Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Mais um, por Gbriel Novis Neves

8 de jun. de 2015

Mais um, por Gbriel Novis Neves

Mais um 
O Ministério da Saúde selecionou vinte e oito hospitais no Brasil para desenvolver um projeto denominado Parto Adequado. Vinte e três são privados e apenas cinco fazem parte das Maternidades do Sistema Único de Saúde (SUS). 
Trata-se, na sua essência, de um “Estímulo ao Parto Normal”, com organização da Atenção ao Pré-Natal, Parto e Nascimento. 
A taxa de cesarianas de 84% na saúde suplementar e de 40% na saúde pública é alarmante, no dizer do próprio Ministro da Saúde. 
O pior é que não há justificativas clínicas para taxas tão elevadas. 
No Brasil existe uma verdadeira epidemia de cesarianas. 
Quando não há indicação médica, o parto operatório por via alta pode ocasionar riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê. 
Há probabilidade de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. 
Aproximadamente 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis em nosso país estão relacionados às prematuridades, nos informa o Ministério da Saúde.  
A intenção dos organizadores desse programa é a melhor possível. Mas, para quem conhece a nossa realidade em saúde pública, o seu êxito é quase inviável em termos quantitativos. 
Temos pouquíssimas maternidades, mesmo entre as selecionadas, com poucos leitos disponíveis para atender ao programa e profissionais disponíveis para esse tipo de trabalho, embora com condições técnicas, mas sem valorização profissional. 
O parto normal requer a presença física do médico que realizou o pré-natal e, considerando que a evolução de um parto normal é de cerca de dez horas, a proposta se torna uma utopia. 
Gestantes do SUS muitas vezes não realizam o mínimo de consultas preconizadas pela organização Mundial de Saúde (OMS). 
A rede pública que atende o SUS é totalmente deficitária em número de leitos e recursos humanos. 
As maternidades particulares, sobrecarregadas, não suportam um programa de “Estímulo ao Parto Normal”. 
Finalmente, o crônico problema de remuneração digna aos profissionais das equipes multidisciplinares que darão suporte às gestantes. 
O mal do Brasil é que as coisas começam pelo fim. Antes de oferecer condições para o atendimento médico necessário, criam-se programas com normas iguais de atendimento em um continental país cheio de peculiaridades e desigualdades. 
O programa “Estímulo ao Parto Normal” como outros (Humanização do Parto), é mais um que tem tudo para não dar certo. 
Autoridades! Deem condições de trabalho aos profissionais de saúde e deixem o marketing para divulgar os resultados obtidos! 

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