Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: junho 2020

17 de jun. de 2020

Sem pena? É quarentena - crônica de Valéria del Cueto

Sem pena? É quarentena

Texto e foto de Valéria del Cueto
Meio de junho. O decreto de isolamento social foi na metade de março por aqui. Noventa dias sem, praticamente, botar os pés fora de casa. O local, um dos epicentros da Covid-19 no Rio de Janeiro, Copacabana.

No momento vivemos num efeito sanfona, com um abre e fecha desritmado. Os governos municipal, estadual e federal não se entendem. Nem o Judiciário.

Não deu uma semana entre a batida da Polícia Federal na vida do governador Wilson Witzel e ser dado andamento a um processo para seu impeachment por parte dos parlamentares da Assembleia Legislativa.

Em Mato Grosso a Covid-19 está se apresentando agora. A onda avança.

E eu aqui. Vendo a vida passar com minha mãe. Em muitos sentidos. E em várias dimensões. Explico...

Aprendi um truque sábio: encher o pensamento e as ações com tarefas de rotina. De preferência monótonas, mas que prendam a atenção e não deixem ficar dando voltas no problema existencial.
Pensei nessa vibe quando me dispus a atualizar o ‘No Rumo do Sem Fim”. Havia um gap de anos no material inicialmente publicado numa plataforma que foi extinta, o multiply, lembra? Pois é.

É o material das fotos, textos, vídeos e áudios que estou recuperando e organizando. Nesse momento viajo nas postagens de 2009, em pleno carnaval! Na busca das imagens correlatas que revejo meus afetos.

Daqui a pouco seguirei para as postagens de Uruguaiana, seu carnaval fora de época e a Estância São Lucas. Antes de seguir para Mato Grosso, logo depois. Foi lá que voltei a ficar agarrada numa curva do Rio Cuiabá durante um bom período nessa época.

Sim, amigos, existem mundos paralelos. Assunto de um grupo bem restrito de whatsapp dia desses. Acho que além dos que estão em estudo, cada um pode criar seu(s) próprio(s)mundo(s) paralelo(s).
Enquanto corrijo os links das postagens adiciono os players de áudio e vídeo e procuro as imagens indicadas nos códigos HTMLs, nos antigos arquivos, revisitando o material, deixo a TV ligada. Normalmente num filme que já assisti. E só paro a edição quando “aquela cena” vai acontecer.

Outra opção é abrir a playlist de vídeos do mar no canal @delcueto, no Youtube, e deixar as centenas de registos em looping. Também ouço lives enquanto (per)corro os HDs em busca das imagens perdidas.

O trabalho é maior porque como seguro morreu de velho, realinho no arquivo, posto no Sem Fim e, quando o assunto é carnaval, no acervo carnevalerio.com. Precisa de muita atenção. Tanto quanto na faxina do apartamento, acredite.

Ainda não troquei a noite pelo dia, como alguns amigos, mas durmo muito tarde. Até às 14h me organizo. Trabalho direto até às 17:30. Almoço e parto para dentro de novo, trocando os filmes pelo noticiário.  Esse, só uma vez ao dia, a não ser em casos excepcionais (o que não tem faltado ultimamente).

Não tendo onde caminhar tomo sol no telhado do prédio. Daqui também não vejo o mar. Meu visual é o PPG, sigla das favelas Pavão/Pavãozinho/(Canta)Galo. Graças a Deus tranquilas, ultimamente.
Das rádios da comunidade ouço as músicas que podem ser gospel, se for no fim de semana, funk ou um samba. Agora, ouço Serginho Meriti.

É dia bom. Feriado de Corpus Cristi. O visual é um contraste das coberturas endinheiradas da Sá Ferreira no plano mais próximo e dos barracos da comunidade ao fundo. Quando o assunto é música, a favela dá de dez no repertório se comparado com os das festas que já presenciei nas varandas de alguns apartamentos. Vida que segue...

Aí pergunto a você leitor, se posso viajar no espaço e no tempo em várias direções, por que cargas d´águas me limitaria a ficar só nessas pandemias, a do vírus e a da ignorância, que nos assolam nesse momento?

Abri as asas...


*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Arpoador” do SEM FIM...  delcueto.wordpress.com
Studio na Colab55

11 de jun. de 2020

Está pedreira na clareira - Fábula Fabulosa de Valéria del Cueto

Está pedreira na clareira

Texto e foto de Valéria del Cueto
Lembra da Flotropi, aquela que já foi governada por uma anta, um morcego vampiresco e, agora, está sob os auspícios do mico que pensa ser mito? A que anda fora do foco dos relatos pela dificuldade de explicar a bagunça institucionalizada que anda por aqui. Faz tempo que não há um momento de tranquilidade.

