Já combinaram?
Texto e fotos de Valéria del
Cueto
Como você
sabe, ultrapassamos mais um período de apogeu na história da humanidade. O
mundo segue numa descida cavada em direção ao fundo do poço civilizatório. Digo
ultrapassamos porque, diante de minha incapacidade de romper a bolha da camada
de ozônio, passei a fazer compor, se não diretamente, como extraterrestre
observador inserido na distopia humana.
São
justamente as bolhas que impedem o correto desenvolvimento da espécie. Nesse
momento, ao contrário das correlatas as de sabão, elas não se dissolvem, nem se
misturam, após explodirem diluídas no composto saponáceo que as fazem belas,
inquietas, coloridas e efêmeras.
Seu amigo
Pluct Plact fala, cronista, de bolhas resistentes, fundidas temperadas no ódio,
cimentadas com o rígido concreto da intolerância. Quando se rompem, explode a
violência, a brutalidade.
Tudo que
esse mundão não precisa nesse, ou em qualquer momento. A guerra na Ucrânia
prossegue implacável. Do Sudão conflagrado nações retiram seus representantes
diplomáticos e cidadãos. Dois de muitos exemplos de conflitos.
Por aqui, o
“eles contra nós” corrói as instituições com manifestações explicitas de
egocentrismo e idolatria cega cujos objetivos, já sabemos, causarão danos
colaterais à maioria da população que elegeu seus representantes para
conduzirem os destinos do país.
Cronista, é
só umbigo. Tudo funciona em torno dele. Os verdadeiros interesses populares são
como peões num tabuleiro de xadrez, prontos para serem sacrificados em prol de
interesses defendidos por grandes lobbies.
O todo não
é tudo! Aliás, é nada...
Os juros
mensais estão em 13,75%, a maior taxa de juros reais do mundo! 77,9% de
brasileiros estão endividados, são escravos do fantasma da inadimplência.
Há, querida
cronista, uma nova forma de domínio. A inteligência artificial comanda e
substitui os humanos em diversos e cada vez mais variados campos. Um número
exponencial de empregos e funções deixam de existir com o avanço da tecnologia.
Você já viu
esse filme. A realidade ultrapassou a ficção que não serviu de alerta efetivo.
A humanidade já se atirou no precipício de um (ou vários) projeto(s) de domínio
da inteligência artificial.
Houve uma
tentativa de interromper o processo. Cientistas e lideranças das big techs do
mundo todo pediram uma pausa de (pasme) 6 meses para estudarem o impacto do
pulo no escuro irreversível que foi dado e tentarem uma regulamentação do
processo. Não funcionou. Os mesmos que assinaram o manifesto continuaram mimando suas “filhotas” que, claro, ignoraram solenemente as intenções de
seus criadores e seguiram impávidas alimentando seus quase incomensuráveis bancos
de dados.
Termino
essa missiva que seguirá até você pelo raio de luar que invade sua cela para,
mais uma vez, agradecer nossas conversas. Uma delas me permite mal comparar
esses eventos com a sabedoria do gênio do futebol chamado Garrincha. O craque,
em sua estreia na Seleção Brasileira, na preleção do
técnico Fiola no jogo contra a União Soviética, depois
das instruções de como “driblar” o esquema tático do adversário, perguntaria:
“Já combinou com a Inteligência Artificial?
PS: Antes
que me esqueça, sem querer zoar com você (uma atitude tão humana que faz parte
do ritual), o time de Mané derrotou o seu Flamengo por 3X2. Apesar de contar
com um jogador a menos. Pensa num amigo querido feliz! Ele mesmo, o Magnífico
Gabriel Novis Neves...
Falei e
corri, quer dizer, voei.
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Texto da série “Fábulas
Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com
https://youtu.be/na8CUEyUj2w link
preleção Fiola.