Coluna Dito e Feito, por Valéria del Cueto.

Referências + preferências = circunstâncias

O meu Leme tem um tempo. Um respirar quase um suspiro, daqueles que a gente enche o peito, antes de soltá-lo.E, enquanto não sintonizo meu ritmo ao dele, não me sinto em casa.

Já descobri que para alcançar este Nirvana existencial, são necessários alguns passos: ir à praia na Ponta, andar pelas ruas do bairro sem pressa, tomar suco de abacaxi com banana, acompanhado de pão na chapa com manteiga e polenguinho, finalizar a refeição matinal com um café no copo americano, na padaria da esquina no horário do almoço dos simples mortais.

Passar na banca de jornal do Santo pra tirar uma casquinha das novidades da semana, pesquisando na capa das revistas expostas e comprar a Recreativa pra fazer palavras cruzadas.

Passear no calçadão pisando só nas pedras brancas ou pretas (nas vermelhas não funciona, por que são poucas e mais espaçadas, não dá pra pular de um desenho de Burle Marx pra outro). Passear na beira da praia, molhando os pés na água geladinha. Acabar toda molhada por uma onde mais afoita. Fazer uma caminhada pela orla (não é tudo a mesma coisa, informo aos que desconhecem a geografia do local. Nessa parte as pedras são em ondas!

Comer uma pizza no supermercado, dar bom dia pro Vagner, o porteiro do clube, conversar com o Lauro, o porteiro da noite do prédio enquanto ele lava os carros na rua, durante o dia, dar um alô pro Licurgo,o dono da tinturaria, outro pra Helena, a responsável pela mercearia que tem a melhor banana prata da área, pegar um DVD na Macedônia, deixar o cabelo solto pra ser despenteado ao vento que faz a curva no Caminho dos Pescadores no final da tarde, vendo o sol cair por cima do Pavão/Pavãozinho, ouvir a cantoria da rapaziada do Areia, nosso time de futebol de praia, após uma vitória no jogo de sábado, de ser recebida pelo Paulinho, do Brambini, jogar conversa fora com o Pedrinho, do São Sebastião, ser cumprimentada pelo entregador do açougue que me chama de menina.

Minha Cuiabá tem outro tempo, muito diferente de um suspiro. Caliente. E, para sintonizar meu ritmo ao dela, são necessários alguns passos, que adoraria que você elencasse pra mim, aí no centro-oeste.

Bom minha Uruguaiana são outros quinhentos. Sei que vocês, meus amigos poderão colaborar lembrando coisas que só Uruguaiana tem. Deixo duas dicas que mesmo fora do tempo, fazem ela ocupar o lugar em que se encontra na minha lista de cidades amigas, aquelas que basta chegar pra gente se sentir em casa: Califórnia da Canção e Passarinho. Ele, que sempre vai cantar e embalar meu coração viajante...