Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: setembro 2015

30 de set. de 2015

TV Deseducativa, por Gabriel Novis Neves

TV Deseducativa 
A televisão brasileira poderia ser uma grande fonte de disseminação cultural. Mas, infelizmente, está, e sempre esteve, a serviço do grande capital, o que é totalmente aceito pelas leis do mercado. 
Lembrei-me do relato de um amigo. Disse-me ele que, em 1981, durante uma viagem à China, voltou encantado com a programação televisiva, totalmente dedicada à cultura e a ensinamentos no campo da prevenção de doenças. 
Eram horas a fio de música clássica e regional, aulas focando várias matérias, inclusive, o ensino de vários idiomas. 
Ficou impressionado com o número de pessoas cantando em português músicas de Chico Buarque, na época em grande prestígio pelo mundo. 
O resultado está aí, depois de trinta e quatro anos, um país recém-saído da mais absoluta miséria, despontando como a segunda maior economia do mundo. 
Enquanto isso, nós aqui na terrinha, continuamos em níveis insuportáveis de pobreza, de falta de saneamento básico, de saúde, de educação, de violência e de injustiça social. 
As grandes nações não se fazem sozinhas, é necessário que suas lideranças exerçam o seu verdadeiro papel, tal como em uma orquestra, que não funciona harmoniosamente sem a regência de um grande maestro. 
Infelizmente, no Brasil, os incentivos culturais são ínfimos, o que faz com que a população se torne cada vez mais vítima de propagandas enganosas e, portanto, cada vez mais alienada. 
População menos culta e menos educada é sempre mais fácil de ser manipulada. É tudo o que interessa ao poder constituído, que nada faz para mudar esse estado de coisas. 
Os nossos programas de auditório são deprimentes! Exemplo: são recheados de vídeo cassetadas, que nada mais conseguem senão exaltar a baixa autoestima de uma população que, de tão achincalhada, submete a si e a sua família a situações humilhantes, apenas por uma meia dúzia de trocados. 
As emissoras não estão preocupadas com as mensagens subliminares que são passadas desde a infância através dessas práticas pseudodivertidas, tampouco pelo mal que elas podem causar a quem a elas se vendem por absoluta ignorância e ingenuidade. 
Jamais uma criança, na pureza de suas atitudes, poderia se divertir com tombos fabricados e quedas algumas vezes perigosas e que visam apenas a diversão de uma população imbecilizada. 
Há que se assinalar também na mídia televisiva, a falta do tênue limite que separa o erotismo da pornografia. Ele reside, fundamentalmente, no bom gosto. 
O que se tem visto em alguns programas de auditório é exatamente o contrário disso. Letras de músicas de cunho e expressões corporais nitidamente pornográficas são disseminadas para uma plateia formada pelas mais diversas faixas etárias e de maneira agressiva. 
As crianças, em casa, participam desse festival de mau gosto, exibindo também as suas habilidades, cujo conteúdo intui sem entender. 
Com certeza isso é um desserviço à cultura.
Importante frisar que não se trata de um insight liberal ou conservador, mas sim, da responsabilidade das diversas mídias em propagar a ética e o bom gosto. 
Um pouco de requinte não faz mal a ninguém e até embeleza a vida, hipertrofiando, inclusive, o erotismo em detrimento da vulgaridade. 
Que crianças querem formar ao insuflá-las ao baixo nível e à pobreza cultural? Com certeza se transformarão em adultos pouco éticos e despidos de sensibilidade. 
Sem educação, seremos sempre aquele gigante adormecido há cinco séculos.