Nem no reino vegetal, nem no mineral. O que dirá no animal... A clareira central e toda a periferia andam um pandemônio. Os MIs estão fazendo uma tremenda agitação.

A bicharada baseada no mais primitivo instinto, o da sobrevivência, se entoca. Enquanto o mico mito, a família miquilenta, os ministros amestrados, incluindo uma penca de gorilas, os seguidores bovinos (coitados) e a miquilicia, insistem que não há motivo de alarme. Ordenando que a vida a caminho da morte premeditada seja retomada nor-mal-men-te.

Como se não bastasse a praga do vírus na floresta tem também a praga da desinformação sendo utilizada de forma maldosa e criminosa, segundo os códigos de sobrevivência na selva, para confundir e amedrontar os animais.

É claro que a maioria das espécies não segue o aboio. Afinal, nem todos os animais têm por instinto andarem no passo do flautista, emprenhados por marchas requentadas. A qualidade musical já derruba a possibilidade. Nem os ratos aguentam. Só surdos.

A pressão é grande e, diante da falta de um comando consciente e preocupado com o coletivo florestal, diversas espécies deixaram o mico esbravejando sozinho e foram cuidar de garantir a sobrevivência (a duras penas, escamas, couros e cascos) do equilíbrio ambiental. A sabedoria da mata ensina a recolher o flap durante as tempestades.

Fazer o que? Quando se conclui que a família é mais importante e que o mundo animal é o que menos importa para quem foi escolhido para cuidar da floresta inteira...

Não, não é tagarelice, papagaiada, nem leva e traz da pombarada. Os incrédulos habitantes da Flotropi foram surpreendidos pela íntegra da reunião do conselho na clareira central. Nela, as piores intenções do gabinete florestal foram expostas sem pudor.

Quem esperava uma ajuda pra tocar seus empreendimentos, caso das formigas e de espécies como as abelhas, por exemplo, já tirou o cavalinho da chuva. Ouviu da hiena financeira que o dindin é só para adimplentes. Na Flotropi castigada. A que amarga os prejuízos de crises e ataques sucessivos.

Foi no encontro dos “notáveis”, dito pelo encarregado da proteção do meio ambiente, que souberam que havia uma boiada passando pelo Diário Oficial da Flotropi. Só falta a cabra chifruda decretar o correntão como instrumento de utilidade pública!

Também teve a fala da araponga beata, a que viu o ser supremo passeando de cipó. Avisava que vai dar um “teje preso” nos líderes da fauna que agirem contra o contágio eminente, acredite!

 A araponga abriu MESMO o bico diante da hipótese de transformar a floresta num parque temático. Com direito a jogatina monetizada e vuco-vuco. À possibilidade da criação do parque ela não se alterou. Mas, diante da liberação do jogo, saiu dando bicadas na cabeça do predador do turismo.

Não terminam aí as surpresas desagradáveis do conselho. O javaporco do saber aproveitou a deixa pedindo a prisão da cúpula da Suprema Corte da Floresta e ainda declarou que, para ele, os bichos eram todos iguais! Da terra, do mar e do ar. Oi?

Pensa que os demais conselheiros se abalaram? Nem o mico, nem os gorilas. Ouviram com cara de paisagem as tolices e sandices proferidas no conselho florestal, entre guinchados esbravejantes pedindo proteção para os miquinhos trapalhões peraltas e outras ilações.

Tanto cutucou, incomodou e destratou o corvo da justiça que, para não distribuir bicadas e evitar perder a linha, esse chutou o poleiro e bateu asas, se retirando do encontro. Dias depois, ao cantar como uma cotovia, foi a ave que expôs as entranhas da reunião da maldade.

Claro que o mico e seu conselho macacal ainda estão dando as cartas. Mas, agora, além dos coiotes e hienas com o apoio de cobras e baratas para (des) governar. Aquelas que sobrevivem na face da terra desde os primórdios. Sem essa aliança não teriam mais forças para manter o território.

Por se saberem num mato sem cachorro, em que nem a onça está conseguindo ir beber água em paz, os animais passaram a se organizar por conta própria garantindo, na medida do possível, a sobrevivência das espécies.

70 por cento dos habitantes já entenderam que a Flotropi não pode ficar à mercê de guincharia e macaquices enquanto seu patrimônio ambiental, sua maior riqueza, é dilapidado e depredado.

Mas, e aí? Está pedreira na clareira...

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Da série “Fábulas Fabulosas”, do SEM   FIM…  delcueto.wordpress.com

Studio na Colab55