Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Lazer, por Gabriel Novis Neves

10 de nov. de 2014

Lazer, por Gabriel Novis Neves


No final da década dos anos quarenta, ainda em Cuiabá, ouvia pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro a “briga musical” entre o já famoso compositor Noel Rosa e o ainda pouco conhecido Wilson Batista. 
O contador dessa deliciosa história foi o estudioso Almirante, que entendia tudo de rádio e música. 
Intelectual e pesquisador ele foi um grande incentivador e divulgador da nossa puríssima música popular e de seus protagonistas. 
Cheguei ao Rio para estudar medicina sabendo tudo sobre a obra musical do quase meu colega Noel, e muito pouco sobre as disciplinas do difícil vestibular. 
Com a curiosidade de adolescente procurei o veterano porteiro da “Matriz” para obter mais informações daquele aluno compositor que abandonou o curso antes de se graduar, e a vida aos vinte e seis anos de idade. Deixou uma imensa obra poético-musical. 
Nunca mais tive tempo para ouvir esse primor da nossa cultura. 
“Seo” Magalhães, o porteiro de cabeleira branca, com as suas histórias sobre o menino feio, foi fundamental para que a minha admiração aumentasse pelo poeta da Vila. 
Seus versos simples sobre o cotidiano relatam o tempo onde ninguém tinha pressa e as conversas sem fim aconteciam. 
Seu “inimigo musical”, Wilson Batista, ficou conhecido com a tal briga, e passou à nossa memória como um dos grandes compositores populares do Brasil. 
São desse período sambas como “Lenço no pescoço”, “Mocinho da Vila” e “Conversa Fiada”, do Wilson. 
Noel respondeu com “Deixa de arrastar seu tamanco”, “Feitiço da Vila” e “Palpite infeliz”. 
Após perder a mulher cobiçada da Lapa para o Wilson, surgiu a polêmica musical que durou três anos. 
Terminaram amigos. 
Após a morte de Noel surgiram outros gênios na nossa música popular. Por exemplo: o “lavador de automóveis”, Cartola – divulgado pelo Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, das “certinhas”. 
Só um gênio como o marido da Dona Zica para nos deixar: “As rosas não falam”, “O mundo é um moinho” e “Deixe-me ir”. 
A ociosidade não voluntária faz bem à saúde. Ela nos dá tempo para que possamos nos deliciar com as coisas belas da vida, que são simples e puras. 
Sinto-me perdido neste mundo de tantas violências e desrespeito ao ser humano. 
O escritor sírio Kalil Gibran definiu a simplicidade como o último degrau da sabedoria. 

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