29 de set. de 2015

Efeitos do calor, por Gabriel Novis Neves

Efeitos do calor 
Quando estamos em casa, com um inverno de quarenta graus, somos obrigados a nos recolher em quartos refrigerados e umidificados. 
Após o jantar, os solitários não têm alternativa – vão para a cama assistir televisão. Logo aparece o sono e a vontade de dormir. 
Estou em uma fase em que procuro não contrariar mais as minhas vontades.  
Com o “inverno” prolongado, comecei a dormir bem antes das nove da noite, e a minha necessidade de sono é de seis horas. 
Aprendi a administrar o tempo da madrugada inspirado em experiências de contemporâneos que passaram pela mesma situação. 
Brigar com o corpo que rejeita a cama? Jamais! 
Então levanto, tomo um guaranazinho ralado, como uma laranja lima, retorno ao leito e durmo mais um pouquinho. 
Por volta das quatro e trinta da madrugada não é mais possível permanecer deitado. Vou à rotina das tarefas. 
Antes, um copo de água e uma bananinha. 
Ligo o computador para a leitura dos jornais nacionais pela Internet. É o melhor despertador para um novo dia de calor. 
A lua ainda não se escondeu, e ele já se faz presente. 
Após meia hora de leitura dinâmica pelos principais jornais, vem a tristeza de constatar que vivemos em um país muito desigual e sem líderes! 
Ninguém mais se entende na área econômica, e as medidas adotadas para enfrentar a crise que criaram são simples placebos para um paciente terminal. 
Aqui no nosso Estado a turma do asfalto continua em conflito com o pessoal da poeira. 
Greves, violência, desemprego e, o pior, a falta de esperança por dias melhores que nos atormenta. 
Vamos torcer para que este ano termine rapidinho e surja algo de novo no próximo que, com certeza, será calorento. 
Não custa escrever uma carta ao “bom velhinho” implorando por um alento para todos nós, inclusive, regulando a temperatura solar.

26 de set. de 2015

Cine Ópera, por Valéria del Cueto


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Belém 150919 076 Theatro da Paz Festival de Ópera encerramentoCine Ópera

Texto e foto sobre Belém, de Valéria del Cueto
Belém do Pará estava na mira fazia tempo. Só faltava o motivo inadiável para uma nova aventura amazônica. Que tal a estreia do cineasta  Fernando Meirelles, indicado ao Oscar por “Cidade de Deus” e “O Jardineiro Fiel”, na direção de uma ópera? No caso, Os Pescadores de Pérolas, de Georges Bizet, destaque do XIV Festival de Ópera do Theatro da Paz.
Antigamente chamaríamos de combo ou “três em um”, o que hoje é multimídia mesmo. Inclusive geográfica. A exótica ilha do Ceilão onde se passa a narrativa é representada no palco, nas finas telas transparentes de cinema que compõem a cenografia assinada por Cássio Amarante, por planos rodados no Jardim Botânico Amazônico de Belém, o Bosque Rodrigues Alves.

Para acompanhar a crônica clique AQUI

*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “No Rumo” do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com
E3- ILUSTRADO - SABADO 26 -09-2015
Edição Enock Cavalcanti
Diagramação Nei Ferraz Melo

Infância interrompida

Infância interrompida
As mortes sucessivas que vêm atingindo cidadãos dos países do Oriente Médio e da África vêm horrorizando os habitantes do planeta Terra, mas, não a ponto de mobilizá-los definitivamente contra tanta crueldade.
A foto estampada nos jornais nesses últimos dias da criança síria morta, com o rostinho enterrado nas areias de uma praia turca é, no fundo, o retrato de todos nós - enterrados vivos, cobertos de vergonha.
Ela viajava em uma embarcação precária acompanhada por seus pais e por um irmão. A família tentava fugir da guerra em seu país e de todo os horrores advindos dela.
São imagens que ficam cravadas na nossa memória - tal como a da criança vietnamita nua correndo para o nada após bombardeio aéreo de napalm -, pois trazem à tona a barbárie e a insensatez quando passaportes e fronteiras invalidam a possibilidade de se viver em qualquer país do mundo, no mínimo, com dignidade.
O napalm é um líquido inflável à base de gasolina geleificada. Foi usado no Vietnan para desfolhar a floresta do delta do rio Mekong e desalojar vietcongues. Depois foi lançado diretamente sobre aldeias, onde só havia mulheres e crianças.
Onde estão os tão propalados direitos humanos? Atitudes que contrariam o que apregoam todas as religiões - cujo discurso tanto se distancia da prática.

Fotos como essas escancaram o que há de pior no sistema político-econômico que rege os países ditos desenvolvidos.
Não é possível continuar aceitando que as oitenta e cinco pessoas mais ricas do mundo detenham o mesmo poder aquisitivo dos outros sete bilhões de habitantes da terra juntos. 
Enquanto existir tanta injustiça social e tanta apatia diante do crescente número de desvalidos no mundo, nada acontecerá, a não ser a humilhação que cobre parte da humanidade, esta sim, sensibilizada por rostos enterrados na areia inertes para sempre.
Famílias exterminadas, infância que não se completa, enfim, genocídio consentido por todos nós.
A criança síria morta é o retrato do flagelo humanitário deste início de século.
Cidadãos comuns são expulsos de seus países pelas guerras, pela fome e miséria e passam a vagar pelo mundo, mesmo diante da perspectiva da morte, em busca de uma simples vida de trabalho e de tranquilidade.
Quem sabe tenhamos no futuro um mundo em que todos tenham direito a uma vida digna em qualquer parte do planeta e livres de passaportes ou de fronteiras!

