Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: 02/02/15

2 de fev. de 2015

Procissão de Navegantes - Uruguaiana, 02 de fevereiro de 2015.













Herança, por Gabriel Novis Neves


Herança 
No processo de formação das nossas crianças valorizamos mais a parte de ensino que a cultural. Só pode ser um vício adquirido durante nossa longa colonização. 
Quando Ceremecê, o grande chefe Xavante, afirmou ao seu povo que ninguém ensina o que não sabe, queria dizer que só o conhecimento da aprendizagem, pesquisa e cultura, formariam o ingrediente de uma sólida formação. 
Captamos essa sensibilidade educacional dos chamados povos das florestas e a utilizamos como modelo da recém-nata Universidade Federal de Mato Grosso. 
Invertemos o binômio “ensino e pesquisa” para “pesquisa e ensino”. Mas, não nos descuidamos da parte cultural. 
A primeira obra da UFMT foi o Museu Rondon, em uma clara sinalização dos nossos interesses e respeito aos primeiros donos da terra. 
Linearmente, avançávamos na pesquisa para criação de novos cursos de ensino dentro da nossa realidade. 
A parte cultural evoluía com o aparecimento de novos museus, da orquestra sinfônica, da biblioteca, e até de uma escola de samba que, no dizer de Eduardo Portela, é a maior manifestação de cultura popular do Brasil. 
Difícil foi convencer o Ministério da Educação que, mesmo uma universidade com menos de dez anos de orçamento federal tinha, como uma das suas principais prioridades, a construção de um teatro. 
Entendiam que, naquele momento, o importante era o ensino tradicional com seus blocos de ensino, salas de aulas, carteiras e lousas. 
Já tínhamos a biblioteca central, de grande importância no período anterior ao advento da Internet. 
Descobrimos que o teatro vetado poderia ser viabilizado apenas com a mudança no nome do projeto: “Teatro Universitário” passou a ser chamado de “Auditório da Biblioteca”. 
Aprovado, o novo teatro foi entregue como instrumento de formação dos nossos jovens no dia 26 de janeiro de 1982, por ocasião da Reunião do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB). 
“Cultura é grosseiramente qualquer coisa que nós fazemos e os macacos não fazem”. Lord Raglan (1788-1885). 

Férias, por Gabriel Novis Neves

Férias 
Para as classes mais favorecidas economicamente férias é sinônimo de viajar. 
Quanto mais elevado o cartão de crédito, mais distante é o lugar escolhido para o descanso, apesar de termos, muitas vezes, de enfrentar até vinte horas de avião. 
Acho salutar um corte nas atividades diárias para momentos de lazer. No entanto, sabemos que não há nada mais trabalhoso do que o planejamento das sonhadas férias. 
Fico sem saber o que é mais gratificante: se a partida para o sonho de um descanso inexistente ou o reencontro com a realidade no retorno. 
Aeroportos lotados e inadequados. Voos atrasados. Informações incorretas. Filas para embarques, desembarques. Espera das bagagens e para compra do ticket do táxi. 
No hotel, fila para o check-in na recepção. Fila para o restaurante, teatro, cinema. 
É tanta gente, que nos impede de conhecer gente. 
No final das férias o “fenômeno” se repete com o aparecimento do tédio da espera da chegada em casa, para, finalmente, uns dias de férias... 
Férias rima com despojamento, relax, preguiça, esquecimento, desrespeito aos horários, simplicidade, ócio, desejo de não fazer nada. 
Por que então complicamos tanto este período que nos é oferecido para nada fazer que lembrasse trabalho e, muito menos, atividades compulsivas? 
Ao contrário, programamos trabalhos exaustivos como o abre e fecha das malas cheias de bugigangas, noites curtas de sono, atividades esportivas exaustivas, exposição excessiva ao sol, enfim, todas as tentativas de preenchimento do nosso vazio interno, resultado de uma vida desperdiçada por um trabalho que, muito frequentemente, não nos dá prazer. 
O pior é quando, para complicar, escolhemos países de clima antagônico ao nosso. 
A mão de obra aumenta, assim como a saudade da vida caseira que trocamos pelas férias desastrosas. 
Tudo isso sem falar no sentimento de culpa que o lazer geralmente traz à grande maioria das pessoas. Condicionadas desde sempre a funcionarem como mãos de obra ativa sentem-se desconfortáveis logo após os primeiros dias com possibilidade de ócio criativo. 
Férias são para feriar, e não, trabalhar de viajar.

Gatão de Meia Idade - a corrupção...