como se ele falasse de coração para coração. Assim
diretamente. Sem outras interferências. Como ele fazia isso? Não sei. Não
consigo entender e menos ainda explicar.
É claro que é doloroso perder um amigo, um familiar,
um conhecido. Mas no caso do Marques Acunha penso que a gente tem que agradecer
a Deus por ter permitido tê-lo tanto tempo conosco. Acho que tivemos muita
sorte ter cruzado com ele nesta dimensão. Na gaveta de nossa memória ele ficará
guardado para sempre.
Marques é uma daquelas pessoas que deveriam ser
eternas.
Querido Marques, saudade é uma palavra que Deus criou,
não para dizer que estamos longe, mas para lembrar que um dia estivemos juntos.
Na mais absoluta certeza de que nosso adeus não é para
sempre, querido amigo, vá com Deus.
Obrigado por tudo.
Lauro Farias
Coordenador Sistema 3411-1000
Obs.: Marques Acunha, faleceu na madrugada de quarta-feira, dia 21 de
agosto de 2013, aos 69 anos de idade, em Uruguaiana.
Ex-vice-prefeito, ex-vereador, ex-presidente da Câmara Municipal de Uruguaiana
e ex-secretário municipal de Ação Social, Hildebrando Marques Acunha foi quem implantou o Projeto
Anjos da Guarda, beneficiando milhares de pessoas carentes. Foi duramente perseguido pelo ex-prefeito Sanchotene Felice e teve que trabalhar em uma rádio de Paso de los Libres. TODAS as rádios de Uruguaiana fecharam-lhe as portas.
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7 comentários:
Realmente o Marques foi perseguido, e ninguém levantou um dedo para defende lo, agora querem fazer sensacionalismo em cima da morte do nosso guerreiro.Agora é tarde mano, o que passou não volta mais, pra este mundo nunca mais(como dizia um samba do Marduque).Façam, defendam, valorizem a pessoa em vida, nome de rua de praça, de nada vai adiantar.
e toda a família também foi perseguida pelo grande Canalha
QUANTOS DITOS POLITICOS DE URUGUAIANA, APROVEITARAM-SE DA BONDADE DO MARQUES PARA SEREM ELEITOS, O FAMOSO GERENTE, DEPOIS QUE O MARQUES FOI SEU VICE, SE ELEGEU GRAÇAS A ELE, NUNCA MAIS GANHOU ELEIÇÃO NENHUMA. OUTRO COM A SUA SENILIDADE, PERSEGUIU ATÉ QUE ELE FOSSE PARA LIBRES. DEUS NÃO DORME, HOJE NÃO TEMOS MAIS O MARQUES. A VERDADE ESTÁ APARECENDO MOSTRANDO A SITUAÇÃO DE URUGUAIANA DEIXADA PELO IMPERADOR
Disse tudo Lauro!!
Hey que texto.
De chorar.
Janaina
Mas ah tocaio.
Saudade dos bons tempos em que escrevias no Cidade.
Lauro
Lembro do Marques Acunha, de quando jogou na lateral esquerda do E.C. Uruguaiana (juvenil), que tinha muita gente boa de futebol (Mario Mugica, Caio Saldanha, Paré e outros)
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