25 de set. de 2015

Greve nas universidades, por Gabriel Novis Neves


Greve nas universidades 
É difícil explicar a um estrangeiro que professores por aqui entram em greve por tempo indeterminado e que isso pouco incomoda ao país e à sociedade. 
O poder público parece apático para resolver esse problema, e os maiores prejudicados, que são os alunos, aproveitam para descansar, deixando para os pais mais esta despesa extra.  
Fato curioso é que os salários dos professores continuam sendo rigorosamente pagos, e as reivindicações dos mestres são por melhores condições de trabalho, ensino de qualidade e salários dignos. 
O ano acadêmico vira uma imensa maionese, onde no final os alunos, mesmo prejudicados, não são reprovados, com as festas de colação de grau coincidindo com os festejos do nosso calendário e os professores não sendo atendidos em suas reclamações. 
Esta greve das federais, que já dura três meses, tem como verdadeiro motivo a tesoura do ajuste fiscal, que atingiu em cheio as casas de ensino superior, comprometendo o desenvolvimento do país. 
Essas greves expõem também um processo antigo de politização nos campi, entre organizações radicais de estudantes e sindicatos de professores, quase sempre em oposição às reitorias. 
A perda do padrão de qualidade do ensino é o filho desse confronto. 
Nossas universidades federais, e algumas estaduais, como a USP, se transformaram em espaço de luta política, em que o ensino deixou de ser prioridade. 
Estamos presenciando, sob os olhos indiferentes do governo federal, o desmonte das nossas universidades públicas, algumas de excelência. 
Não há fonte de recursos externos consistentes, somente aqueles minguados e insuficientes vindos do Tesouro Nacional. 
O pior é que o governo não está nem aí para o que acontece. Aliás, povo quanto menos qualificado mais fácil de ser manipulado. 
A situação é grave e precisa ser enfrentada pelas pessoas sensatas que existem nessas instituições. 
Isto tem de ter um basta, para o bem desta nação!

24 de set. de 2015

Crise migratória, por Gabriel Novis Neves

Crise migratória
Cruel imaginar que, enquanto a União Europeia discute se são “imigrantes” ou “refugiados” os milhares de indivíduos que tentam abandonar seus países devido às guerras, a pobreza, repressão religiosa ou política, entre outros motivos, morram sem que ninguém se comova.
Os últimos acordos datam de 1970, quando a Europa fechou as suas portas para os expatriados, salvo em condições especiais – se eles fossem importantes para os países que os recebessem.
De lá para cá, o mundo se tornou mais violento e mais pobre.  Alguns países da África e do Oriente Médio foram se tornando inviáveis para as suas populações.
O que nos apavora é que o resto do mundo, mergulhado nas suas perspectivas capitalistas desumanas, não se sensibiliza, aparentemente, com esse verdadeiro genocídio.
As perdas de vidas são diárias nessa fuga desesperada. Famílias inteiras desafiam a morte através de caminhos marítimos ou terrestres.
A rota preferida por essas pessoas é: chegar à Itália ou à Grécia por meio de embarcações precárias, atingir, por via terrestre a Macedônia, daí para a fronteira com a Sérvia e, finalmente, para a Hungria, país que seria a porta de entrada final para a Alemanha e para os outros países ricos da Europa.
A Macedônia já se declarou em estado de emergência. A Hungria vem construindo uma imensa cerca de arame farpado para impedir a entrada desses imigrantes.
Acontece que as fronteiras de todos esses países já se transformaram em imensos campos de refugiados, com todos os problemas que isso acarreta para as suas devidas organizações.
A Organização Internacional para Migração (OIM) publicou um relatório mostrando que mais de 4.000 pessoas morreram em 2014 tentando migrar para outros países.
Em 2015 quase 1.000 pessoas já morreram em busca de uma vida melhor – segundo dados do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados)
A mais recente e chocante foi a morte de uma família síria em sua tentativa de fuga desesperada para o Canadá.
A imagem do corpo do menino sírio, de apenas três anos de idade, encontrado em uma praia da Turquia parece que, finalmente, acordou o mundo para este sério problema. Ele morreu juntamente com seu irmão de cinco anos e sua mãe. O pai foi o único sobrevivente dessa desgraça.
O Jornal britânico The Independent estampou em sua página: “Se essa imagem extraordinariamente poderosa de uma criança síria morta em uma praia não mudar a atitude da Europa com os refugiados, o que irá?”.
O jornal português também publicou a imagem chocante e justificou: “Vamos de forma paternalista proteger o leitor de quê? De ver uma criança morta à borda da água, com a cara na areia? Não sabemos se esta fotografia vai mudar mentalidades e ajudar a encontrar soluções. Mas hoje, no momento de decidir, acreditamos que sim”.
Eu também quero acreditar que sim. Quero crer que aquela imagem brutal e bestial do resgate do menino sírio Aylan Kurdi seja o início de tentativas sérias para se resolver esse grande problema.
Aquela imagem que chocou o mundo, já se tonou o símbolo da terrível crise migratória que hoje presenciamos.

