Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: 11/11/15

11 de nov. de 2015

Greve, por Gabriel Novis Neves

Greve  
A Constituição Federal assegura o direito de greve a todo trabalhador. 
A primeira greve ninguém esquece. A minha foi quando frequentava o segundo ano do curso de Medicina no Rio de Janeiro. 
O motivo não era reivindicação por melhores condições de ensino, excelente naquela época na famosa escola da Praia Vermelha, chamada pelos estudantes como a Matriz. 
A causa, naquele momento, foi o aumento da passagem do bonde, de algo como de cinquenta para setenta centavos (acho que era época dos "mil reis”). 
O movimento estudantil era muito organizado, com um forte comando da UNE (União Nacional dos Estudantes). 
Como toda greve, tinha um viés político, uma vez que a concessão do serviço de transporte nos bondes elétricos pertencia a uma multinacional - a Light. 
Vivíamos o apogeu do nacionalismo com a criação e implantação da Petrobras - “O petróleo é nosso”. 
Toda a estudantada foi às ruas, apoiada pela população civil, bloqueando os trilhos que davam passagem aos bondes, transporte da maioria dos estudantes e trabalhadores, paralisando boa parte da cidade. 
Discursos inflamados se ouviam dos estudantes pendurados nos estribos dos bondes protestando contra essa grande injustiça social. 
O movimento se destinava também a nacionalizar esse serviço essencial, o que, de fato, aconteceu anos depois. 
Os dias foram passando e o acordo com a Light não saía.
Criado o impasse para volta às aulas e regularização do transporte coletivo, o jeito foi apelar ao Presidente da República, que prontamente aceitou a missão de paz. 
A Comissão de Greve foi recebida em audiência, em horário nobre, pelo Presidente Juscelino Kubistchek de Oliveira. 
Enquanto ouvia o apelo dos estudantes, o médico mineiro deu gostosas gargalhadas e, no final, avisou aos presentes que voltassem imediatamente às salas de aulas, porque decidira não deixar aumentar as passagens dos bondes. 
O governo subsidiaria a diferença para honrar o contrato com a Light. O presidente finalizou dizendo que o importante para o Brasil era formar uma elite universitária preparada para comandar os destinos desta nação rumo ao desenvolvimento. 
Foi uma festa a saída da Comissão de Greve do Palácio para passar as boas notícias aos estudantes acampados em frente ao Catete. 
Anos depois, como Reitor da UFMT (Universidade Federal de Matogrosso), administrei a primeira greve dos estudantes da nossa instituição de ensino superior, por motivos políticos nacionais, visando a redemocratização do país. 
Os inexperientes alunos solicitaram, inclusive, reforço do Presidente da UNE, na época na clandestinidade, para ajudá-los na manutenção da greve. 
O ambiente durante a paralisação foi de muito respeito, dentro dos parâmetros de um movimento paredista, e o jovem que veio auxiliar nossos calouros grevistas, tornou-se meu amigo, e hoje é Ministro da Defesa do Brasil.
Para um final feliz, com a preservação do primeiro movimento estudantil na UFMT, eu, como reitor, assumi "a falsa culpa pelo motivo do movimento", que, por acaso, também não visava melhoria da qualidade de ensino.
Tudo isso é história para relembrar o momento em que pipocam greves, com justas reivindicações de condições de trabalho e ensino. 
Iniciar uma greve é fácil, difícil é encerrá-la. 
Essa constatação foi válida nos meus tempos de reitoria tanto quanto o é nos dias atuais.

Idoso e tecnologia, por Gabriel Novis Neves

Idoso e tecnologia 
Dia desses assisti pela televisão uma bem humorada publicidade de um banco oficial. 
Um velhinho, ao lado da esposa, dedilhava em um moderníssimo IPHONE de última geração. 
Dizia, enquanto simulava uma operação bancária, mais ou menos o seguinte: que tinha nascido em 1921 e sempre fora cliente daquele banco, grande patrocinador da cultura e esportes no Brasil. Agora, com o aplicativo no celular, as coisas ficaram mais fáceis para ele, pois, não precisava mais ir ao banco para fazer pagamentos, transferências de créditos, aplicações, verificar depósitos e saber do saldo bancário. Quando precisava de dinheiro ia ao caixa eletrônico mais perto de casa. 
Confesso que senti inveja do meu contemporâneo, pois tenho pavor em fazer essas manobras via Internet. 
Estou há quinze dias com problemas no sinal do meu computador, e a empresa responsável pelo bom desempenho do produto que vendeu, explica, quando solicitada, que a minha área está com problema técnico e que já está sendo corrigido. 
Esse, “está sendo corrigido”, nunca é inferior a doze horas - um inferno para que tem compromissos agendados. 
Não consigo me imaginar no meio de uma operação bancária, com todo o meu aplicativo aberto, e ocorrer uma queda repentina do sinal da Internet - fato bem corriqueiro. Acho tudo isso muito arriscado para a minha juventude distanciada.
Não sem razão, as principais ações no juizado de pequenas causas, são referentes a essa bagunça nas operadoras de Internet, que vendem ao consumidor um produto sofisticado tecnicamente e, simplesmente, não possuem estrutura para mantê-lo. 
Enviar um simples e-mail com sucesso já é motivo de alegria! Por que arranjar aborrecimentos com os constantes defeitos das operadoras quando de uma transação bancária? 
Felizes daqueles que na velhice se preocupam com os pássaros, as flores, os rios, o barulho do vento, a beleza da chuva, o entardecer, o dia surgindo, as fases da lua, o silêncio da noite. 
Esses não precisam de aplicativo, nem sofrem com os apagões do sinal da Internet.