Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: 06/29/10

29 de jun. de 2010

Encontro de Fronteira em pauta

O Ministro Diretor de Limites e Fronteiras da República Argentina, Alberto Prosperi, do Cônsul da República Argentina em Uruguaiana, José Luis Casal, e da conselheira, Mônica Dinucci anunciaram a pauta da reunião do Comitê de Fronteira Paso de Los Libres-Uruguaiana, nos dias 30/06 e 1º./07, na Biblioteca Pública Municipal Luiz Guilherme do Prado Veppo, em Uruguaiana. O credenciamento iniciará às 10h30min do dia 30/06, e a abertura oficial acontecerá às 16h, no salão principal da Biblioteca.

Gatão de Meia Idade - As mulheres na minha vida

Ascenção e queda da cochonilha

de BRUNO MENDES


Tarde de outono. Durante uma volta em meu jardim, uma olhada mais atenta revela pequenos pontos brancos felpudos nas folhas de meu pé de limão galego, que minha mãe adora espremer em saladas. A infestação de cochonilhas, ainda pequena, merece uma poda preventiva para eliminar as folhas afetadas. Ao contrário dos parentes pulgão e cupim, as cochonilhas (Dactylopius coccus) são discretas e ficam imóveis na parte de baixo das folhas, sugando a seiva, enfraquecendo e adoecendo a planta hospedeira. Hoje universalmente odiado, esse minúsculo inseto esconde um passado glorioso, quando valia tanto quanto ouro e embelezava as vestes dos mais poderosos.

Oriunda da América Central e do Sul, a cochonilha era utilizada por astecas e maias para extração do corante carmim, pó obtido pela trituração de milhares de insetos, e que dotava corpos, vestimentas e escudos de um vermelho forte e duradouro. Assim como os primeiros portugueses se deixaram seduzir pela bela cor da madeira do pau-brasil, os espanhóis também rapidamente cobiçaram o marcante produto, que substituiu as desbotadas tinturas européias, extraídas durante séculos de outro inseto. Logo, nos idos de 1600, tão valorizado era o pó rubro que se tornava o segundo produto de exportação mais valioso do México, atrás apenas da prata. O monopólio escarlate era controlado com mão de ferro, como um segredo industrial, e lendas sobre sua origem eram perpetradas pelos espanhóis.

Ao contrário do pau-brasil, cuja exploração predatória rapidamente minguou sua disponibilidade, as cochonilhas eram facilmente criadas sobre cactos, mais especificamente pés de figo-da-Índia. Essa facilidade de propagação, que hoje achamos tão problemática em nosso jardim, garantiu que a produção atingisse o pico de 3 mil de toneladas nos idos de 1868, apenas das Ilhas Canárias. Mesmo o surgimento de criações concorrentes pelos franceses e holandeses ao redor do mundo não diminuiu a fome por esse pigmento rubro, utilizado desde nas túnicas dos cardeais aos uniformes dos soldados ingleses.

A invenção de diversos corantes artificiais no século XIX, porém, selou o destino dessa lucrativa indústria de mais de dois séculos de idade, que de tão laboriosa não podia competir com o eficiente novo método de produção, e então esvaneceu em apenas algumas décadas, sendo hoje restrita a algumas aplicações farmacêuticas e alimentares específicas.

Nada disso é aparente enquanto jogo as folhas cobertas de insetos no lixo. A ironia não me escapa quando penso que a cochonilha, antigamente motivo de guerra e cobiça, hoje é tida apenas como um incômodo sabotador de nossos esforços botânicos.