23 de set. de 2015

Valores, por Gabriel Novis Neves

Valores
Educar é muito mais do que ensinar. Educar é, essencialmente, passar valores. 
O mundo moderno, onde tudo é consumido e descartado muito rapidamente, vive um momento atípico causado pela velocidade das mudanças em todos os níveis. 
Tudo foi transformado muito mais intensamente nesses últimos setenta anos do que nos últimos quatro mil anos. 
Somos uma geração que conseguiu sobreviver razoavelmente bem a essa enxurrada de novos conceitos e alta tecnologia. 
Estamos falando, não somente dos valores tradicionais, tais como ética e moral, a maioria já obsoleta, mas, de um dos que considero da maior importância para a vida adulta, a autoestima. 
Quantos de nós não vivenciamos a cultura do “não” e do sempre “insuficiente”? 
Por mais que nos esforçássemos, estávamos sempre sendo cobrados por uma melhora, num aperfeiçoamento quase sempre inatingível. 
Essa cultura repressiva, em que questões comportamentais não são discutidas e valores são passados sem questionamentos, continua ainda vigente em muitas escolas e lares pelo mundo afora. 
Resultado: adultos inseguros, infelizes e com baixa autoestima, sempre descontentes com os patamares de sucesso para os quais foram programados. 
Ao contrário, os incentivos elogiosos às iniciativas pessoais e à criatividade, produzem na vida adulta pessoas autoconfiantes, aptas às alternâncias e instabilidades que fazem parte do cotidiano, em que tudo é dinâmico em todos os momentos e nem sempre a nosso favor. 
A autoestima e o conhecimento são, a meu ver, os maiores legados que podemos deixar para alunos ou familiares.  
Isso é tão patente que nos nossos relacionamentos logo reconhecemos os vitoriosos, os seguros de si mesmos, ainda que aparentem pouca intimidade com o “rebanho”, sempre muito submisso. 
Essas reflexões me reportam a Oscar Wilde, quando se dizia muito preocupado quando concordavam com ele: era sinal que deveria rever seus conceitos. 
Realmente, a humanidade não é preparada para a especulação. Ela prefere ficar numa zona de aparente conforto em que conceitos, mesmo arcaicos, devem ser seguidos sem maiores questionamentos, ainda que muito dolorosos no futuro. 
Esse costuma ser o comportamento das massas.  Daí os modismos de todo tipo, sejam eles estéticos, sociais, sexuais, comportamentais. 
O “todo” costuma englobar o “pessoal”.  
Nos dias atuais, em que nos chega tanta tecnologia, tanta informação e, também, tanta desinformação, é preciso ficar atento a que tipo de adultos a educação atual está formando - se totais submissos a dogmas e mitos ou seres pensantes, aptos ao novo, acreditando-se como transformadores do universo. 
Isso é o que esperamos das escolas e, principalmente, da capacidade familiar de não minimizar as aptidões de seus descendentes.

21 de set. de 2015

Medo burocrático, por Gabriel Novis Neves

Medo burocrático 
Não é mais segredo para ninguém que o nosso país é um dos mais corruptos do planeta Terra. 
Como medida de “proteção” a esta criminosa sangria dos recursos dos cofres públicos, os governos (federal, estaduais e municipais) criaram um verdadeiro arsenal de leis, decretos, regimentos, normas e etc. para conter o avanço insaciável de certos agentes públicos e políticos ao nosso erário.  
Pessoas de bem só aceitam um cargo público importante se tiver a liberdade de trazer a sua equipe técnica de confiança para opinar, auditar e cuidar dos atos assinados pelo cidadão no exercício da sua função pública. 
Temos inúmeras instituições e órgãos oficiais em condições de desempenhar essa tarefa com eficiência e probidade. No entanto, perdem, muitas vezes, a credibilidade por falta de condições políticas. 
Hoje, famosos profissionais liberais são contratados, e muito bem pagos, para “proteger” esta ou aquela autoridade que deseja desempenhar o seu dever de cidadão e retornar ao seu escritório com a consciência do dever cumprido, sem aborrecimentos posteriores com os órgãos de fiscalização e repressão.  
A “defesa” do nosso governo é ampla e conhecedora da rotina burocrática, mas, mesmo assim, os ocupantes de altos cargos públicos não abrem mão de um “anjo da guarda” fora dos quadros funcionais. 
Isso é muito mal para uma nação, especialmente para as que estão em crise, porque impede decisões importantes e rápidas. 
A cautela exige, para um futuro tranquilo, um período de espera burocrática. 
Estamos no último quadrimestre do ano e a fotografia do governo é essa. 
Segurança total nos processos os mais diversos possíveis, e retrocesso nas decisões. 
O medo de enfrentar a burocracia, também, está nos devorando.

