Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Coluna Contos dos Cantos da Gente, por Valéria Surreaux.

1 de set. de 2009

Coluna Contos dos Cantos da Gente, por Valéria Surreaux.

O livro

Carlinhos andava há tempos meio que se engraçando pra os lado da Catarina e ela, se dando conta, quando via o cavalo apontar na porteira corria para fora do rancho, com as pernas amorenadas expostas nos panos de chita do vestido. Ele apeava, tirando o chapéu com os olhos de raposa:
- Bons dias!
- Bons dias, ela respondia mordendo o canto da boca.
- Seu Juventino anda por aí?
- Paiêêê!!! Gritava, sem tirar o olho do olho dele.
Quando Juventino chegava, Carlinhos puxava uma prosa sem pé nem cabeça, entregava uns recados inventados e voltava uns dias depois pra beira da barragem onde ficava a volante do aguador.
- Que tanto tu andas pra os lados da barragem do lindeiro, Carlinhos?
- É pena seu Marcos, pena mesmo, ando com dó da filha do Juventino , tá passando até fome a bichinha! Andam atacando até nos quero-quero, que já chegou essa prosa aqui pelo galpão. Diz que o lindeiro não libera nada. Manda que eles se virem que água tem a vontade e cochila as traíras. Mas o senhor sabe como é que é: Comer sempre a mesma coisa revolta um cristão!
- Se sei, se sei....
E lá ia Carlinhos de novo, dessa vez disposto a puxar algum assunto com a guria e presenteá-la com um saco de bolacha. Apeou, tirou o chapéu e ficou ali, parado, olhando pra cara safada de Catarina.
- Não vai perguntar pelo pai?
- Não, quero perguntar uma coisa pra ti mesmo.
- Pergunta então.
- Tu é casada ou é mulher assim no más?
- Sou mulher. Assim... no más.
- Virge Santa, sorte a minha então.
- Então... disse ela.
E assim começou o romance. Pediu a mão da moça para o Juventino, mas disse que casamento só pro ano que era pra se amasiar mesmo e o pai, diante da situação, despachou a guria carregando uma trouxa de trapos, um rádio de pilha, um espelho e uma panela de ferro. Mas isso foi há muitos anos. Catarina agora andava de carne frouxa com as ganachas caindo, o côgo soltando e furiosa como o diabo. Ameaçou várias vezes a separação, mas dessa vez parecia que era pra sempre.
- Seu Marcos, to me pondo meio nervoso, acho que dessa vez a louca se vai, pega o brete mesmo. Levantou com as tralhas: os avios de mate, a televisão de plasta que me obrigou a comprar e que tô pagando até hoje, o desmanchador.
- Desmanchador?
- É, aquele aparelho barulhento que nunca consegui dizer o nome que se bota fruta dentro e desmancha tudo.
- Ah.
- Vou ficar só com as bombachas, patrão. Mulherzita mal agradecida e ladrona, filha duma égua, com seu perdão, seu Marcos.
- Carlinhoooooooo!!
- Que foi Catarina?
- Cadê o livro que eu vou levar também?
- Vê só seu Marcos, a louca nem sabe ler e quer levantar com meu único livro.
- E que livro é esse? Tu mal sabe acolherar as letras do teu próprio nome e nem sabia que tu eras de te interessar por essas frescuras.
- Não me interesso mesmo. Tô brabo só pelo desaforo. O livro é velho e louco de chato, nunca comecei a ler, mas já vi por cima que tem muito povo e quase nenhuma história.
- Que nome tem esse livro?
- Se não me engano é Listra Tenefrônica Estradal.

3 comentários:

Anônimo disse...

Valérias, Valérias, menas menas, como dizia o Antonio Souza.

Anônimo disse...

Valérias, Valérias, mais mais, sempre mais e cada vez melhor, como dizem em côro!

Felipe Conte disse...

Valérias,Valérias,mais mais e cada vez melhor!Como dizem em coro.