Texto e fotos de Valéria del Cueto
Não vou nem dar tempo para pensar. É pegar e não largar. Começar a
escrever. Como prometi no último texto. Fiquei pensando nessa dificuldade de
manter uma produção regular do que escrevo no papel (na cabeça é o tempo todo).
Depois de desistir de encontrar uma causa-mor e com receio de elencar
razões tão poderosas que me convençam a, ao materializá-las no papel, largar
mão desse que é um dos meus ofícios desde 2004 (se não me falha - o que é
possível- a memória, mudei o rumo da prosa. Não chego aos pés da produção
sensacional de Gabriel Novis Neves mas garanto um honroso lugar nesse quesito
de contação.
Enfim optei por um argumento que, espero, não me leve a nenhuma medida
drástica e definitiva. Acontece que no momento estou dando um tiro um pouco
mais longo. É um texto com mais do que as duas laudas convencionais do espaço
que ocupo e, vez por outra, extrapolo nas páginas do Ilustrado do Diário de
Cuiabá.
Cada vez que largo esse trabalho que, diga-se de passagem, vem sendo
atropelado por outras missões, mudo o foco e perco o fôlego dessa maratona literária.
Foram algumas paradas para selecionar imagens para as exposições “A força feminina do Samba”,
no Museu do Samba, aberta no final de julho; “Artesania
Ancestral nos 95 anos da Mangueira”, no CRAB/Sebrae, agora no final de
agosto, e a “Mangueira - Carnaval 2023”, no mezanino do Centro de Memória Verde
e Rosa do Palácio do Samba. Essa, ainda sem data para a abertura.
Estou concentrada e vendo passar ao longe vários eventos que estão
marcando a já iniciada temporada do carnaval 2024.
O mais interessante até o momento é, sem dúvida, a Fênix renascida da
escolha do Rei Momo e da Corte Carioca. O que mudou? Pra começar a data da
disputa. Saiu de um período cheio de eventos no final do ano para uma época em
que há um vácuo na agenda da folia.
A segunda mudança foi a indicação das concorrentes que deixou de ser
individual e passou a ser feita pelas agremiações. O povo do samba assumiu disputa
e acatou a demanda. Pontaço pra a Riotur. As comunidades vestiram as cores de
suas camisas e ocuparam a Cidade do Samba defendendo e torcendo por seus
candidatos a Rei Momo, Rainha e Princesas do Carnaval 2024.
Foi um sucesso de público e engajamento nas redes sociais. E, se não
rompeu, deixou a bolha carnavalesca em evidência por várias semanas seguidas
recheada de mulheres divinas. As eliminatórias e a final transmitidas pelo
youtube.
A escolha da corte emenda com as disputas dos sambas enredo que prometem
e lotarão as quadras, agitando o mundo do carnaval, até o feriadão de outubro. É
o prazo para que as obras sejam definidas e as escolas entrem em estúdio para
as gravações oficiais.
Exatamente para fugir dessa agitação é que me isolei no meio do mundo.
Também é por isso que me esforço em manter a periodicidade das crônicas
novamente. Se não for dessa maneira corro o risco de perder o contato com o
mundo exterior, mergulhada no texto e imagens que exigem fôlego de nadador.
No caso atual de nadador com pouca ou nenhuma experiência em tiros
longos, como o que me proponho agora. Confesso me dá um certo medinho de morrer
nessa praia desconhecida e, por enquanto, inóspita.
O que me salva e segura minha onda são as participações coletivas nas
exposições que mencionei, e, informo, ficarão abertas por bastante tempo.
Até o final do ano, no caso da “A força feminina do Samba”, e, esticadas
para depois do carnaval, a do CRAB/Sebrae e a do Centro de Memória.
Deixo aqui, caros e fiéis leitores que passarem pela Cidade Maravilhosa,
um convite para visita-las. Quem sabe, avisando com antecedência, não saio do
meio do mundo para uma visita guiada?
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “É Carnaval” do
SEM FIM... delcueto.wordpress.com