12 de set. de 2015

Passarins pasarán, por Valéria del Cueto


Passarins pasarán

Esta Fábula Fabulosa se embalou no pedido a Deus feito por Luizito, intérprete da Mangueira, na sua última apresentação no Palácio do Samba: "que me dê saúde para cantar para ela (Maria Bethânia) e pra vocês esse ano..." Afinal, o que poderia ter impedido que seu desejo se realizasse?  

Clique AQUI  para ler a crônica do SEM FIM...




Vídeo de Antônio Carlos Siqueira

Até no Enem? por Gabriel Novis Neves


Até no Enem? 
Que o Brasil é conhecido como o país do jeitinho, todos sabem. Com os escândalos do mensalão e do petrolão a nossa situação de credibilidade ficou bastante comprometida, atingindo patamares tão baixos, que chamaram a atenção a nível internacional. 
Leio no Jornal O Globo uma matéria que todos já desconfiavam há tempo: estão maquiando os resultados dos exames do Enem! 
Certas escolas aplicam artifícios para aparecerem bem no ranking do exame nacional do ensino médio (Enem), porta de entrada para o ensino superior, criando um falso perfil da qualidade do ensino do nosso país. 
Triste pensar que isso também é feito na educação, onde selecionamos os futuros universitários, esperança de uma nação melhor, mais justa, de oportunidade para todos e competitiva neste mundo moderno. Crimes como estes nos tiram toda a esperança de dias melhores! 
Falsos alunos, de falsas escolas, em falsas universidades, formando falsos profissionais. 
São “alunos” profissionais para exames do Enem. 
A criatividade para mascarar a verdade parece até que está no nosso DNA, coisa com a qual não concordo. Faz parte apenas de um governo acostumado a lidar com a mentira e com a omissão. 
Espertalhões comerciantes do ensino, fantasiados de educadores, cujo único compromisso é o lucro, e nunca o preparo da nossa juventude e o desenvolvimento desta nação, inventaram manobras “legais”, porém não morais, de colocarem os melhores alunos de escolas consagradas em exames nas escolas de qualidade duvidosa. 
Essas falsas escolas, com bons índices de aprovação e trabalho de marqueteiros competentes, passam a ser consideradas de excelência, aumentando estratosfericamente as suas mensalidades. 
O colégio rígido de ensino “empresta” seus melhores alunos para congêneres de qualidade inferior. 
O Ministério da Educação é sabedor desse truque criminoso que beneficia escolas de qualificação inferior, e providências estão sendo adotadas. 
Esse malabarismo é mais acentuado em São Paulo e nas grandes capitais, estando, entretanto disseminado por todo o nosso território. 
Enquanto o governo não melhorar o ensino público, principalmente o médio, ficaremos à mercê de malandros, que ousam até falsificar alunos em colégios para ganhar dinheiro. 
Espero que também na área social, especialmente nas da educação e da saúde, surjam operações moralizadoras para o bem deste país.

