Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: 08/26/09

26 de ago. de 2009

Respeito automático é um preconceito politicamente correto; irracional, portanto*

*Coluna de Benhur Bortolotto para a edição de 12.12.2008 do Tribuna

Gosto muito da seguinte frase do Dryden: “Ainda não chegara a patriota, mas já era bem idiota”, que, por uma série de razões, vem a calhar. É uma resposta que assim avulsa não seria entendida pelos que precisam dela para um impacto de realidade, de senso comum e de simplicidade, ou não seriam quem são. A frase, vou repeti-la, é muita crua e substancial, “Ainda não chegara a patriota, mas já era bem idiota”. O que, admitamos, é um excelente progresso; que vai lá esse indivíduo abstrato no bom caminho para ser um louvável imbecil.

Os homossexuais têm seu dia estúpido do orgulho estúpido de serem gays, os negros volta e meia dizem como se orgulham de serem negros, os brancos nunca precisaram orgulhar-se disso por causa burrice de acreditarem numa superioridade natural, até ser pobre ou deficiente já é motivo de orgulho, e nessa esquisitice coletiva de comiseração dos infortúnios próprios e alheios, pelo hábito politicamente correto de prestigiar o que nos convém prestigiar para sermos prestigiados, de prestigiar aquilo que é nosso pelo simples fato de ser nosso, e de classificar pessoas de acordo com aquilo que são graças ao deus avulso, não do imprevisto, como disse Machado de Assis, mas do improviso, que é o que é o mundo, um grande improviso, e, por aí, chega-se também ao patriotismo.

Ora, orgulhar-se de ser homossexual, negro ou pobre é uma burrice das mais tremendas por um motivo muito simples: a Orientação Sexual não é uma opção feita por alguém com talento para herói ou heroína que quer andar aí enfrentando os preconceitos para divulgar, em detrimento da própria configuração sexual, uma maneira alternativa de se viver, para mostrar que não é crime ou pecado amar, seja quem for, de modo que não tem o sujeito responsabilidade por ser o que é, nem méritos, conseqüentemente; assim como é burrice igual orgulhar-se do determinismo biológico de ser negro, e não branco, ou vice-versa, pois ao que se sabe não é algo pelo qual o feto opta, ou, indo mais longe, o espírito prévio, livre da carne, escolhe o corpo em que vai aportar; e não menos burrice é ter orgulho de ser pobre se não se fez nada para isso, como, por exemplo, ter doado toda a fortuna da família para algum propósito socialmente edificante – partido político e Anjos da Guarda não conta.

O problema é que se descobriu que é bastante cômodo promover a aceitação das diferenças ensinando pessoas bitoladas a se orgulharem de ser o que são por puro fatalismo, o que, no fundo, significa que as pessoas podem ter orgulho simplesmente de ser – afinal, metade de nós é o resultado de um espermatozóide prodígio – o que deságua, lamentavelmente, num conformismo e exasperação da própria mediocridade. É preciso orgulhar-se do esforço diário de agirmos e produzirmos o melhor que pudermos, respeitando nossa natureza, seja ela homossexual, heterossexual, bissexual, negra, branca, mulata, etc., e respeitando as limitações dessa natureza, como ocorre, por exemplo, mais nitidamente com alguns deficientes físicos, mas não só com eles, que todos temos as nossas dores, angústias, dificuldades e impedimentos.
Não é daquilo que somos à revelia da própria vontade, ou do lugar em que nascemos, que devemos nos orgulhar; isso é de uma arrogância estapafúrdia, pois não somos nós, tão ínfimos, motivos para elevar a classe, qualquer que seja ela (ainda mais tendo todas tão importantes expoentes).

Não sei se dei a sorte ou o azar de nascer em Uruguaiana, e nunca saberei, porque se tivesse nascido em outro lugar, não seria quem sou, ainda que, hipoteticamente, fosse aquilo que sou – são coisas diferentes –. Mas, se pudesse, é claro que iria daqui para bem longe, e as sugestões dos que me aconselham ir embora (já tem mais de um) são boas, embora eu acrescente Praga às listas, tenho muita empatia por Praga. E eu levaria comigo um profundo amor não pela terra em que nasci, mas por um grande amigo e por algumas poucas pessoas, daqui ou de outros lugares, que no convívio possibilitado pelo acaso de estar onde estou, eu conheci, algumas que eu amo só tendo encontrado e sem nem conhecer, e outras que conheci sem jamais ter chegado a encontrar. Não são os uruguaianenses, nem a cidade, não é o determinismo geográfico, biológico, financeiro, estrutural e psicológico que têm valor, isso não passa de uma base, importante sim, mas uma base, para a construção de um indivíduo ou de um projeto.

Mãos e espíritos à obra!


BENHUR BORTOLOTTO_______________________________benhurb@live.co.uk

Macaquitos, de Jayme del Cueto



"Casa onde falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão. Este é o ditado mais adequado ao momento que estamos vivendo com uma brigalhada geral em todos os planos da vida nacional. O congresso nacional parece um circo mambembe com artistas da pior qualidade; a mentira grassa deslavada na boca de gente que deveria primar pela decência e honestidade. Autoridades assumem atitudes debochadas, com declarações estapafúrdias, fazendo parecer que o mal de Alzheimer se instalou nas cabeças dos detentores dos cargos mais altos da nossa política; ninguém se lembra de nada, nem mesmo do que fez no dia anterior, a começar pelo Nosso Guia que, como os macaquinhos do ditado hindu, nada vê nada ouve e nada fala. Está definitivamente institucionalizada a mentira deslavada como uma atitude “republicana”, como tanto gostam de alardear os políticos “mudernos”. E o eleitor que se dane, já que todos eles estão se lixando para a opinião publica. Que Deus se apiede do Brasil".

*Continua no blog que reproduz as colunas de Jayme del Cueto e que pode ser acessado na listagem a direita da pagina principal do Tribuna de Uruguaiana