Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Os três tempos da vida, por Gabriel Novis Neves

17 de jun. de 2015

Os três tempos da vida, por Gabriel Novis Neves

Os três tempos da vida
Diante do meu terceiro tempo de vida, passo dias e dias em intensa reflexão, coisa para quem tem todo o tempo do mundo e se dispõe a passar a limpo os encantos e os desencantos de suas vivências. 
Sim, estou em plena “fase da reflexão”! 
Quando chega ao mundo, o ser humano, para convivência com os da sua raça, entra na “fase da formação”. 
Nos primeiros seis anos de vida ele forma todos os seus valores e, o que é pior, muitos desvalores passados pelos familiares, pelo meio em que vive, pelas religiões que lhe são impostas e por todas as caretices criadas pela sociedade com suas ambivalências e suas idiossincrasias. 
Enfim, despidos de qualquer capacidade decisória, o homem torna-se naquilo que determina o sistema. 
De um modo geral, já em período escolar, o ensino tradicional não contribui muito para desenvolver a criatividade. 
Matérias obsoletas e desnecessárias compõem um currículo que de pouca utilidade  se mostrará na vida adulta. 
Estatísticas mostram que 80% das pessoas não trabalham no que realmente gostam. 
Discussões filosóficas fundamentais para a vida não são feitas nas escolas nem no meio familiar. 
Passada essa fase da formação, surgirá o adulto pronto na sua nova “fase da ação”. 
Tudo é muito dinâmico, pouco pensado, impulsionado pelo sexo, pelo poder e pela força. 
Certamente ele virá repleto de mentiras e hipocrisias, portador de máscaras para cada momento de sua vida futura, sempre calcada no sucesso financeiro que, segundo o que lhe foi transmitido, representa a felicidade total. 
Foram absorvidos, ou não, condicionamentos patológicos dos mais diversos tipos, e eles os acompanharão pela vida afora. 
Cheios de prepotência, não pararam para discutir se o que aprendeu foi certo ou errado, e apenas repetem os modelos neuróticos que aprenderam a usar em função do tão buscado “sucesso na vida”. 
O outro passa a ser apenas um detalhe e é atropelado sem culpa, desde que isso se imponha para o crescimento pessoal. 
Dessa forma, criam-se bandos e bandos de egoístas compulsivos que, tendo se comprometido a uma convivência civilizada, transformam o mundo num lugar tenso, angustiante, sujeito a todo tipo de violência. 
Apenas na velhice, nesse terceiro ciclo da vida, começamos a vivenciar “a fase da reflexão”. 
Essa sim deveria ser a fase em que, já sem as tarefas da procriação e do dinheiro que o mundo exige, o ser humano poderia se dedicar ao aprimoramento da sua vida emocional. 
Pena que nessa fase muitos indivíduos sofrem a interferência dos chamados “familiares bem intencionados” que, imbuídos de uma compaixão desnecessária e inexistente, passam a interferir na privacidade do idoso, duvidando, portanto, da sua perfeita capacidade de autogestão. 
Isso acontece inconscientemente e, algumas vezes, nas melhores das intenções. 
Alguns idosos aceitam essa poda física e emocional, enquanto outros, mais reflexivos, questionam esses comportamentos, tornando-se difícil a convivência com os circunstantes. 
É como se ele (o idoso) não tivesse mais capacidade de reflexão, justo na fase em que ela aparece com total intensidade. 
Com a plena consciência de que não há mais tempo a perder, a idade demanda pressa e interesse maior por tudo que a rodeia.

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