Abaixo o dia das mães
Rônei Araújo da Rocha
médico psiquiatra
Aproveitando a ocasião, também lanço o “Abaixo o dia dos pais”. Absolutamente nada contra as mães, quase tudo contra o seu dia. O problema começou quando o instinto materno morreu. Sim, ele desapareceu, e já faz muito tempo. É fácil comprovar isso, pois não sabemos mais nem o que fazer na hora de parir. Caso uma mãe fosse deixada à sua própria sorte na hora do parto, sem nenhuma orientação, teria grande chance de perder seu bebê, e até mesmo de morrer. No entanto, basta um teste de laboratório positivo para que se exija de qualquer mulher algo que, pressupõe-se, para ela deveria ser natural: a maternidade. O problema prossegue com o fato de que o amor materno como algo inato não passa de um mito. Amor é amor, surge naturalmente, quando permitido, e não quando queremos ou como uma imposição social. A coisa mais natural é que uma mulher não ame os seus filhos quando eles nascem - como também é natural que tenha um amor à primeira vista acachapante. Para muitos de nós isto soa como uma aberração, mas experimente trocar a palavra mulher pela palavra homem, e verá como a frase agride muitíssimo menos. A estas duas exigências absurdas acrescente as variações hormonais, e já dá para começar a entender porque duas mulheres em cada dez irão ter depressão pós-parto. Prosseguindo com a questão do dia das mães, sua mãe é carinhosa, abnegada e, principalmente, lhe respeita? Sorte a sua, e feliz dia das mães. Você já é adulto? Então vire-se, e feliz dia das mães. As maiores vítimas são as crianças, sempre as crianças. Imaginem como fica a cabeça de uma delas, recebendo um bombardeio de mensagens nas propagandas, ou ensaiando uma música na escola, dizendo que mãe é um ser essencialmente amoroso que sacrifica seus próprios desejos em nome dos filhos, enquanto a dela é uma alcoólatra que lhe agride e abandona sistematicamente. Pergunte a qualquer criança de um abrigo por que ela está lá, e todas irão lhe responder que não foram boas com os seus pais. Dá pra imaginar? O que falta mesmo, só pra variar, é respeito. Por respeito uma mãe deveria receber todo o tipo de apoio, de madrinhas a avós que metam a mão na massa, dando banho, trocando fraldas, levando a consultas, sem cobranças do tipo: “teu leite está fraco”; “tu não estás te esforçando”, etc. Por respeito, as crianças poderiam homenagear as suas mães espontaneamente, como fazem todos os dias, exigindo sua atenção, comendo, dormindo, chorando e, principalmente, crescendo.