11 de set. de 2015

Saúde pública, por Gabriel Novis Neves

Saúde pública 
No Brasil a saúde pública vai de mal a pior. Há décadas essa frase faz parte da realidade de todos os brasileiros, embora eles tenham, constitucionalmente, todo o direito a usufruir do Sistema Único de Saúde (SUS) com qualidade e amor na assistência. 
Quem é o responsável por esse humilhante estado de coisas, com pacientes enfrentando quilométricas filas para uma simples consulta médica, quando não empilhados nos corredores dos hospitais do sistema? 
São múltiplas as respostas, porém, uma delas é a mais usual - a corrupção. 
Embrenhada nas negociatas, fraudes e desvios dos parcos recursos destinados ao SUS, não há punições para os que descumprem as regras acordadas previamente. 
Precisamos mudar o foco para os resultados da qualidade de assistência ofertada ao paciente. 
Cuidar da correta aplicação do dinheiro público é pré-requisito para uma saúde aceitável aos que procuram o SUS. 
Além de transparentes e republicanas licitações, contratos e convênios não poderão ser inflados pela ganância do enriquecimento ilícito. Gestores e fiscais têm de fiscalizar também o grau de qualidade prestado no atendimento da população sofrida. 
É imprescindível tratar com respeito e dignidade os profissionais de saúde, oferecendo-lhes condições dignas de trabalho e salário. 
Rever os planos de carreira com incentivos de desempenho para que os executores da mais humana das profissões sintam-se motivados a superar os seus próprios limites, e assim, investir na carreira pública como meta de vida. 
O modelo atual imobiliza a administração pública. 
O SUS precisa ser reinventado para oferecer serviços de qualidade para pacientes e familiares, bem como coibir a corrupção que assola metastaticamente este país.

10 de set. de 2015

Educação em crise, por Gabriel Novis Neves

Educação em crise 
Em um universo de cerca de cinco mil e setecentos municípios em vinte e sete Estados (Brasil), encontramos escolas públicas com um ensino público de qualidade, mesmo no mais longínquo sertão ou subúrbio distante. 
Essas escolas conseguem o “milagre” de chegar a níveis além dos encontrados em países do Primeiro Mundo. 
Para dar esse enorme salto de qualidade a escola não adotou qualquer método novo com tecnologias de ponta ou revolucionário. 
Apenas executou, com eficiência, o que recomenda a Secretaria de Educação do seu Estado. 
Adotou o antigo método de reforço paralelo às aulas normais para ajudar àqueles alunos que não conseguem acompanhar as aulas. 
Essa técnica existe em Matogrosso desde quando fui aluno da Escola Modelo Barão de Melgaço. 
Quando, em 2003, pela segunda vez, fui Secretário de Educação do Estado, pude verificar que os resultados eram os piores possíveis. 
Certa ocasião, visitando um dos mais prósperos municípios do Estado, com déficit de salas de aulas e de professores qualificados, indaguei para diretora do estabelecimento de ensino público como estava resolvendo o problema das aulas de recuperação. 
Ela me respondeu mais ou menos com essas palavras: “Para ser bem honesta tenho a lhe informar que a recuperação dos alunos com deficiência de aprendizagem só existe nas planilhas que somos obrigadas a enviar mensalmente à Secretaria de Educação”. 
E continuou dizendo que não possuíam salas de aulas disponíveis nem recursos para pagar os professores na sua tarefa extra. 
Conclui-se, dessa verdade, que a crise na educação é motivada pelo governo que incentiva a má gestão. 
O governo não oferece espaço físico nem professores. E o “faz de conta” corrói o alicerce do nosso futuro - as crianças. 
Os diretores, professores e alunos do ensino fundamental são os grandes sacrificados com a crise na nossa educação. 
O pior é que nossas autoridades conhecem esta realidade e fazem vistas grossas a este genocídio educacional. 
As famílias até que tentam colaborar! Estão presentes nas escolas e participam dos trabalhos escolares.  
Mas, infelizmente, por mais louvável que seja essa atitude, e necessária, não conseguirá, sozinha, elevar o nível cultural de toda essa geração. 
Acorda Brasil!

