O voto e o veto
Texto, foto de Valéria del Cueto
Alô, base. Aqui Pluct Plact em mais um relatório.
Esse não é para você, cara cronista voluntariamente distante
desse redemoinho invertido que rodopia afundando tudo que nele se enreda. Entendeu
a imagem? Explico.
Aqui não é o Kansas, nem esse desastre recorrente vai te levar,
qual Dorothy Gale, pelos ares com seu cãozinho Totó para desabar na terra dos
munchkins. Nem, como lá, a casa voadora cairá em cima da Bruxa Má do Leste, esmigalhando
a malvada...
Por essas bandas quando se é pego pelo tornado a saída não está
no alto, mas mais embaixo. Dele, o buraco, é quase impossível escapar. Não tem Glinda,
a Bruxa do Norte, para dar sapatos mágicos, nem amigos para trilharem cantarolando
o caminho dos Tijolos Amarelos. Muito menos Cidade das Esmeraldas... Apesar de,
sim, termos um Mágico de Oz e tudo que isso implica.
Estou tentando (eu disse tentando) destrinchar os últimos acontecimentos.
Sem muito sucesso, confesso.
Só agora, por exemplo, o moço do topete laranja que comanda o
maior país do mundo resolveu considerar levemeeente a hipótese de que pode ter
perdido a disputa eleitoral para seu concorrente no início de novembro. Eu
disse considerar a hipótese porque, como a esperança que é a última que corre,
Trump está na base do “daqui não saio, daqui ninguém me tira”, dificultando a
transição e acreditando que no dia da votação dos delegados algo inédito poderá
acontecer. Como os democratas votarem nele!
Só agora... por mais incrível que pareça, dizem que a energia
voltou ao Amapá, depois de 22 dias de escuridão, apagão, vaias, revolta e muita
gente dizendo que o filho feio não era seu.
Só agora... descobriram milhões de doses de testes da malfadada
Covid-19 perdendo a validade num galpão do Ministério da Saúde, em Guarulhos.
Como explicar o que dizem por aí aos colegas interestelares? Que
o General alçado à chefia do Ministério chave por sua expertise em logística não
corrigiu (dado aqui o benefício da dúvida, acho que ele não sabia o que havia
no seu quintal) a falha na aquisição dos cotonetes de haste longa para a realização
dos testes? Não acredito nessa possibilidade. E para explicar que tem mais
testes perdendo a validade do que TODOS os que já foram aplicados no país?
É isso que você está lendo, cronista. Nunca foi tão pertinente
sua disposição de se isolar nessa cela apenas frequentada por um raio de luar.
Sabe por que? Porque a pandemia não dá trégua e o FICA EM CASA que todos os
agentes de saúde bradam parece não fazer parte do reduzido (e agressivo) vocabulário
do brasileiro em geral. Ele não sabe somar dois mais dois para chegar aos
números assustadores da pandemia, nem tem tempo de aprimorar seu conhecimento
literário. Afinal, quem aprende alguma coisa depois de partir dessa para melhor
quase sem chance de repescagem?
Para completar, o tornado que enterra e passa por aqui se chama
eleição. O segundo turno, especialmente. O momento em que o voto é essencial,
mas perde sua beleza porque passa a ser veto. Quando o povo vai às urnas não
para escolher o melhor, mas para impedir que o pior chegue lá. Não se discutem
propostas nem programas! O que valem são as alianças, por mais espúrias que
sejam, para garantir um “aqué” ou uma vantagem ali na frente.
É um processo em que não se constroem sonhos ou discutem soluções.
Parece que o único meio de chegar à vitória é destruindo a reputação do
oponente...
Finalizo com uma reflexão baseada num de seus “amores”, o
carnaval. Marginalizado, suspenso e a priori transferido pelas “ôtoridades” para
julho de 2021.
Você vai gostar e, talvez, até botar seu narizinho pra fora
disfarçada de Colombina. Cheguei a conclusão que Dona Coronga é uma foliã. Se
considerarmos a festa uma manifestação que subverte a ordem (como a descrevem
os teóricos e estudiosos), a Covid-19 está fazendo seu papel!
Em fevereiro acabará com as cordas cantadas no samba Plataforma
de João Bosco e Aldir Blanc e o famigerado “caderno de encargos” do quase, quem
sabe, prefeito Eduardo Paes, numa só tacada.
E, é claro, não haverá como impedir o povo de ir às ruas, nem
que seja no Bloco do Eu Sozinho, assim como é o momento de colocar o voto na
urna. Mais carnavalesca impossível.
Uma pequena réstia de luz no fim do túnel? Só mesmo aí na sua
cela, onde o raio de luar nunca falha se o céu estiver claro...
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de
carnaval. Da série “Fábulas
Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
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