Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: 08/30/22

30 de ago. de 2022

Faça não - crônica de Valéria del Cueto



Texto e foto de Valéria del Cueto

Não, não é momento de pensar pra trás. Especialmente porque não dá pra voltar no tempo.

A ciência contemporânea especula que existem tempos paralelos. É a esse conceito que devemos no apegar. Que bem aqui do lado tem alguém, inclusive nós mesmos, fazendo diferente.

Compliquei sua já confusa cabeça, cronista enclausurada? Seu correspondente Pluct Plact, esse extraterreste expatriado, acha que não...

Sei que de confuso seu raciocínio não tem nada. Mesmo reclusa voluntariamente do outro lado do túnel, basta lembra-la que estamos as vésperas de mais uma eleição brasileira para que os parágrafos de abertura dessa cartinha passem a fazer todo sentido.

São as várias camadas paralelas de Brasis que se apresentam. Usadas como munição das metralhadoras giratórias pelos pretendentes ao poder.

Para uns, não falta pão. Outros desejam trazer de volta a fartura. O povo? Claro, sente falta dos tempos de churrasco e cervejada. Tem um Brasil em que a prosperidade está logo ali, outro que luta pela sobrevivência a cada bico. Tem aquele dos “empreendedores” e o da falta de empregos. Tem o dos 100 anos de sigilo e o que exige transparência. Muitos, de comum acordo, batem palmas e lutam por um lugar ao sol dos privilégios das emendas secretas. Uns por quatro, outros por oito anos. Quem é contra tudo isso é ouvido, pouco compreendido e quase nada levado a sério.

Como disse, cronista amiga, são vários tempos paralelos, com personagens que se repetem, mas não têm o mesmo comportamento dentro de cada dimensão.

Um exemplo? Ulstra. “Herói” para uns, torturador segundo os registros históricos. Paulo Freire pode ser um educador genial ou um desagregador de famílias. Ah, as famílias... com ou sem diversidade?  

Todas essas informações contraditórias bombardeiam a cabeça dos eleitores que, em seus processos mentais individuais ou coletivos, tentam depurar tantas ideias e conceitos divergentes.

Querida amiga, agora é guerra aberta e declarada. Direta e subliminar. E eu aqui, tentando explicar esses eventos nas esferas interplanetárias. Uma complicação. Em alguns momentos, inclusive, chegam a duvidar de meus informes.

Apesar do termo ser desconhecido por lá, acham que é impossível esse nível de volatilidade das informações que envio e armazeno em nossos bancos de dados intergalácticos. O que fiz? O mesmo que estão fazendo aqui. Sugeri um sistema de checagem. Pode ser que entendam a força e o alcance maléfico das fakenews.

Antes me despedir quero pedir desculpas, parceira enclausurada, por ocupar nossa comunicação pelo raio de luar que invade a sua cela com tão poucas e específicas notícias do lado de cá. Tenho um objetivo. Começar a prepara-la para o que já é.

Setembro está aqui. Em todas as dimensões de tempo e espaço. Com os 200 anos da Independência e o coração (partido) de Dom Pedro I já circulando. Sendo exibido pelo Brasil. Não, não estou delirando. E tenho uma confissão a fazer. Ouço o que ele murmura em seu percurso involuntário.

Dele, vem um solfejo. Demorei a reconhecer a canção que, um dia, você me apresentou. É de Chico Buarque e diz assim: “Deixa em paz meu coração/Que ele é um pote até aqui de mágoa/ E qualquer desatenção/ Faça não/ Pode ser a gota d’água.../   

*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Crônica da série “Fábulas Fabulosas” do SEM FIM... delcueto.wordpress.com


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