9 de set. de 2015

Figura paterna, por Gabril Novis Neves

Figura paterna 
As pessoas têm memória curta e costumam desprezar os dados históricos, que são os únicos capazes de uma avaliação verdadeira do futuro. 
Enganam-se todos os que dão como unânimes os dados das mídias de rejeição à era lulista. 
Os mais antigos lembram-se muito bem do chamado “mar de lama” em que viveu o Brasil durante a ditadura getulista. 
Bastou a morte de seu líder, através do suicídio, para que ocorresse uma das maiores comoções sociais que esse país já vivenciou. 
Apesar de adolescente, ainda consigo lembrar-me do trauma coletivo provocado pela morte do chamado “pai dos pobres”. 
É preciso não esquecer que essas marchas antigovernistas convocadas através das redes sociais, não incorporam o chamado povão, habitantes das periferias. 
Esses movimentos são, essencialmente, de classe média, sempre a mais insatisfeita quando suprimidos os seus mimos, já que é a única que acredita em ascensão social através de merecimento pessoal. 
Manifestações de revolta social só se caracterizam e surtem efeitos quando conseguem mobilizar as massas. Isso aconteceu em todas as grandes revoluções, tais como, a francesa, a russa, a mexicana e a cubana. 
As nossas manifestações populares, a primeira delas em junho de 2013, vêm se esvaziando a cada dia, pois as reivindicações são vagas, sem os apelos políticos necessários à gravidade do momento. 
Os menos abastados continuam contentes com suas festas nas lajes, com seus churrascos dominicais acompanhados por pagodes e por seus bailes funk prediletos. 
Se ainda rolar uma boa partida de futebol, o mundo estará perfeito! 
A relação desta classe com o governo é sempre paternal, uma vez que é descarta a sua inserção no mercado de oportunidades acenadas pelo capitalismo, podendo, dessa maneira, ser manipulada através de migalhas. 
Os governos populistas sabem muito bem como manipular essas pessoas! 
Eternamente desprezada por todos os governos, já incorporou a cultura de não ser merecedora, como qualquer ser humano, de saúde, de educação e de saneamento básico. 
Por essa razão, não são vistas em marchas de cunho político, a menos que para isso estejam sendo pagas. 
A nossa organização de poder, com toda a maestria que a rodeia, centralizou as suas atenções, principalmente, nos mais abastados - altos empresários e banqueiros - e na classe operária - única capaz de alterar o jogo de poder. 
Nós, como um todo, que pertencemos a esse “gigante adormecido”, continuamos a necessitar dessa figura paterna,  que irá nos redimir  de todos os nossos males. 
Toda essa corrupção, todo esse descalabro nas contas públicas, todo esse desrespeito com os princípios éticos e morais mínimos, foram incorporados e incutidos como necessário para a chamada grande inclusão social. 
Lavagem cerebral é coisa séria! Nós médicos sabemos muito bem quais os seus efeitos. 
E ela continua sendo feita, não através de uma confissão de erros graves cometidos, mas, através de injeções sucessivas de otimismo frente a uma séria crise econômica. Otimismo este invisível para os mais esclarecidos. 
Ao  que tudo indica, precisamos de bem mais conhecimento, principalmente, histórico.

8 de set. de 2015

Petrobrás, por Gabriel Novis Neves

Petrobras
Economistas especializados nos alegram com a notícia de que, apesar de combalida pelo sangramento pelo qual passou nos últimos anos, já podemos ter uma pontinha de esperança na recuperação da nossa principal estatal.
Afirmam os estudiosos, baseados no último balancete, que a nossa Petrobras já melhorou, mas o lucro ainda é a metade do que deveria ser.
Para uma empresa que foi dilapidada em seu patrimônio, “os números dos primeiros três meses de 2015, certamente refletem melhor a realidade atual da companhia, que este ano se beneficiará de um razoável crédito fiscal (compensação pelo grande prejuízo do ano passado)”. 
O importante para o Brasil e seus acionistas é que esses resultados demonstram sinais de reabilitação de uma firma quase falida.
Investimentos foram cortados, obras paralisadas e está ocorrendo uma maior vigilância com os gastos públicos - mesmo com um lucro bastante inferior ao planejado pelos volumosos saques criminosos de que foi vítima e pela crise internacional do petróleo.
Podemos até a arriscar dizer que estamos no rumo certo. Ainda falta conquistar outros 50% para o lucro atingir o patamar ideal para seus acionistas.
Apesar do ar de seriedade que a estatal hoje transmite, temo pelo agravamento da crise política prenunciada em agosto, quando a nossa frágil estatal em restauração poderá ou não suportar novos solavancos financeiros.
Nuvens carregadas ameaçam desaguar pelos céus de Brasília.
Com o dilúvio anunciado, será que a nossa empresa de petróleo continuará falando o nosso idioma, ou será forçada a trocá-lo pelo tão ameaçador mandarim?
Seria uma derrota insuportável aos brios nacionais

