Criar filhos
Nada a ver com criar pessoas belas, saudáveis, educadas e até, razoavelmente, agradáveis.
Seguramente, a criação familiar tradicional está bem distante dessas possibilidades.
Com padrões e arquétipos baseados no autoritarismo, no sucesso a qualquer preço e na repetição dos dogmas e mitos sociais, educacionais e religiosos vigentes, o que a sociedade vem fazendo é produzir em massa seres sem autoconfiança, despidos de criatividade, com baixa autoestima nítida e, no geral, automatizados, muito pouco interessantes.
Exatamente por não lhes ser permitida a liberdade do existir, por serem incentivados a dissimularem os seus próprios sentimentos e ações, nunca se mostrando como realmente são, as pessoas vão se tornando falsas, desenergizadas, nada autênticas, na tentativa de obedecer a padrões uniformes de comportamento considerado aceitável pela sociedade.
Enfim, filhos criados para ser motivo de orgulho para nós e nunca para eles mesmos.
Criar filhos é exatamente o contrário. É prepará-los para o mundo em que vão viver, e não, ficarem atados aos conceitos arcaicos de seus antecessores, ainda que tenhamos consciência que essa preparação para o voo livre de cada um é extremamente dolorosa para os pais.
Não precisamos de clones, mas sim, de pessoas sincronizadas com o seu tempo, carregadas de elevada autoestima.
Transmitir valores básicos de caráter e de convivência no dia a dia deve ser a única meta.
Somente o incentivo à capacidade de voar, esse exercício do existencialismo, é que vai propiciar a formação de pessoas mais criativas e seguras de si mesmas, aptas a esse mundo que, com certeza, será bem diferente do de seus pais.
Caso contrário, teremos seres inseguros, carentes, conflitados pelos valores estáticos de que foram vítimas.
Isso é bem observado em reuniões sociais costumeiras quando nos deparamos, na maioria das vezes, com um grande rebanho, em que todos se expressam e se comportam de uma mesma maneira, absolutamente monótona.
Por vezes, liberados através de uma maior ingestão alcoólica, podemos até pinçar alguém mais interessante, de conteúdo mais livre.
Pessoas um pouco mais diferenciadas, com uma maior carga energética, sentem-se absolutamente sós nesses conglomerados sociais tradicionais, sendo muitas vezes rotuladas de pretensiosas e antissociais. É a solidão na multidão.
Com certeza, essa repressão da humanidade tem sido enorme através dos séculos e somente agora, diante de pais jovens mais descolados, começamos a observar um movimento mais livre e mais leve nas organizações familiares modernas que se tornaram múltiplas na sua composição.
A aceitação de famílias homoafetivas pela sociedade é um passo à frente na busca pela verdade de cada indivíduo.
Ensinar a respeitar a opção do outro, seja ela cultural, política, religiosa ou sexual deveria ser a bíblia a ser seguida por pais e educadores.
Viva e deixe viver.
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