Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Férias, por Gabriel Novis Neves

2 de fev. de 2015

Férias, por Gabriel Novis Neves

Férias 
Para as classes mais favorecidas economicamente férias é sinônimo de viajar. 
Quanto mais elevado o cartão de crédito, mais distante é o lugar escolhido para o descanso, apesar de termos, muitas vezes, de enfrentar até vinte horas de avião. 
Acho salutar um corte nas atividades diárias para momentos de lazer. No entanto, sabemos que não há nada mais trabalhoso do que o planejamento das sonhadas férias. 
Fico sem saber o que é mais gratificante: se a partida para o sonho de um descanso inexistente ou o reencontro com a realidade no retorno. 
Aeroportos lotados e inadequados. Voos atrasados. Informações incorretas. Filas para embarques, desembarques. Espera das bagagens e para compra do ticket do táxi. 
No hotel, fila para o check-in na recepção. Fila para o restaurante, teatro, cinema. 
É tanta gente, que nos impede de conhecer gente. 
No final das férias o “fenômeno” se repete com o aparecimento do tédio da espera da chegada em casa, para, finalmente, uns dias de férias... 
Férias rima com despojamento, relax, preguiça, esquecimento, desrespeito aos horários, simplicidade, ócio, desejo de não fazer nada. 
Por que então complicamos tanto este período que nos é oferecido para nada fazer que lembrasse trabalho e, muito menos, atividades compulsivas? 
Ao contrário, programamos trabalhos exaustivos como o abre e fecha das malas cheias de bugigangas, noites curtas de sono, atividades esportivas exaustivas, exposição excessiva ao sol, enfim, todas as tentativas de preenchimento do nosso vazio interno, resultado de uma vida desperdiçada por um trabalho que, muito frequentemente, não nos dá prazer. 
O pior é quando, para complicar, escolhemos países de clima antagônico ao nosso. 
A mão de obra aumenta, assim como a saudade da vida caseira que trocamos pelas férias desastrosas. 
Tudo isso sem falar no sentimento de culpa que o lazer geralmente traz à grande maioria das pessoas. Condicionadas desde sempre a funcionarem como mãos de obra ativa sentem-se desconfortáveis logo após os primeiros dias com possibilidade de ócio criativo. 
Férias são para feriar, e não, trabalhar de viajar.

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