Historinhas em tempo de lua
Texto, foto e vídeo de Valéria del
Cueto
O tempo
nesse mundo que você habita e onde pluctplacteio está cada vez mais veloz. O
que não faz sobrar tempo para coisas básicas como ter tempo de “deslocamento”.
É isso, esse quesito tornou-se dispensável. O ser humano acredita que pode ser
e estar em qualquer lugar, só trocando a roupinha do avatar e seus poderes.
Tipo game. É só mudar de sala. Tudo ao mesmo tempo. Para o bem e para o mal.
Da Itália
para Glasgow e, depois, Emirados Árabes. Os chefes do mundo se encontram em
diferentes eventos. G20, Cop26 e EXPODubai atraem as atenções. Incluindo a dos
observadores intergalácticos que andam por aqui. A quem tento traduzir o
significado de tantas pantomimas, sempre com os mesmos atores.
Começo pelo
X da questão para o universo. A COP26, as urgentíssimas mudanças de paradigmas
e novos conceitos, necessários para evitar (se ainda for possível) o colapso do
planeta Terra anunciado. Com você, em nossas noites de luar, aprendi duas expressões
que caem como uma luva e definem a conclusão das negociações: “cara de paisagem”
e “fazer a egípcia”.
Enquanto cientistas,
jovens, ativistas, minorias, ecologistas e humanos preocupados com o presente e
o futuro se manifestam nos fóruns apontando a seriedade e urgência da crise, os
responsáveis por grande parte dessa situação apresentam seus esforços
tecnológicos para minimizar os efeitos dos danos causados pela devastação
planetária. Ficaram conhecidos como “chapas verdes”. No caso do Brasil entre
suas representações sequer houve diálogo. Após o emocionante discurso da
indígena Txai Surui na abertura da conferência sobraram intimidações,
desinformações e fakenews contra a brasileira que falou na cerimônia.
O terceiro
grupo, o dos que realmente decidem, os governantes, não se abalou nem o com o
discurso do ministro de quase tudo, Simon Kofe, da ilha de Tuvalu que fica no
meio do Oceano Pacífico e corre o risco de desaparecer. Ele falou num púlpito com
água até os joelhos. Ao final promessas e algumas indicações, nenhuma imediata,
além de mais um empurrão intencional em questões graves, como a dos
combustíveis fósseis.
Querida
cronista lamento informar que as coisas andam difíceis e não é só na questão do
clima. A inflação galopa, a economia patina desgovernada, o dólar sobe, o
mercado geme e o povo quer é festa!
Todos precisam de um refresco e facilitam. Apesar dos sinais que avisam ao Brasil que a pandemia não acabou. Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro que você habita, anda fantasiado de Dudu, o boa praça, incentivando o “liberou geral” e sambando, sem máscara, na multidão. O povo, cansado, segue o flautista de Hamelin tocando bumbo pela passarela da inconsequência.
A (má) fama
fica com o carnaval, criminalizado nos trends das redes sociais. No eterno Fla x
Flu, a festa vira “coisa de esquerdista” na cruzada eleitoral. Seria apenas
essa a questão, não fossem os turistas e seus dólares maravilhosos para a economia
combalida.
Caso a ser desenrolado
depois de um raid pelo mundo encantado brasileiro da EXPODubai2021. Que vida louca,
essa aqui fora. Do desastre climático eminente à exposição monumental tecnológica
sem escala.
No deserto,
“a Floresta Amazônica não pega fogo porque é úmida”, afirma o líder da nação
que, por causa do conjunto da obra destrutiva de seu governo, não foi a
conferência do clima, apesar de dias antes estar comendo pizza em Roma na reunião
do G20. Sozinho e isolado do grupo dos mandachuvas do planeta.
Deve ter sido
por isso que levou a tiracolo para Dubai filhos, assessores e amigos numa
comitiva digna de um sheik árabe, dono de poços de petróleos. Não fosse bancada
pelos contribuintes. Foi você que me contou a história infantil da “Roupa Nova
do Rei”, lembra?
Pois é,
aguarde. Na volta pra casa será o tempo (aquele, que está cada vez mais curto),
de fazer o relato comparativo de outra historinha. A da “Dona Baratinha”.
Afinal, quem será o Dom Ratão que cairá na panela da legenda eleitoral do grupo
presidencial para as eleições do ano que vem?
Em breve, mando
notícias em mais “uma carta sincera”. Vamos ver o que virá após o eclipse...
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Da série “Fábulas Fabulosas”
do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
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