Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: 05/02/23

2 de mai. de 2023

Já combinaram? - crônica de Valéria del Cueto

Já combinaram?

Texto e fotos de Valéria del Cueto

Eis-me aqui, querida cronista, sem nenhuma justificativa no estoque para validar a ausência além do objetivo de corroborar, caso mantivesse a correspondência de forma regular entre nós, sua firme intenção de permanecer no seu retiro voluntário, aí na confortável cela do outro lado do túnel, isolada desse mundo louco e tóxico.

Como você sabe, ultrapassamos mais um período de apogeu na história da humanidade. O mundo segue numa descida cavada em direção ao fundo do poço civilizatório. Digo ultrapassamos porque, diante de minha incapacidade de romper a bolha da camada de ozônio, passei a fazer compor, se não diretamente, como extraterrestre observador inserido na distopia humana.

São justamente as bolhas que impedem o correto desenvolvimento da espécie. Nesse momento, ao contrário das correlatas as de sabão, elas não se dissolvem, nem se misturam, após explodirem diluídas no composto saponáceo que as fazem belas, inquietas, coloridas e efêmeras.

Seu amigo Pluct Plact fala, cronista, de bolhas resistentes, fundidas temperadas no ódio, cimentadas com o rígido concreto da intolerância. Quando se rompem, explode a violência, a brutalidade.

Tudo que esse mundão não precisa nesse, ou em qualquer momento. A guerra na Ucrânia prossegue implacável. Do Sudão conflagrado nações retiram seus representantes diplomáticos e cidadãos. Dois de muitos exemplos de conflitos.

Por aqui, o “eles contra nós” corrói as instituições com manifestações explicitas de egocentrismo e idolatria cega cujos objetivos, já sabemos, causarão danos colaterais à maioria da população que elegeu seus representantes para conduzirem os destinos do país.

Cronista, é só umbigo. Tudo funciona em torno dele. Os verdadeiros interesses populares são como peões num tabuleiro de xadrez, prontos para serem sacrificados em prol de interesses defendidos por grandes lobbies.

O todo não é tudo! Aliás, é nada...

Os juros mensais estão em 13,75%, a maior taxa de juros reais do mundo! 77,9% de brasileiros estão endividados, são escravos do fantasma da inadimplência.

Há, querida cronista, uma nova forma de domínio. A inteligência artificial comanda e substitui os humanos em diversos e cada vez mais variados campos. Um número exponencial de empregos e funções deixam de existir com o avanço da tecnologia.

Você já viu esse filme. A realidade ultrapassou a ficção que não serviu de alerta efetivo. A humanidade já se atirou no precipício de um (ou vários) projeto(s) de domínio da inteligência artificial.

Houve uma tentativa de interromper o processo. Cientistas e lideranças das big techs do mundo todo pediram uma pausa de (pasme) 6 meses para estudarem o impacto do pulo no escuro irreversível que foi dado e tentarem uma regulamentação do processo. Não funcionou. Os mesmos que assinaram o manifesto continuaram mimando suas “filhotas” que, claro, ignoraram solenemente as intenções de seus criadores e seguiram impávidas alimentando seus quase incomensuráveis bancos de dados.

Termino essa missiva que seguirá até você pelo raio de luar que invade sua cela para, mais uma vez, agradecer nossas conversas. Uma delas me permite mal comparar esses eventos com a sabedoria do gênio do futebol chamado Garrincha. O craque, em sua estreia na Seleção Brasileira, na preleção do técnico Fiola no jogo contra a União Soviética, depois das instruções de como “driblar” o esquema tático do adversário, perguntaria: “Já combinou com a Inteligência Artificial?

PS: Antes que me esqueça, sem querer zoar com você (uma atitude tão humana que faz parte do ritual), o time de Mané derrotou o seu Flamengo por 3X2. Apesar de contar com um jogador a menos. Pensa num amigo querido feliz! Ele mesmo, o Magnífico Gabriel Novis Neves...

Falei e corri, quer dizer, voei.    

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Texto  da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com

 

https://youtu.be/na8CUEyUj2w link preleção Fiola.

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