O plenário do Congresso estava
vazio. Deputados e senadores correram para as suas salas. Queriam saber se o
que estava na rádio corredor era verdade ou não. Era um momento de angústia
geral. O que seria do parlamento se os boatos fossem verdadeiros? Afinal tudo
corria ás mil maravilhas, salários em dia, salamaleques de toda ordem, título
de excelência usado pelos subalternos, cabos eleitorais satisfeitos em suas
bases fazendo campanha para a próxima eleição abertamente, o presidente se
submetendo docilmente aos pedidos dos políticos. Mas era verdade. O senador
tinha sido preso. Era acusado de ser o autor intelectual do atentado contra o
presidente da república. Prudente de Morais saiu ileso, mas o general Bittencourt
morreu. Não se viu nos gabinetes viva alma nos dias que se seguiram até que o
senador Pinheiro Machado fosse libertado sob o manto da falta de provas.
O senador era useiro e vezeiro
em ameaçar o presidente, fosse lá qual fosse, se seus pedidos não fossem
atendidos. Afinal era um senador da república e líder de uma aguerrida bancada
no Congresso Nacional. Tinha o poder de blindar seus acólitos e execrar os
opositores. Apresentava –se aos jornalistas sempre sorrindo como se nenhuma das
acusações lhe diziam respeito. Relacionava-se diretamente com as oligarquias
regionais e se portava como o verdadeiro detentor do poder. Aliás estava sempre
ao lado dele e quando contrariado ameaçava passar para oposição. Nada de
ideário, programa partidário, princípios morais ou éticos. Não pensava no
Brasil, o tempo todo urdia manobras para se perpetuar no poder. Não escapou de
um atentado no saguão de um hotel no Rio de Janeiro quando foi apunhalado pelas
costas. Não havia ainda a legião de seguranças que perambulam em torno dos
atuais donos do poder.
A cena se repete 102 anos
depois. Um tsunami se abateu sobre o poder legislativo. Os celulares
confirmavam a má notícia, porem apenas com alertas. Eles precisavam mais
informações, saber se os seus nomes estavam ou não na lista do ministro Fachin.
Foi uma debandada em busca dos gabinetes, telefonemas apressados e a busca nos
sites de notícias. Os mais corajosos foram ao encontro dos jornalistas na sala
de imprensa. O plenário ficou abandonado. Só os fantasmas andavam por lá. As
sessões foram suspensas no senado e na câmara por falta absoluta de ânimo dos
parlamentares. A cada golfada de notícia mais nomes eram vomitados. A República
Federativa da Odebrecht não poupava ninguém. Não era mais vazamento seletivo.
Era a íntegra dos depoimentos do rei das empreiteiras e de seu delfim.
Por Heródoto Barbeiro
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