Texto e fotos de Valéria del
Cueto
Resumindo:
quem avisa, amigo é. E o mar mandou seu recado para os próximos dias. Engoliu a
faixa de areia do Arpoador, especialmente no cotovelo do paredão no encontro de
Ipanema, ali pela altura da estátua do Tom Jobim. Só ficou parede e pedra.
Sabedora da
densidade demográfica superpopulosa da próxima sexta, em pleno feriado, acomodei
a agenda e antecipei a visita e a crônica da vez para o meio da semana. Pra que
disputar espaço na areia com os visitantes, caso o sol resolva firmar no
feriadão da semana santa?
É numa
tarde ensolarada, cheia de surfistas disputando espaço nas ondas ainda altas e
quase perfeitas por causa da ressaca que, como faço (há quantos anos não sei
dizer) me conecto com o centro geodésico da América do Sul para celebrar, mais
uma vez, mesmo que a distância, o aniversário da minha querida Cuiabá.
Sempre foi
uma data festiva pra mim. Quando cheguei aí porque fazia questão de trabalhar
no dia 8 de abril e seguir, como repórter, uma parte da programação. A outra,
fazia eu mesmo. Comer Bolo de Arroz da dona Eulália, filar um peixe numa casa
bem cuiabana...
Fiquei aqui
pensando no dinamismo da metrópole que ocupa a margem do rio que dá nome a
Capital de Mato Grosso. Em como tudo passa rápido e pouco fica gravado na
memória de seus habitantes.
Por isso,
escolhi o meu presente desse ano para os 304 anos do aniversário de Cuiabá no
baú das lembranças. Tirei dele o registro de que há 10 carnavais, em 2013,
antes do evento da Copa do Mundo no Brasil, a então Cidade
Verde (outra recordação) era uma das estrelas no carnaval carioca. Foi em
fevereiro de 20213 que a homenagem da comunidade da Mangueira embarcou no
sonhado trem cuiabano a Estação Primeira e cruzou a pista do Sambódromo da
Marquês de Sapucaí levando Cuiabá para o mundo até a Apoteose de Oscar Niemeyer.
Clique AQUI para acessar o álbum Mangueira carnaval 2013 no Flickr |
Com o
enredo do carnavalesco Cid Carvalho “Cuiabá, um
Paraíso no Centro da América” a verde e
rosa levou o disputado prêmio Estandarte de Ouro de Melhor Escola de Samba e
mais: Porta-bandeira (Marcella Alves), Revelação (com Matheus Olivério, então 3
mestre-sala e, hoje, o titular do casal que conduz o pavilhão da Estação Primeira)
e da Ala da Baianas...
A escola,
depois da paradona da bateria no ano anterior, literalmente dobrou a aposta e
levou duas baterias para a Sapucaí, feito inédito nos desfiles, mais uma ousadia
de seu presidente, Ivo Meirelles.
Décimos
preciosos foram perdidos, o que prejudicou a posição final na disputa oficial,
justamente no último carro, o da Copa do Mundo, inspirado em obras do artista plástico
João Sebastião. Ele também assinou as camisas de diretores, coordenadores e
apoios da escola.
Aconteceu um
causo beeeem cuiabano na perda da pontuação que deixou à Mangueira o oitavo
lugar em 2013. É que uma borboleta, parte da última alegoria controlada por
fios, se rebelou e, diante da festa ma-ra-vi-lho-sa que via embaixo de suas
asas inquietas, resolveu não sair da pista! Para tanto se agarrou na torre de transmissão
de imagens da Tv. Justamente em frente ao último módulo de julgadores...
Dez anos
depois essas são lembranças de uma Cuiabá que ainda espera a chegada do trem
que saiu da Estação Primeira. João partiu e a cidade não parou. Nem ela, nem o
estado hoje dividido que não se lembra ou reconhece, por exemplo, seus filhos, os
do Mato Grosso uno.
É que,
parece, a praia da cultura e do refinamento, assim como a minha aqui no
Arpoador, ficou pequena e está ocupada por quem desconhece séculos de histórias.
Como as dos que fizeram dessa terra o Paraíso no Centro da América.
*Valéria del Cueto é jornalista e
fotógrafa. Texto strike das séries “Parador
Cuyabano”, “Arpoador” e “É carnaval”, do
SEM FIM... delcueto.wordpress.com