Perda total
Texto e foto de Valéria del Cueto
Cronista, cronista... O mundo voando baixo desgovernado e
eu rezingando pra contar as novidades. Me sinto TÃO humano, tão pouco
extraterrestre. É que os fatos estão atropelando o tempo que corre cada vez
mais. Sem dar conta de abarcar os acontecimentos.
O que me faz pensar na vida mansa dos escribas do antigo Egito,
por exemplo, em comparação com a tarefa insana dos que têm que registrar as
efemérides (palavra antiga, mas cheia de conteúdo, que não perde a importância)
atuais. Piscou? Já mudou ou perdeu o significado. Não a palavra, mas os
eventos. É como se o ser humano estivesse num redemoinho em direção ao fundo de
um espiral cada vez mais apertado e veloz. Lascou, né?
É nesse mundo, do qual você voluntariamente se isolou, que
sigo pluctaplacteando pra cima e pra baixo sem conseguir romper essa camada estratosférica
e seguir viagem. Agora, então... Cheguei à conclusão que me querem aqui. Nada
explica essa falha persistente em minha nave. Já tentei, inclusive, o auxílio
da queridinha do momento, a AI, Inteligência Artificial. Ai, ai, Iaiá. Ainda
não tem AI pra tudo.
Como todo bom ser humano, as Ais disputam uma corrida
insana para o aprimoramento de suas “inteligências”. Agora, o Bard do Google
chega ao Brasil e a UE, União Europeia. Pra lhe informar, Elon Musk, dos carros
voadores, das viagens espaciais, da incrível desconstrução do bom e velho
twitter (que você usou desde 2008, quando ainda se socializava com esse planeta),
o que chamou Zuckerberg para a porrada, como contei na última cartinha, vem com sua
Xai, quer dizer xAI. Tão Eike Batista com seus Xs. Aquele que, entre outras
façanhas, repaginou o lindíssimo Hotel Serrador (SQN)
Opa! Você sabe o que é SQN (Só Que Não)? Pergunto por
constatar que fazem quase 10 anos (eu disse 10 anos!) que nos comunicamos pela
primeira vez. Tanta coisa mudou de lá pra cá querida cronista que tão bem me
recebeu quando comecei a pipocar nesse planeta. Tem até quem ache que o mundo
começou um pouco antes disso!
Enquanto parte dos humanos navega por mares das redes
sociais, compara e alimenta as AIs, sem entender o alcance das ferramentas, (como
a do bilionário que quer “entender a verdadeira natureza do universo”) e, para
isso, gasta fortunas incalculáveis, o planeta agoniza. Ciclones varrem
continentes, o calor assola o hemisfério norte e por aí vai. As guerras? Aos
montes. Há, inclusive, a “ameaça” de deflagração da terceira mundial. É
justamente ela, a natureza mencionada agora a pouco que manda alertas que,
parece, não surtam efeitos práticos.
Além das atrocidades humanas cada vez mais bárbaras, já
que instrumentalizadas com requintes de covardia, é a vez do mundo animal,
especialmente os marinhos, se manifestarem e intrigarem os humanos. São as
orcas que atacam barcos pesqueiros. Será por que, cara cronista, perguntam os
cientistas? Tem gente esperando que as Ais respondam...
Tirei um sorriso do seu rosto, não é, amiga?
Vou tirar outro quando contar que vem do seu amado Mato
Grosso a nova modalidade de estupidez legislativa. Um personagem patético que
os votos dos eleitores da capital do estado de políticos como Dante de Oliveira
(sempre lembrado por sua emenda das Diretas Já que mobilizou o país pelo fim da
ditadura), quase levou à prefeitura de Cuiabá há 3 anos atrás.
Cronista, devia ter sido eleito. Sua performance
escalafobética estaria restrita ao âmbito municipal e seria uma confirmação do
ditado que diz: “quem pariu Mateus que o embale”. Como não ganhou em 2020,
eleito deputado federal, assombra as sessões legislativas federais.
Usa, entre outros artifícios, o bordão do professor Enéas,
repetindo em suas lacrações, quer dizer, gravações, a abertura “meu nome é
Abílio”. Feio, cronista, muito feio seu papel e dos marqueteiros que chuparam o
mote. Há uma diferença primordial entre os dois personagens. Um era
inteligente, um cientista. A cópia fake, para não usar adjetivos degradantes, é,
no mínimo, tosca. Tosca mesmo. Sem pudores ou vergonha.
A única esperança para quem acompanha os trabalhos
legislativos federais é que a triste figura se lance novamente candidato a prefeito
de Cuiabá. Se ganhar o pleito livra Brasília e o Congresso de sua presença
inconveniente, vergonhosa e nada propositiva. Mato Grosso jogou fora a chance
de contribuir com o aprimoramento do sistema democrático brasileiro ao eleger
como um de seus representantes uma caricatura de maus modos.
Não há AI capaz (ainda) de tal feito. Foram os eleitores
mato-grossenses mesmo...
*Valéria del Cueto é jornalista e fotógrafa. Essa crônica faz
parte da série “Fábulas Fabulosas”, do SEM
FIM... delcueto.wordpress.com