Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Distância, por Gabriel Novis Neves

2 de nov. de 2014

Distância, por Gabriel Novis Neves



Distância 
Quando falamos da distância física entre pessoas nos vem à ideia um afastamento por alguns milhares de quilômetros. 
É um engano que cometemos com assiduidade. Achamos que a proximidade física elimina a distância entre seres humanos, o que não é correto. 
O mais triste é que a maioria dos relacionamentos só consegue manter-se nesse imenso abismo. 
A intimidade, no seu sentido pleno, é pouco incentivada nos meios familiares, amorosos e amistosos. 
É como se necessário fosse manter uma capa impermeável entre nós e o nosso verdadeiro eu, tudo para manter a convivência nos níveis de hipocrisia que a sociedade nos impõe. 
Já comentamos sobre a solidão na multidão, consequência imediata dessa postura. 
No colégio aprendemos que a distância é o que separa dois pontos geográficos. Isso terminou com o mundo globalizado, onde todos nos encontramos em uma imensa aldeia. 
Tema predileto de poetas e boêmios. Eles definiram, como ninguém, o que realmente significa a distância. 
Lucho Gatica, cantante chileno de enorme sucesso nos anos cinquenta, inundava as ruas do centro do Rio antigo, com seus lamentos produzidos pelos discos de vinil 78 RPM da época, com boleros tipo dor de cotovelo sobre “La Distância”, na mais chorosa interpretação de separação pela quilometragem. 
Antes da Bossa Nova esse tipo de música fazia sucesso entre a meninada. 
Os poetas, escritores, músicos e artistas existem para traduzir a realidade que sentem. Afirmam que nada aproxima tanto as pessoas quanto a distância. 
Ela parece ser necessária para despertar outros sentimentos nobres, sendo o maior deles a saudade – que é a presença da ausência, no dizer de Alceu de Amoroso Lima. 
Há também muito folclore e sentimentalismo quando surge a distância circunstancial, causando enormes sofrimentos emocionais. 
Mas, se ela adquire maturidade e persiste, é sinal de sua transformação em algo mais profundo. 
Encontrar nomes apropriados para definir nossos sentimentos é um trabalho de risco. 
Viver à distância é viver entregue aos caprichos da natureza, mesmo sabendo das dificuldades de se manter a pessoa amada perto da gente. 

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