7 de set. de 2015

Constituição besteirol, por Gabriel Novis Neves

Constituição besteirol 
Quando, em 1988, o Deputado Ulisses Guimarães proclamou a “Constituição Cidadã”, uma das poucas vozes contrárias à euforia do ato promulgado foi a do senador mato-grossense Roberto Campos. 
Disse na ocasião que, com aquela Constituição, que chamou de besteirol, o Brasil assinava o seu atestado de óbito com relação ao seu desenvolvimento. 
A Carta Magna criava uma série de deveres ao governo e poucas obrigações ao cidadão. 
Os resultados estão sendo colhidos há anos! Hoje, chegamos ao fundo do poço! 
Entramos em uma crise sem precedentes na nossa história. O governo não consegue mais arrecadar impostos (exorbitantes) para pagar as suas dívidas. 
Medidas casuísticas são tomadas, como cortes e contingenciamentos orçamentários. 
Aumentou o desemprego e o país parou de crescer. Os remendos propostos pelo governo não têm produzido resultados e, para agravar mais a situação, vivemos uma crise política grave entre os poderes Executivo e Legislativo. 
Indústrias são fechadas, construção civil em recesso, comércio estagnado e, quem pode, está deixando o país, atrás de melhor qualidade de vida e futuro para seus filhos. 
Crise econômica e política repercutem na excelência dos nossos programas sociais, gerando uma onda de desânimo e violência jamais vista neste país.
Caminhamos para a situação da Grécia, com a agravante de sermos uma nação de mais de duzentos milhões de habitantes. 
Enquanto isso, nossos políticos estão preocupados em aumentar as suas mordomias e os ricos aproveitando essa situação para se tornarem mais ricos. 
Não há proposta de um pacto nacional para, em médio prazo, recuperar nossa nação, detentora da sétima economia do mundo! 
E a corrupção continua com suas metástases em todos os segmentos institucionais e sociais. 
O Brasil está na UTI.

6 de set. de 2015

Pura verdade, por Valéria del Cueto

Arpoador 150529 011 andaime trabalhador pássaro

Pura verdade

Pulava de um galho balançante para o topo do arbusto junto da parede. De lá, para o xaxim da samambaia. Dele, cruzava o espaço num voo rápido para um pedacinho de terra, no pé de uma Felicidade.
Mirava com seus olhinhos assustados – e já estressados - sempre a maior porção possível de céu azul.
Lá no fundo podia vê-la.  Ia ele em sua direção e... “TABOUF”. Caindo desgovernado para um lado, asas desalinhadas do outro e aquela sensação de haver batido de frente com uma coisa muito, muito dura.
O barulhão já indicava o nível da porrada contra o que, até sentir nas penas e no corpinho leve e mirrado por elas protegido, era nada.
Agora, mais que uma pedra, havia uma barreira invisível e impenetrável no caminho de volta à liberdade.
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*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Crônica da série “Fábulas Fabulosa” do SEM   FIM...  delcueto.wordpress.com

Boff desiludido, por Gabriel Novis Neves

Boff desiludido 
Em recente reunião com representantes da Igreja Católica e dos movimentos sociais, frei Leonardo Boff, um dos ideólogos do Partido dos Trabalhadores (PT), e que sempre votou em seus candidatos à presidência da República, inclusive duas vezes na atual, fez severas críticas à Presidente da República, à oposição e à imprensa. 
Como cientista, o teólogo só defendeu o ex-presidente (ausente da reunião) e disse que o “PT entrou no vício do poder”. 
Justificou a sua posição dizendo que o poder para se manter precisa sempre de mais poder. Acumulando mais poder ele se torna ditatorial, ou se alia a outros partidos e segmentos sociais para ser sempre poderoso. 
Com humildade o frei acha que o seu partido entrou nesse “vício do poder”. 
Como teólogo, lembra que: “onde há poder não há amor e desaparece a misericórdia”. 
Ele ainda afirmou que esse “vício do poder” não deveria ser o caminho do PT. 
Com a coragem que lhe é peculiar disse à plateia de cem pessoas que há uma articulação dos três grandes jornais brasileiros para derrubar a atual Presidente da República. 
Deixou bem explícito a necessidade de uma redefinição do projeto econômico e considerou o Ministro da Fazenda um representante do grande capital mundial. 
Sobre o encontro que teve no fim do ano passado com a Presidente, quando, ao lado do frei Betto, entregou 16 demandas, Boff comentou: “Ela é gentil, mas não fez nada do que a gente pediu”. 
Frisou ainda que o PT precisa assumir que existe uma crise econômica no país, e criticou a maneira como se faz oposição. 
Boff propôs como solução o retorno do PT às suas origens. 
Finalizando, criticou a Lava Jato e o juiz federal do Paraná. 
Por se tratar de um dos mais lúcidos pensadores da atualidade, procurei socializar as suas ideias, embora discordando de algumas delas, especialmente quando “absolveu” o ex-presidente e colocou-se contra a operação Lava Jato e o Juiz Federal que investiga a corrupção e a impunidade neste país. 
Omitiu, para frustração de muitos, a relação das 16 demandas entregues à Presidente. 
Frei Boff é uma referência, e suas ideias merecem de todos nós uma profunda reflexão neste momento difícil que vivemos.